quarta-feira, 22 de junho de 2011

Há sempre alternativas

No Público:

“Portugal deve constituir um caso positivo para que possa continuar o reforço de políticas que conduzam a estabilização da zona euro e que, por outro lado, através da execução do memorando Portugal possa acompanhar os objectivos da União Europeia no crescimento económico”, afirmou aos jornalistas Maria de Belém, ao lado de José Lello e de Vitalino Canas, ambos membros do secretariado nacional cessante do PS. A reunião pautou-se por uma “coincidência de objectivos” entre socialistas e o Governo, acrescentou a líder parlamentar interina.

Os dois candidatos à liderança do Partido Socialista já confirmaram o seu apoio à execução do memorando anexo ao empréstimo da UE/FMI. E Maria de Belém, líder parlamentar interina, confirma que há "coincidência de objectivos" com o actual governo.

Até agora, não me recordo de ter ouvido qualquer alto dirigente do PS manifestar sérias reservas às políticas impostas no memorando. Pouco importa que inúmeros académicos escrevam nos jornais europeus de referência que o memorando vai impedir o País de crescer e, por isso, não vai resolver o problema do nosso endividamento. Pouco importa que a teoria económica que o sustenta não tenha qualquer credibilidade e, nas palavras de Paul Krugman, pertença à "idade das trevas". Pouco importa que a Grécia, à espera de mais um empréstimo e da correspondente nova dose de austeridade com privatizações, de algum modo prefigure o caminho que nos espera.

Até quando vão os dirigentes socialistas iludir-se, e tentar iludir o povo português, com a ideia de que tudo vai correr bem, que Portugal vai ser um caso positivo?

Quando estiver à vista que, apesar da gravosa recessão e da dramática subida do desemprego, o País continua a não poder pagar os juros que o mercado financeiro exige, o Partido Socialista vai ter de se confrontar com uma dura realidade: a de que deitou fora os ideais da social-democracia e submeteu os interesses dos mais desfavorecidos e de boa parte da classe média aos interesses do capital financeiro.

Nesse dia nenhum alto dirigente do PS poderá vir dizer que tinha dúvidas sobre o caminho que o partido escolheu. Sim, escolheu. É que o futuro nunca está escrito de antemão. Há sempre alternativas.

8 comentários:

P.A. Lerma disse...

claro que há houve sempre suicidas

ou gente que vendeu a sua liberdade a outros em troca de protecção do seu nível de vida

1640 provavelmente foi um erro
a alternativa de 1810 foi má
in 1926 foi execrável
1974 foi péssima
1975 foi estúpida

é o problema das alternativas são sempre más ou piores que isso

só os cavaleiros ganham algo com as alternativas

nunca um peão de brega ganhou mais do que trocos

Carlos Albuquerque disse...

Nas eleições, já com o acordo da troika divulgado, mais de 78% dos portugueses votaram nos partidos que assinaram o acordo.

Não seria de levar isso em conta?

Luis Gaspar disse...

Bravo.

Sauron disse...

Se não conhece o conteúdo do memorando, e por isso estudou as medidas e estrapulou as possíveis consequências, então porque se queixa ?
O memorando é positivo no geral, pois toca onde deve: no despesismo do estado. Se não houvesse memorando, continuávamos a gastar o que tinha havido e o que não havia, para manter a mesma incompetência. É preciso vir a UE cá a Portugal para dizer como se governa: um atestado de incompetência ao PS. E a nossa situação é bem diferente da Grega.

L. Rodrigues disse...

O despesismo do estado é irrelevante quando comparado com o "despesismo" dos privados. O investimento de cerca de 90% do crédito nos ultimos 10 anos em consumo e habitação deu nisso. João Ferreira do Amaral parece ter posto os pontos nos is, ontem na sic notícias.

Paulo Pereira disse...

Só haveria alternativas se o governo anterior do Sócrates não tivesse sido tão incompetente e irresponsável , quase duplicando a divida do sector publico em 6 anos e meio.

O crescimento do crédito foi apoiado pelo mesmo governo e pelo banco de portugal chefiado pelo incompetente do Constâncio.

Anónimo disse...

para CARLOS ALBUQUERQUE:

...mais de 78% dos portugueses QUE VOTARAM ! Assim devem ser feitas as contas. O resto são leituras institucionais que nada têm a ver com a aritmética !.

Tomás Guevara disse...

Há alguns que não sabem o que escrevem ou cuja memória não funciona bem.Confundem eleitores com votantes.Confundem divida privada com dívida pública.E querem que nos esqueçamos quem foram os grandes promotores de tal divida,com o poder financeiro agora protegido por este governo neo-liberal,na primeira fila dos responsáveis.A construção civil,os bancos,o PS,o PSD ( e o seu banco privado) todos juntos avidamente a cozer as negociatas em lume brando.Cavaco o rei do betão,o célebre introdutor daquele crime económico chamado parceria público-privada.E agora os que traíram,com a troika amancebados, querem que seja o erário pública a pagar as privadas negociatas.Já com o BPN fizeram o mesmo.Os prejuízos foram nacionalizados,os lucros privatizados.E cavaco, presto, apressou-se a assinar o tal decreto-lei num tempo recorde.A factura sobrou para o portuga,claro.Cavaco parece que ganhou bom dinheiro com acções "particulares"