quarta-feira, 29 de junho de 2011

Catálogos

O programa do governo é um conjunto de quatro catálogos. O primeiro catálogo é para a maioria da população e promete viagens, em turística, com um único destino: a Grécia do círculo vicioso de austeridade, recessão, desemprego, nova ronda austeridade, até ao estoiro final. O segundo catálogo é para grupos económicos, sobretudo estrangeiros, em busca de rendas e promete vender, com desconto, activos estratégicos do Estado, com excepção de uma CGD diminuída. O terceiro catálogo promete dar um novo impulso ao inventivo e gradual processo de fragilização, em parceria com privados, dos serviços que constituem o núcleo central do Estado social: centros de saúde à venda, contratos de associação nas escolas, concessões, fornecimento de mão-de-obra grátis para o assistencialismo. Na segurança social pública serão feitos todos os investimentos intelectuais e políticos para a reduzir a um programa assistencial. Haja imaginação neste parque de diversões que fará as delícias de grupos financeiros bem graúdos e de algumas instituições de caridade miúdas. O último catálogo promete criar todas as condições para que os trabalhadores vendam a sua força de trabalho por um salário directo e indirecto mais baixo e com condições de trabalho menos seguras: precariedade renovada, trabalho temporário incentivado, despedimento mais fácil e barato, horários cada vez mais baralhados. É um catálogo para patrões medíocres. Quatro catálogos que compõem um país socialmente ainda mais injusto e uma economia ainda menos civilizada. O que fazer? Dar uma olhadela aos quatro catálogos, perceber a sua lógica global, e deitá-los fora. Na reciclagem, não se esqueçam.

6 comentários:

Semisovereign People at Large disse...

reciclagem é um negócio que dá milhões ao capitalismo nacional

o melhor é fazer como os gregos e acendê-los para queimar caixotes de lixo

ou como 20 mil casas não têm nem luz nem gás a cause das greves
acender fogueiras para os Et's virem buscar os escolhidos

Pedro Veiga disse...

Já perdi a conta ao número de PEC'S. O mais estranho de tudo é que não sabemos e, provavelmente, nunca saberemos para onde irá o dinheiro que nos estão a roubar e que nos irão roubar ainda mais. Eu não entendi bem o que se passa com o deficit: será que a derrapagem já resulta do efeito da recessão em que se encontra o nosso país? Será que resulta da necessidade de ter que tapar o buraco do BPN e outros semelhantes? Será que é para pagar os submarinos? Será que resulta dos buracos orçamentais de algumas empresas públicas e municipais (geridas por equipas de corruptos)? Será? Será?
Como contribuinte, deveria ter o direito de saber para onde vai o dinheiro.
Entretanto o circo prossegue com a venda de todo o nosso património. Já vão vender até as águas de Portugal (é o que se fala e se escreve por aí). Seguir-se-à, provavelmente a venda do património natural. A nossa faixa costeira e as reservas naturais estão muito bem cotadas nas bolsas dos especuladores turístico-imobiliários. Prepare-mo-nos, ò portugueses, porque a maré vai subir e muito!

Fernando Torres disse...

Análise clara e bem estruturada. Subscrevo.

Paulo Pereira disse...

Gostaria de saber como se arranjam empresários não mediocres, quando a maioria dos licenciados e doutorados não quer ser empresário.

Anónimo disse...

Senhor Paulo Pereira quando fala em mediocridade não sei exactamente ao que se está a referir mas se é na capacidade de olhar para os outros como seres respeitáveis tenho-lhe a dizer que as licenciaturas e os doutoramentos por si só não purificam ninguém...

Dias disse...

Pelo catálogo vê-se que esta terra de oportunidades vai vender tudo e mais alguma coisa, e por tuta e meia. Consta até que há um extra: ALLGARVE.

O Algarve, apontado como lugar de repouso dos reformados ricos da Europa, vai gerar boas perspectivas de emprego para a juventude, e não só (camareiros, homens de limpeza, criados de mesa, acompanhantes).

Depois da fase de bom aluno, este país atinge a plena maturidade…Brilhantes.