As eleições de Domingo passado representaram uma derrota estrondosa para a esquerda, que além de ter passado de 31 para 24 deputados não conseguiu evitar a vitória do partido com o mais radical programa neoliberal alguma vez visto em Portugal. Representaram, também por isso, uma derrota para todas as pessoas e movimentos sociais progressistas, que se esforçam por construir colectivamente um país mais justo, mais coeso, mais decente.
Porém, quer esta derrota dizer, como pretende alguma direita mais alarve, que a maioria da população portuguesa é por inerência favorável a cada uma das suas propostas? À privatização da saúde e da educação? À extensão das propinas a todos os níveis de ensino? À privatização da Caixa Geral de Depósitos, abdicando de todo e qualquer tipo de presença pública no sector bancário (excepto na hora de socializar as perdas)? À redução dos apoios sociais? Ao aprofundamento da desigualdade pela via da compressão salarial? À liberalização dos despedimentos? À bovina aquiescência que faz os sonhos molhados das nossas elites medíocres?
Claro que não. Se não acreditam, referendem cada uma dessas coisas. A esquerda progressista falhou pois não foi suficientemente eficaz na explicação e divulgação das alternativas que existem. Nostra culpa. Mas quem dos resultados destas eleições inferir a vitória incontestada de um projecto social bárbaro e predatório vai ter surpresas nas ruas, nas escolas e nos locais de trabalho. É uma promessa.
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14 comentários:
Não acho que tenha sido por falta de eficácia "na explicação e divulgação das alternativas" que a esquerda falhou, já que as mesmas foram bastantes divulgadas e faladas. Penso que hoje,apesar da iliteracia e do analfabetismo funcional, a maioria dos cidadãos para quem a esquerda fala percebe, só que deixar de ser súbdito exige esforço extra...
O que me apetece dizer é que o voto deve ser exercido com responsabilidade, dos cerca de 25% da população portuguesa, que desejou o mal dos outros, aprovando um projeto neo-liberal, não me apetece ter pena quando sentirem na pele os resultados daquilo em que votaram...
Este sentimento da minha parte, não durará muito, e vou-me revoltar mediante as injustiças que se preparam...mas até ver, sinto-me ofendido!
É evidente que o facto da direita ter ganho as eleições de modo algum quer significar que eles podem fazer o que lhes apetece.
Desde logo porque as eleições não são nenhum referendo ás suas politicas. Façam eles, por ex, um referendo sobre o SNS e logo vêem o resultado.
Depois, convém não esquecer, a abstenção atingiu os 41,1%, numero record, que diz bem sobre a qualidade da nossa democracia.
Quem escolheu não foi a população - já para não falar da maioria da abstenção - quem ganhou foi a propaganda dos grandes grupos económicos. Eis uma ocasião em que a Soares a boca lhe fugiu para a verdade:
Mário Soares no Programa "Prós e Contras" [27-04-2009]:
Mário Soares: [...] «Pois bem, agora um jornal, não há! Uma pessoa não pode formar um jornal, precisa de milhares de contos para formar hoje um jornal e, então, para uma rádio ou uma televisão, muito mais. Quer dizer, toda a concentração da comunicação social foi feita e está na mão de meia dúzia de pessoas, não mais do que meia dúzia de pessoas.»
Fátima Campos Ferreira: «Grupos económicos, é?»
Mário Soares: «Grupos económicos, claro, grupos económicos. Bem, e isso é complicado, porque os jornalistas têm medo. Os jornalistas fazem o que lhes mandam, duma maneira geral. Não quer dizer que não haja muitas excepções e honrosas mas, a verdade é que fazem o que lhes mandam, porque sabem que se não fizerem aquilo que lhe mandam, por uma razão ou por outra, são despedidos, e não têm depois para onde ir.» [...]
