segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Tudo em ordem?

Enquanto privatiza o que há para privatizar e aplica o resto do pacote austeritário da troika, Euclid Tsakalotos, formalmente Ministro das Finanças grego, tem obviamente tempo para participar no chamado debate, desta feita no Financial Times, sobre a arquitectura da Zona Euro, tomando de forma sempre ideologicamente reveladora os EUA como referência para “completar a zona euro e banir o espectro do populismo”. É claro que o modelo de transferências não impediu os populismos, sempre no plural, não se esqueçam, nos fracturados EUA.

Enfim, assim se confirma a total cooptação do que foi na Grécia a esquerda dita radical, uma lição, enquanto se espera por um não-lugar indesejável (a distopia dos Estados Unidos da Europa). Por estas e por outras, tenho insistido que o europeísmo é um dos principais mecanismos de destruição da esquerda social-democrata no continente. É um mecanismo eficaz, como se vê também no centro que na realidade comanda qualquer processo europeu, a Alemanha, onde o processo de resto já tem décadas e onde as duas alas do cada vez menos dominante partido exportador chegaram a mais um acordo de governo.

Entretanto, cereja em cima do bolo da elite do poder, a que tornou a social-democracia num apêndice inofensivo e a que por cá também se imagina no centro a mandar, o euro-liberal Centeno lá foi chamado a presidir ao chamado Eurogrupo, com sininho e tudo. Uma decisão sábia, realmente, como disse de forma reveladora o inenarrável Juncker. Tudo em ordem, aparentemente. Cuidado com as aparências.

20 comentários:

Jose disse...

Quando social-democracia é tida por caminho para o socialismo a desilusão é garantida.
Quando europeísmo é tido por rendimento comum, o desgosto está assegurado.

Anónimo disse...

Segundo os cálculos de Jacques Sapir, para fazer funcionar o federalismo na UE seriam necessárias transferências no valor de 257.710 milhões de Euros (cálculos datando já de 2012).

http://russeurope.hypotheses.org/453

Portugal deveria estar a receber subsídios de compensação da ordem de 10,11% do seu PIB. Como não está, nem é verosímil que nenhum ministro das finanças alemão, (da CDU ou do SPD, não importa) passe tal cheque, isso quer dizer que Portugal ficará sempre a perder nas negociatas da Zona Euro.

Portugal, nesse contexto ficará sempre na posição de mendigar compensações que nunca serão à altura dos prejuízos que a Zona Euro tráz ao país. Estranha sina essa, de mendigar aquilo que impedem que um país ganhe de forma directa e digna.

Tomar os USA como modelo, mas com um orçamento "federal" absolutamente ridículo e sem os outros mecanismos compensatórios que existem nos USA, é apenas mais uma forma de diletantismo, empurrando soluções para as calendas gregas e dando tempo para que sejam reforçadas as barras da prisão do Euro.
S.T.

Jose disse...

Os mecanismos compensatórios: trocar o euro pela competição com países terceiros?

Sempre e só a mama. Planos de investimento e produtividade sempre para mais logo.

Paulo Marques disse...

José, diz muito bem, que os lucros da banca franco-alemã nos últimos 40 anos não se pagaram sozinhos e muita gente teve que trabalhar muito e até morrer de fome para que acontecessem.

"o europeísmo é um dos principais mecanismos de destruição da esquerda social-democrata no continente."

A bem ou a mal, ninguém aceita empobrecimento permanente. Se a culpa é do outro, bem, os descendentes do fascismo não deixarão de o aproveitar para continuar a subir nas sondagens.

Anónimo disse...

Rectifico:
"Segundo os cálculos de Jacques Sapir, para fazer funcionar o federalismo na UE seriam necessárias transferências no valor de 257.710 milhões de Euros ANUAIS (cálculos datando já de 2012)."

Ao colocar um português como presidente é legítimo que se suspeite que querem pagar a Portugal com uma imaterial "honra" aquilo que em boa justiça deveriam pagar com recursos financeiros.
Isso torna ainda mais premente a contestação ao Euro e a luta pela RESTAURAÇÃO DA SOBERANIA MONETÁRIA PORTUGUESA.
S.T.

Anónimo disse...

