segunda-feira, 23 de março de 2015

Reformas? Que reformas?


Para disfarçar o fracasso de uma estratégia, nada como alegar que ela não foi devidamente aplicada.

Portugal tem hoje uma sociedade mais doente e uma economia mais frágil do que quando começaram a ser aplicadas as medidas de liberalização e austeridade que revolucionaram o país nos últimos anos. Há menos criação de riqueza, menos capacidade produtiva e menos emprego. Mais desigualdade, mais população em risco de pobreza e mais pessoas em situação de privação grave. Foram vendidos ao desbarato activos públicos. E também há mais dívida pública e mais dívida externa.

As pessoas, claro está, sabem-no e sentem-no, o que cria um problema aos defensores da estratégia aplicada: é que ela não só produz uma economia e uma sociedade que as pessoas não querem, como produz também resultados muito diferentes do que havia sido prometido. As privatizações, recorde-se, eram apresentadas como promotoras da eficiência, dada a suposta evidência que o privado faz sempre melhor – evidência mais evidente quando não se sabia o que se sabe hoje sobre o BPN, o BES ou a PT. A desvalorização do trabalho, prosseguida de inúmeras formas, foi sempre promovida como geradora de emprego: o desemprego, aliás, era por definição causado pelo custo excessivo do trabalho. E a própria austeridade, vale a pena recordar, era apresentada como amiga do crescimento, em virtude dos supostos efeitos sobre o crowding-out ou sobre a confiança. Em vez disso, claro está, temos tido captura de rendas por interesses particulares, destruição de emprego e de capacidade produtiva, e vamos a caminho de uma década perdida em matéria de crescimento e desenvolvimento.

Ora, o que é se deve fazer quando a nossa estratégia produz resultados tão obviamente distintos do prometido e tão contrários às aspirações das pessoas? Simplesmente, negar que ela tenha sido devidamente aplicada. Os resultados não são os prometidos, alega o coro liberal, porque o ímpeto reformista não tem sido suficiente. Porque não se reformou verdadeiramente o estado. Na versão mais cínica, porque este governo "é na verdade anti-liberal", como se o liberalismo realmente existente dispensasse a instrumentalização do Estado para a garantia de rendas, para a fragilização do trabalho e para a abertura ao lucro privado de sectores protegidos.

Só que é este e não outro o liberalismo do Compromisso Portugal ou dos cronistas do Observador. São estes e não outros os seus resultados. E o discurso que, distanciando-se, procura agora branquear esse facto não é mais do que uma tentativa de eternizar este programa distópico.

(publicado originalmente no Expresso de 21/03)

10 comentários:

Jose disse...

«Portugal tem hoje uma sociedade mais doente e uma economia mais frágil..»
Nem li mais nada!
Tinhamos um Governo a merecer cadeia e uma economia sustentada em dívida e obra pública financciada em dívida.

Vão brincar com palavras para ...

Anónimo disse...

Jose

até parece que é mentira
diz-me com que estatisticas te vais defender para dizeres que o país está melhor ?
claro, vais dizer que este é um governo de salvação nacional depois dos desvarios do anterior passando por cima do aumento das desigualdades, do aumento da dívida, dos níveis de investimento, do ir para lá da troika, etc etc etc
além de faccioso és mal educado pois nem sei como as reticências que deixaste passaram pela moderação
olha, vai tu que deves gostar!

R.B. NorTør disse...

E agora temos uma economia sustentada em?

Anónimo disse...

"Ora, o que é se deve fazer quando a nossa estratégia produz resultados tão obviamente distintos do prometido e tão contrários às aspirações das pessoas? Simplesmente, negar que ela tenha sido devidamente aplicada."
Está a referir-se ao comunismo e ao socialismo (Cuba, Venezuela, Países de Leste, ...)?

Anónimo disse...

Ainda há quem ache que a culpa é do aumento de impostos, já que austeridade tem que ser à custa da diminuição da despesa pública.

O que interessa não é a austeridade mas a diminuição do peso das administrações públicas no pib. Pois, pois.

Anónimo disse...

uma economia sustentada nas reticências do Jose onde uns poucos entram com as reticências e a larga maioria entra com o orificio
lucros privados prejuizos publicos e depois chamam-lhe economia de livre mercado

Corvo Negro disse...

Peço desculpa pela pergunta, mas alguém desta comunidade sabe o que se passa com o Blogue AspirinaB? Retorna-me a informação de que o Blogue foi suspenso !!!

Jose disse...

O português é uma língua precisa:
- mais doente significa mais distante de ter saúde.
- mais frágil quer dizer que está mais próxima de cair.

A partir daí ... é o menos que pode dizer-se!

R.B. NorTør disse...

Continuo sem perceber qual foi a mudança de paradigma na nossa economia, mas de certeza que o latinista ilustre não tardará em explicar...

Anónimo disse...

A cadeia que o jose promete é a cadeia reservada aos donos do banco laranja, o BPN?

É a cadeia reservada ao patronato e aos capitalistas idolatrados pelo jose?

É a cadeia reservada aos paulo portas mais os submarinos que zarparam para o bolso de quem se sabe?

É a cadeia reservada para as negociatas do passos e para as fugas ao fisco do tipo e dos amigos do tipo?

É a cadeia reservada aos que saquearam o país e que à custa dos bens nacionais privatizaram o que foi possível para assegurar a sua quota do saque?

Um governo a merecer cadeia.Desde o primeiro-ministro ao portas.Passando pelo macedo das mãos sujas de sangue e pelo crato dos crimes contra a educação.Pela luís que guarda o dinheiro que não é seu e que
saqueia os portugueses, até à medula. Pelos secretários de estado cúmplices aos cúmplices dos seus homens de
mão.

Os portugueses estão pior.Quem trabalha muitíssimo pior.
É ver quem sobra e quem enriquece

De