Correctamente, a esquerda não falhou, mas o milhão de eleitores indecisos é que fez este volte-face estrondoso, tudo por causa do "Socrates" e as suas politicas mentirosas, mas pensarão estes indecisos que votarem no PSD/CDS os vai tornar mais felizes... bem vamos aguardar pelo desenrolar dos acontecimentos e quando a angústia lhes for evidente pela asneira feita já não haverá volta a dar... como diz a sabedoria do Povo " torcem a orelha mas já não deita sangue"...Sinto-me verdadeiramente triste!
A justeza das lutas passadas, a sua expressão e organização,em termos meramente eleitorais, são prova de que há um tempo para a luta e outra bem diferente para a opção pelo voto, e isto a os tres partidos do chamado arco do poder já perceberam Há séculos: Talvez desde da chamada revolução de Maio de 68. Quanto às futuras lutas, elas serão o resultado de muito descontentamento,de fruto um enorme esforço organizativo das organizações do costume, que em momento eleitoral vêm o sonho da coerência permanente transformar-se num corropio de votos para os que foram responsáveis pelo desagrado que justificou a luta ou para ò pote dos brancos, quando não da abstenção.Por que será?
Correr com o Sócrates e o seu compadrio, incompetência, despesismo, arrogância, centralismo, etc. foi um acto de inteligência.
Esta conversa é daquele género que o povo classifica como " sopas depois de almoço"...Então não foi "esta esquerda" que fez tudo quanto podia para abrir passagem à vitória da direita ? Qual a noção de compromissos democràticos que têm ? É do género tudo ou nada ? Trancando as portas a entendimentos ao centro e auto excluindo-se de assumir responsabilidades de governação, queriam que a malta fosse votar em quem ? E continuam a achar que têm razão ? Muto estranho...
MRocha
Eu acho que é possível dizer qualquer coisa assim parecida:
- as alternativas (mesmo para os proponentes) tinham grandes dificuldades em serem implementadas em primeiro lugar porque não estando o PS disponível para discutir nenhumas delas e não conseguindo nem o BE nem o PCP força política suficiente para implementá-las, as alternativas não iriam ser aplicadas a não ser no tempo, quando e se a direita e o PS assim quiserem. Portanto, ou eram alternativas que poderiam fracturar o consenso estabelecido e que pelo menos uma parte do centro político quisesse acolher ou não eram viáveis. Quero com isto dizer, que os eleitores foram votar em boa parte não para avaliar o valor intrínseco das alternativas (até porque em verdade muitos não as conheciam) mas para encontrar saídas políticas para a crise. Acho que uma avaliação real das alternativas deve ser feita não apenas em função da sua aplicabilidade no plano técnico (se elas estavam bem construídas e fundamentadas) mas igualmente em função da sua viabilidade e aceitação por parte da opinião pública, que vai influenciar o eleitorado.
Rui Santos
Quem na praça o veste, na praça o despe!
Curioso que a generalidade dos comentários diz que os eleitores foram pouco inteligentes, que escolheram mal, e que agora é que vão ver o que lhes acontece. É locus de controlo externo no seu melhor, e a garantia de que a esquerda vai continuar a ser injustiçada, incompreendida e ... não votada.
A esquerda falhou porque está partida e isolada em feudos privados. Nenhum dos partidos de esquerda se coliga com quem quer que seja, nenhum dos partidos de esquerda oferece uma possibilidade de governação estável, logo nenhum dos partidos de esquerda oferece o que o povo português sempre gostou: liderança firme.
Claro que vão continuar a falar das suas causas, uns dos despedimentos com ou sem causa, outros da guerra patronato-proletariado. Claro que vão continuar a ser inconsequentes. E claro que vão continuar a ser não votados por um povo que só vota útil.