Há um outro pequeno detalhe do excelente post de João Rodrigues que mereceria maior desenvolvimento:

De como os lemingues sociais-democratas do SPD acabam de vender barata a sua pele, como já temia e avisava Paul Mason no Guardian:

https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/nov/27/the-german-left-should-demand-a-high-price-to-prop-up-merkel

É extraordinário como o SPD se vende pelo proverbial prato de lentilhas ao aceitar prescindir de medidas e pensamento próprio negociados contra declarações de intenções de fazer cortes de taxas para beneficio dos ricos. Isto é, o SPD troca princípios programáticos por ameaças de cortes fiscais que só se concretizariam se a CDU de Merkel (que não tem maioria) implementaria se fosse governo. Faz sentido?

Como nem todos os SPDs andam a dormir é claro que há contestação interna, comandada pelo presidente da juventude do SPD. Resta saber se consegue bloquear o acordo ou se é apenas uma manobra negocial.

"were it not for the telling photograph on the front of Saturday’s Frankfurter Allgemeine daily. Angela, looking remarkably fresh after her four-month ordeal, looks sideways at her saviour, Martin Schulz. In her eyes, though, is less thanks than amusement, her mouth fighting to keep down a crooked smile.

Oh Martin, she seems to be saying, how could you be so naive?"

https://www.irishtimes.com/opinion/schulz-saves-merkel-but-at-what-cost-1.3355070

"Schulz saves Merkel"
S.T.

Jaime Santos disse...

Não deixa de ser curiosa esta sua obsessão com a decadência da social-democracia, João Rodrigues. Vá lá à História ver o papel que os Partidos Comunistas tiveram no seu esmagamento no antigo bloco de Leste e depois não venha com hipocrisias e com choros de crocodilo. Ou os epítetos de 'sociais-fascistas' do tempo da República de Weimar. Um mimo!

Quanto à suposta cooptação da dita Esquerda Radical, o que ela ensina é uma coisa bem simples. O radicalismo (de raiz, de ida ao fundo das coisas) está tanto nos princípios e nos objetivos como, sobretudo, nos meios para persecução desses mesmos objetivos. O Syriza chegou ao poder sem um plano alternativo em caso de recusa da UE na renegociação do pacote de austeridade, que implicaria uma saída do Euro com o reconhecimento dos sacrifícios para isso necessários, e depois foi o que se viu.

Por cá, a nossa 'Esquerda Radical' ameaça-nos que quer justamente seguir o caminho que o Syriza (e bem, porque não preparado para tal) não quis seguir. Mas o que se irá passar a seguir é um mistério. Pura demagogia, como aliás é habitual por essas bandas, onde se define radicalismo de uma maneira bem distinta da sua raiz etimológica...

Mas não nos devemos preocupar. O que lhes sobra em 'radicalismo', falta-lhes em capacidade de análise e de desenho de políticas. Deus nos livre desta gente chegar um dia ao poder, a Direita regressaria em força no dia seguinte!

Anónimo disse...

Mais uma vez uma análise lúcida e frontal de João Rodrigues.

Que concite o desbragamento de um sujeito como o Jose, a lastimar-se desta forma cómica pela social-democracia e pelo rendimento-comum, em jeito de argumento para a defesa de um europeísmo predador, é também uma prova que o texto mexe nas entranhas de quem lucra com o presente status quo europeu

Anónimo disse...

Cá eu, alemães e populistas, há alguns com que até concordo...

https://www.rt.com/news/415977-europe-dismembering-die-linke/

Parece óbvio que, se as baixas taxas de natalidade são o resultado de politicas de precarização e empobrecimento a solução não é mais imigração mas maior fertilidade.

E já agora, se não fôr pedir muito, menos desestabilização dos países de origem dos migrantes.
S.T.

Aleixo disse...

ONDE SE PERCEBE O CERNE DA "COISA",
É NA CONSTATAÇÃO DA IDIOSSINCRASIA DOS DDT,

da " dita democracia representativa"...

TODOS(!) a blindar os centros de decisão.

Anónimo disse...

Por favor Jaime Santos um mínimo de coerência.Este seu tipo de argumentação demagógica e truncada só perturba a mensagem que quer fazer passar. A coisa é de tal forma repetitiva que nos interrogamos se o que se pretende apenas justificar é a traição dos seus próprios ideais

“A social-democracia, outrora, nos anos fundadores da Segunda Internacional, tinha por objectivo o derrube do capitalismo. Depois tentou realizar reformas parciais concebidas como passos graduais para o socialismo. Finalmente, passou a ser favorável ao Estado-Providência e ao pleno emprego no quadro do capitalismo. Se agora aceita a destruição do primeiro e o abandono do segundo, em que tipo de movimento se irá tornar?”

Anónimo disse...

Estas palavras são do historiador britânico Perry Anderson que assim sintetizava a evolução da social-democracia europeia.

