domingo, 8 de março de 2015

Duas notas num dia de lutas


1. “Em articulação com as organizações políticas e sindicais de classe do proletariado dos seus respectivos países, as mulheres socialistas de todos os países devem assinalar anualmente o Dia da Mulher, com o propósito principal de obter o direito de voto. Esta reivindicação deve ser conjugada com a questão da mulher na sua totalidade, de acordo com os preceitos socialistas. O Dia da Mulher deve ter uma natureza internacional e deve ser cuidadosamente preparado”. Assim falava, em 1910, a socialista alemã Luise Zietz, fazendo a proposta na conferência das mulheres socialistas da Segunda Internacional presidida por Clara Zetkin (na foto). De facto, é preciso não esquecer as origens deste dia internacional: era das lutas de classes, assim no plural, nesta caso das lutas das mulheres trabalhadoras pelo reconhecimento e pela redistribuição, e o melhor da luta socialista sempre juntou estas duas dimensões da política, que se tratava e é disso que ainda se deve tratar hoje em dia.

2. Já que estamos a assinalar o Dia Internacional da Mulher, deixo uma outra referência, desta feita académica, mas com inúmeras implicações para lá da academia: a economia feminista. Trata-se de uma das correntes mais interessantes da economia política crítica. Ajuda-nos a integrar as questões de género, a ampliar a análise da desigualdade, do conflito e da cooperação, a incorporar espaços e actividades não-mercantis, invisibilizadas por indicadores como o PIB, a discutir temas como o “altruísmo imposto” ou as “preferências adaptativas”, ou seja, a discutir formas de opressão e de condicionamento que atingem particularmente as mulheres e que, por exemplo, fazem do utilitarismo, a tal filosofia social espontânea da economia convencional, um modo de avaliação ainda mais perverso do que se julga, como bem sublinhou Amartya Sen, um dos homens que mais contribuiu para popularizar o feminismo nesta ciência social lúgubre. De resto, leia-se, por exemplo, esta síntese crítica de Lina Coelho, uma das raras economistas portuguesas que tem trabalhado no quadro de referências da economia feminista.

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