segunda-feira, 27 de junho de 2011

Desaprender

Carlos Cipriano, jornalista do Público, tem escrito, em primeira mão, a triste história do desmantelamento da rede ferroviária nacional. Em parte devido ao encerramento de centenas de quilómetros de linhas, os caminhos-de-ferro perderam 99 milhões de passageiros em duas décadas, uma redução de 43%. As políticas públicas privilegiaram o transporte rodoviário privado e isso teve tradução nas estatísticas: entre 1990 e 2004, o uso de comboio passou de 11,3% para 3,8%, o uso de autocarros de 20,5% para 11,1% e o uso do automóvel de 54,6% para 68,7% nas “preferências” dos cidadãos. Estas preferências são então sempre condicionadas por escolhas políticas, moldadas por poderosos interesses empresariais, a montante. Portugal tem agora 20 metros de auto-estrada por Km2 (a média europeia é de 16 metros) e na rede ferroviária tem 31 metros por Km2 (a média europeia é de 47 metros). As contas externas e o ambiente agradecem o desinvestimento no transporte que só poder ser público, o que também explica parcialmente o peso dos combustíveis no orçamento dos portugueses registado há poucos anos: 5,2% para uma média Europeia de 3,3%. E agora? Agora, vamos persistir no erro, graças à austeridade selvagem, que também vai desmembrar a CP, entregando aos privados os lucrativos comboios suburbanos: estudo entregue à troika propõe fecho de 800 km de linha férrea. A lógica, para retomar uma vez mais os termos de Tony Judt num ensaio sobre caminhos-de-ferro, é a de desaprender “a partilhar o espaço público para benefício comum”.

10 comentários:

Paulo Pereira disse...

A excelente gestão socialista da REFER e da CP desde 1995 dá nisto.
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Já viram o organigrama da REFER e da CP , com uma miriade de subsidiárias ?

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

Estas preferências são então sempre condicionadas por escolhas políticas,

estão só se for do Salvador Caetano que já em 73 vendia Toyotas e Datsuns como milho

e em 77 nem se fala e em 2002 era mudar de carro de 2 em 2 anos

moldadas por poderosos interesses empresariais, a montante?

foi? atrasos de 2 horas

greves durante meses na CP e na rodoviária nacional

obviamente o pessoal começou a preferir o pópó

dava mais liberdade sexual

e mandar fruta na cp resultava na chegada de fruta podre

em 83 de duas toneladas de ameixa
chegaram 200 quilos e muita água suja

e viva a cp

que não se responsabiliza por mercadorias perdidas roubadas ou restantes

quer reclamar

mande carta ao director que logo se vê

felizmente há livros de reclamações
infelizmente também não servem para nada
o papel é áspero...

Tomás Guevara disse...

A CP começou a ser alvo da fúria privatizadora dos governos do bloco central de interesses desde há já largos anos.Um tal pereira fala nos anos desde 1995.Claro que isso abrange os consulados de guterres e de sócrates mas também os de barroso e de santana lopes.Mas acontece que este pereira mais uma vez manipula.Quem começou por dar uma terrível machadada nas vias férreas?O sr cavaco,aquele que deu cabo do nosso aparelho produtivo, seguindo as orientações de bruxelas.O promotor do betão e dos quilómetros de auto-estrada,o introdutor em Portugal dessa aldrabice técnica do desvio dos dinheiros públicos para o bolso dos privados chamadas parcerisa público-privadas.O autor deste post de resto cita taxativamente o início dos anos 90 como a marca de mudança das escolhas políticas dos senhores do poder.Pereira agarra e tenta ir na marcha. Oportunisticamente passa para os anos 1995.Tenta que no barulho das luzes passe desapercebido o papel criminoso de cavaco na condução dos destinos do país.Debalde.O artigo é suficientemente claro e baliza com precisão o momento da viragem.Algum azar teve o sr pereira

Paulo Pereira disse...

O sr. guevara anda sempre a tentar branquear as asneiras dos governos socialista a ver se passa.
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O Cavaco já deixou o governo à 15 anos, acorde !
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Se o Cavaco fez muitas asneiras, o PS já teve 15 anos para as alterar, mas pelo contrário , os governos do PS foram os mais incompetentes e irresponsáveis , quase levaram o país e o estado social à bancarrota. Sócrates foi o pior primeiro ministro português da democracia!

Carlos Albuquerque disse...

Em 2009 alguns economistas criticaram TGV, auto-estradas e novo aeroporto.

Sobre as auto-estradas, o João Rodrigues fala neste post. Sobre o TGV, basta ver o que se passa em >Espanha.

Quanto ao novo aeroporto de Lisboa, o de Beja dá uma ideia do que poderia acontecer.

As dívidas das grandes obras que foram para a frente estão aí para pagar.

Pedro Veiga disse...

Tudo isto resulta de um mau planeamento e de um desconhecimento da realidade, que direi, que é muito conveniente para alguns...

