quarta-feira, 14 de março de 2012

Bancos Zombie

A UBS calculou os montantes que diferentes bancos europeus pediram emprestado ao BCE a três anos com 1% de juro. Os bancos portugueses estiveram no pelotão da frente. BCP, BES e BPI conseguiram à volta de 26 mil milhões de euros através destes empréstimos. O negócio não é nada mau. À conta do crédito público, a banca consegue refinanciar os seus activos pelos quais cobre juros indexados à euribor (cujo valor a um ano está nos 1,5%) acrescidos da sua margem (spread) cujos valores têm disparado. O “famoso” crédito às pequenas e médias empresas é o mais caro da zona euro.

Estamos pois perante bancos zombie, que só sobrevivem e reestruturam os seus balanços à custa do crédito público e do negócio chorudo que este possibilita. O prémio de "banco zombie europeu" vai mesmo para o BCP, que tem à volta de 17% dos seus activos financiados pelo BCE.



Claro que sabemos que a subsidiação pública da banca não fica por aqui. Com os critérios internacionais para necessidades de capital próprio a tornarem-se mais exigentes (uma mudança muito discutível no conteúdo e na oportunidade), a banca portuguesa tem duas hipóteses: ou reduz o tamanho dos seus balanços e consegue um rácio mais alto com o mesmo capital, ou se recapitaliza. O Estado tem 12 mil milhões de euros (novo endividamento junto da troika) reservados para este destino. Como a recapitalização implica uma desvalorização das actuais acções, os bancos optam pela redução dos seus balanços. Esta desalavancagem não traria problemas em si mesmo para a economia portuguesa se, por exemplo, fosse feita através da venda de activos estrangeiros. No entanto, o que mostraram os recentes relatórios de contas é uma redução do crédito doméstico, afectando de forma desproporcionada as pequenas e médias empresas. Entretanto, o estado já fez saber que a inevitável recapitalização pública será feita de forma a que o estado não tenha qualquer palavra na política de crédito e protegendo, na medida do possível, os actuais accionistas.

Em suma, temos instituições privadas que, não podendo ir à falência, beneficiam de forma maciça de financiamento e capital público, sem qualquer contrapartida. Serão precisos mais argumentos para o imediato controlo democrático destas instituições? E, não, ninguém está aqui a advogar uma enorme CGD. O banco público, imbricado no tráfico de influências político, é regido como uma instituição privada donde o Estado retira dividendos. Será melhor do que um banco privado, mas a opacidade da sua gestão e a falta de supervisão democrática impede que este banco seja o modelo de uma política de crédito que contribua para o desenvolvimento do país. A nacionalização da banca é, pois, condição necessária, mas não suficiente, para a colocar ao serviço da economia.

2 comentários:

Miguel disse...

Não creio que nacionalizar a banca seja necessário. Tendo uma caixa geral de depósitos a fornecer empréstimos acessíveis e que não sejam ruinosos para as pessoas e que exijam regras muito duras a definir em que condições o empréstimo aos bancos deve ser feito que a banca entrava nos eixos. Ou seja, acredito que a nacionalização por si é só um nome (Veja-se a CGD). O que necessitamos é regulação.

Anónimo disse...

MAS A NACIONALIZAÇAO DA BANCA SO POR SI NAO RESOLVE O PROBLEMA E NAO SERIA NECESSARIA SE ANTES SE RESOVESSE O PROBLEMA DA CRIAÇAO DO DINHEIRO.
AQUI ENTRA A QUESTAO DA SOBERANIA CUJA NAO VEJO DISCUTIDA NEM SEQUER PELAS FORÇAS DITAS DE ESQUERDA.
OU OS ESTADOS SAO SOBERANOS NA EMISSAO DE MOEDA OU TUDO O RESTO E UMA FALACIA.