Quem tem poder?

Como explicar a força das irracionais políticas de austeridade orçamental, cujos efeitos macroeconómicos são visíveis na recessão das periferias europeias e na desaceleração do crescimento no centro, acompanhadas de uma política monetária europeia obcecada com uma inflação que permanece baixa e que é gerada pelo aumento dos custos das matérias-primas, estranha prioridade quando estamos em contexto de desemprego de massas? Inspirado pelo artigo de Robert Kuttner, cuja tradução se recomenda, Paul Krugman entra no campo da economia política radical, a que vai às raízes da questão económica: é o poder dos credores, o chamado rentismo financeiro, que explica esta viragem. A “era das trevas da macroeconomia” seria a sua expressão ideológica, um erro intelectual com bases bem materiais, digamos. Sempre que o pêndulo oscilou na direcção dos interesses míopes dos credores, o lastro do passado sobrepôs-se à necessidade de construir as bases de uma economia futura mais produtiva, isto para retomar os termos de Kuttner. Não é por acaso que Keynes insistia na necessidade de assegurar a “eutanásia do rentista” com uma política de juros baixos e de controlo de capitais para evitar os abusos a que a finança é propensa. No pós-guerra, a hegemonia destas ideias keynesianas assegurou tranquilidade financeira e prosperidade partilhada. Agora, continuamos a recuar na política económica, mas estamos, pelo menos, a recuperar conhecimento perdido: no seguimento de crises de dívida, “ou a classe dos credores prevalece à custa de tudo o resto ou o governo encontra formas de reduzir o fardo da dívida para que a economia possa recuperar”. Reestruturações há mesmo muitas. O importante é que sejam bem feitas. E já que estamos a falar de coisas bem feitas, não deixem de ler a carta fraterna e sensata que Yannis Varoufakis escreveu ao seu amigo George Papandreou...