quinta-feira, 5 de março de 2015

Água e finança


A financeirização permeia todas a esferas da nossa economia, mesmo quando são bens essenciais, como a água, que estão em causa. No princípio dos anos 90, os municípios foram autorizados a conceder os seus sistemas de provisão de água a empresas privadas. Tal processo coincidiu com a expansão de algumas multinacionais do sector, como a Veolia, que aproveitaram a oportunidade para obter algumas concessões municipais no nosso país (Mafra, Ourém, Paredes e Valongo), por sinal aquelas onde se praticam das tarifas mais altas. Entretanto, depois de alguns revezes, a sua estratégia de investimento alterou-se, preferindo hoje ter contratos de manutenção e não tanto de exploração directa. A Veolia vendeu assim a sua operação em Portugal a uma empresa chinesa de seu nome Beijing Enterprises Water Group. Esta empresa, sediada nas Bermudas (!), financiou a aquisição recorrendo sobretudo a um empréstimo dos seus accionistas. Este empréstimo será reembolsado através dos cash-flows (fluxos de caixa) da empresa adquirida, sendo que se prevê que estes cresçam graças ao aumento das tarifas. Conclusão: 1) o "investimento" serve para capturar fluxos financeiros; 2) é assumido que a rentabilidade do "investimento" não depende da sua eficiência de gestão (argumento estafado), mas sim da subida das tarifas, responsabilidade última do Estado português.

3 comentários:

Jose disse...

Interrogações:
- os investimentos nas águas não devem ser amortizados?
- as tarifas não devem sustentar os custos de exploração mais a remuneração do capital?
- Para além da remuneração do capital, o lucro é ilegítimo?
- No contrato de concessão a fixação de tarifas não está regulada?
Conclusão: nada como acenar com fantasmas para garantir a existência do mal.

vernon disse...

A conclusão de Nuno Teles diz bem dos termos com que a renda é montada.

Isto é um dos pratos preferidos dos neo-liberais – empreendedores de rendas – servido de bandeja pelos serviçais do arco da corrupção: negócio protegido sobre um bem comum, monopólio natural e imprescindível, e garantido até à eternidade.

Anónimo disse...

permeia? talvez premeia (de prémio).