João Pala disse...

Para pararmos com estes “atropelos” ao desenvolvimento regional e nacional, a Associação do Amigos do Concelho de Foz Côa “Foz-Côa Friends” irá realizar uma Manifestação na praça Humberto Delgado (Porto) pela Reabertura da Linha Pocinho-Barca d'Alva em 2 de Julho de 2011
O programa poderá ser lido em: http://fozcoafriends.blogspot.com/2011/06/manifestacao-na-praca-humberto-delgado.html

Não estamos sozinhos:

“A verificar-se a revitalização do troço Pocinho e Barca de Alva, encerrado desde 1987, haverá possibilidades de fazer do Douro um grande projecto de criação de emprego e de desenvolvimento económico”.
Prof. Dr. Augusto Mateus
Ex-Ministro da Economia

“A reabertura da fronteira do Douro constitui, em múltiplas vertentes, a oportunidade soberana para dotar toda a região de um eixo de circulação internacional, capaz de a reposicionar, de forma decisiva no mercado da Península Ibérica.”
Prof. Dr. Manuel Tão
Especialista em Economia de Transportes.

João Pala disse...

“Tal como Janus, o transporte ferroviário apresenta uma imagem ambivalente, em que coabitam modernidade e arcaísmo. De um lado, o desempenho da rede de comboios de alta velocidade e o acolhimento de passageiros em estações modernas; do outro, o arcaísmo dos serviços de mercadorias e a vetustez de algumas linhas saturadas, os passageiros suburbanos amontoados em comboios sobrelotados e cronicamente atrasados, que despejam multidões de passageiros em estações por vezes degradadas e inseguras.
Com 241 mil milhões de toneladas/km em 1998, contra 283 em 1970, a quota de mercado do caminho-de-ferro na Europa passou de 21,1% para 8,4%, numa altura em que o volume total de mercadorias transportadas aumentava de forma espectacular. Porém, enquanto o transporte ferroviário de mercadorias claudicava na Europa, florescia nos Estados Unidos, onde, justamente, as companhias ferroviárias tinham sabido responder às expectativas da indústria. Actualmente, o transporte ferroviário representa, nos Estados Unidos, 40% do transporte total de mercadorias, contra 8% na União Europeia. O exemplo americano demonstra que o declínio do caminho-de-ferro não é uma fatalidade.
Contudo, o caminho-de-ferro continua a ser, quase dois séculos depois dos seus primeiros passos, um meio de transporte que oferece potencialidades importantes e da sua renovação depende o sucesso do reequilíbrio dos modos de transporte. Isto pressupõe medidas ambiciosas, que não dependem unicamente das regulamentações europeias, mas dos actores do sector, de quem depende o seu renascimento.”
http://aduanapt.blogspot.com/2011/06/revitalizar-o-caminho-de-ferro.html

João Pala disse...

Tormenta! Será que acabou…?

“No Douro, o encerramento da linha a jusante da Régua compromete o desenvolvimento turístico da região, que é património mundial. Paradoxalmente, o que os autarcas da região têm vindo a pedir é a reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva para fins turísticos e para aproximar a região do mercado espanhol.” (Público)

Os autarcas e a população da região não só têm vindo, como continuarão, não a pedir, mas sim a exigir a reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva, como é de inteira justiça. Só alguém desprovido das sua capacidades de raciocínio, ou a abarrotar de má fé, não admite que a reabertura deste troço é um investimento e uma grande contribuição para alavancar o crescimento económico, não da região, mas do país.

Quem escondeu aos portugueses tamanha barbaridade, é portador de uma cegueira politica/económica inqualificável, esta postura descaracterizada - É CRIME!

Lembro:
O protocolo foi assinado na Estação de Caminhos de Ferro do Pocinho a 10 de Setembro de 2009 e nele “lavraram assinaturas os responsáveis da Rede Ferroviária Nacional, Comboios de Portugal, Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e Estrutura de Missão do Douro. O governo fez-se representar pela Engª Ana Paula Vitorino, à data Secretária de Estado dos Transportes, a qual homologou o protocolo.” http://fozcoafriends.blogspot.com/2011/03/reabilitacao-do-troco-da-linha-do-douro.html

Zuruspa disse...

A Renfe (espanhola, pra quem não sabe) tentou há 10 anos fazer a ligação Vigo/Compostela-Madrid pelo Porto, em vez de ter de renovar a linha que passa ao Norte de Bragança...

Porque será?
1 - Era mais fácil, porque já existia linha elettrificada Porto-Salamanca (vai lá o Sud-Express), 2 - haveriam pessoas do Porto a usufruir da ligação a Madrid.

A CP recusou...
... hoje em dia há linha de TGV entre Compostela e Madrid, ao lado e ao largo da fronteira espanhola.

Chama-se visão estratégica: os manolos podem estar mal, mas estão melhores que no Tugal das autoestradas VAZIAS!