Professor na minha perspectiva a direita não ganhou. O PS é que perdeu, perdoem-me o desprezo pelos partidos/coligações radicais de esquerda (Bloco E CDU, que se quiseram afastar da resolução do problema, tentando vender soluções de banha da cobra a quem de economia nada percebe (o povo português em geral, basta ver o nível médio de conhecimentos em matemática). afirmo que foi o PS que perdeu porque o Eng. Técnico José Sócrates não conseguiu limpar a sua imagem de corrupto (não que o seja), suja pelos seus "amigos" com casos em tribunal, e fez uma figura patética e antipatriótica, quando decidiu forçar a oposição a derrubar o governo por forma a poder culpa-la pelos seus erros. já não é a primeira vez que um socialista faz isto (relembro Jorge Sampaio que em vez de convocar eleições aquando da saída de Barroso, decidiu esperar que fosse eleito no PS um líder capaz de ganhar elisões e limpar o fantasma da pedofilia, para então derrubar o governo) é caso para dizer que o país não ganha com uma esquerda que invés de defender os interesses da nação, está minada por uma maçonaria irregular desprezível (GOL) que se comporta como uma organização de crime organizado). Eu sou por Portugal, eu sou pela Europa, Eu respeito e aprecio a Maçonaria (Regular) e os ideais Sociais-democratas da esquerda moderna. Dito isto nunca poderia votar nesses desprezíveis seres que compõem, não as bases, mas o núcleo duro do PS.
Caro Alexandre
Isto é evidentemente uma longa conversa, mas destaco:
1) Necessidade imperiosa de concertar esforços n'A Esquerda (BE+CDU+... MRPP?). Cada uma dessas entidades deverá, evidentemente, poder continuar a sê-lo, a achar-se melhor do que todas as demais, etc. "Cada loco con su tema". O importante é mesmo: concertar esforços, concorrer em conjunto, apresentar-se ao eleitorado como uma Frente Ampla ou algo de análogo;
2) Uma vez isso ultrapassado, resta evidentemente vencer a hostilidade generalizada dessa coisa a que se chama "os media". Isso só poderá vir com o tempo, evidentemente. Muita paciência (mas também muita astúcia e muito "jogo de cintura") é requerida, e não é fácil entrar aqui em detalhes. Mas uma coisa que deve evitar-se nessa matéria é, decididamente, andar a reboque dos tais media, dos "opinion-makers", etc. Só se pode lidar com esse "beau monde" pegando-lhe "com pinças" e não deixando-se ir nas suas conversas.
3) Com mais fôlego, ir pensando não apenas no "resgate" do FMI e nas suas condições, mas também no significado profundo do Euro e dos tratados correlativos, e talvez na própria pertença à UE. Quanto a isto, continuo a achar que o Lapavitsas tem razão nas suas alegações fundamentais: o tal "bom Euro" talvez não passe, de facto, duma miragem: http://internationalviewpoint.org/spip.php?article2091
4) Trazer para o centro do debate também a pertença à NATO. A economia é decerto muito no debate político, mas "nem só de pão...", e uma "esquerda" defensora de "intervenções humanitárias" e "no-fly zones" não é - desculpem lá, mas não é - de todo esquerda. Não passa duma impostura miserável, e merece tanto que se tenha pena dela como o Sócrates, coitadinho, a choramingar, com "mais encanto na hora da despedida". Se toda a "esquerda" for assim, prefiro sinceramente ficar sozinho: "je suis d'un autre monde que le vôtre", etc.
É claro que isto vale o que vale, assumo-o: pode ser só mesmo um desabafo estritamente pessoal. Mas garanto-lhe que pelo menos é autêntico. Existem coisas para as quais, decididamente, já não há mesmo "saco" nenhum...
A interpretaçäo política é clara: troika e da forte pra cima desta gente. Se é o que o povo quer, que se lhe dê, que realmente o programa neoliberal do PSD é claríssimo, portanto, näo têm desculpa se se sentirem enganados.
Mais ainda, a partir de agoracontestaçäo na rua é TARDE PIASTE. O Cavaco näo avisou no dia da reflexäo que quem se abstém näo pode depois criticar quando doer? O gajo avisou... abrissem os olhos!
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