Mas retomemos o excelente texto de João Rodrigues escrito no Público em meados do ano passado:

"Quase um quarto de século depois, temos agora uma resposta definitiva, em França, pela boca de Manuel Valls, um antigo Primeiro-Ministro no desgraçado quinquénio de François Hollande, feito de austeridade, de redução de direitos laborais por decreto, de desemprego de massas: o movimento de que falava Anderson, neste caso o Partido Socialista francês, está “morto”. De forma oportunista, Valls foi um dos que abandonou o partido para cuja morte contribuiu, tentando agarrar-se ao plástico político que flutua no meio do naufrágio, o por agora triunfante e bem financiado Macron.

Entretanto, é preciso dizer que o espectáculo dado por certa elite do PS francês não é caso único por essa Europa fora. Não é necessário chegar a abandonar os partidos sociais-democratas, socialistas ou trabalhistas para se ter desistido do pleno emprego e do Estado-Providência. Pensemos, por exemplo, no agente da finança europeia que dá pelo nome de Jeroen Dijsselbloem, reduzindo o Partido Trabalhista nas legislativas holandesas a um resultado residual. De resto, este foi um resultado semelhante ao obtido nas presidenciais pelo inapto socialista francês Benoît Hamon".

Vir agora falar no papel "que os Partidos Comunistas tiveram no seu esmagamento no antigo bloco de Leste" mais os "social-fascistas" é não só ridículo como um tiro perfeitamente ao lado. Argumentativo e intelectual.

Haveria alguma coisa a dizer sobre o que se passou a leste. Mas o que espanta é voltar atrás tantos anos só para esconder a terceira via vergonhosa de Blair, a traição de Gonzalez, ou a de Valls ou a de Macron. Macron entusiasticamente saudado por uma trupe convencida que daqui poderia resultar alguma coisa. O resultado está à vista de todos.

Quanto a Schulz ...enfim, uma porca-miséria

Infelizmente para JS os "mimos" com que nos mimoseia não passam de um enorme fogo-fátuo.
Em forma de fuga

Anónimo disse...

É com grande consternação que muitos poderão ver por esta

https://www.les-crises.fr/les-propositions-de-varoufakis-qui-menaient-a-lechec-par-eric-toussaint-13/

análise que mostra como Varoufakis esteve na origem de grande parte da impreparação do Syriza para enfrentar as chantagens do eurogrupo.
É ele próprio que o confessa, embora de forma velada, no seu último livro.

https://www.les-crises.fr/le-recit-discutable-de-varoufakis-des-origines-de-la-crise-grecque-et-ses-etonnantes-relations-avec-la-classe-politique-par-eric-toussaint-23/

É uma lição (mais uma) a tirar da tragédia grega do Syriza.

https://www.les-crises.fr/comment-tsipras-avec-le-concours-de-varoufakis-a-tourne-le-dos-au-programme-de-syriza-par-eric-toussaint-33/

As "estrelas" por vezes também se deixam cegar pelo seu europeísmo.
S.T.

Jose disse...

Paulo Maques, caso não se tenha apercebido, os juros pagam-se aos detentores do capital.
Acontece ainda que o capital sói acumular-se nas mãos de que quem obtém rendimentos.
Os rendimentos têm por hábito acorrer a quem tem vantagens competitivas.

Anónimo disse...

Um mimo.

Um mimo esta incursão do sujeito das 11 e 40 sobre os juros, mais os detentores do capital, mais a acumulação do capital ( heil capital) mais os rendimentos mais as vantagens competitivas e restantes tretas por atacado.

Um mimo este exercício florido para esconder o que serenamente Paulo Marques disse: "que os lucros da banca franco-alemã nos últimos 40 anos não se pagaram sozinhos e muita gente teve que trabalhar muito e até morrer de fome para que acontecessem."

Com uma agravante ainda por cima. É que foi preciso mesmo dar dinheiro directamente aos bancos e aos banqueiros, socializando os prejuízos avultados que no final obtiveram.

Foi um fartar vilanagem.

Anónimo disse...

Mas se jose opta agora por este discursozito apologista do Capital e dos agiotas, mostrando o métier que exerce, é porque antes tinha tido problemas sérios com esta questão denunciada pelo Paulo e que o levara a uma crise paroxística traduzidas no seu habitual linguarejar:

"Dar dinheiro aos bancos é mantra de treteiros esquerdalhos."

Foi patético o que se lhe seguiu
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/11/cds-pp-depois-dos-cortes-bonanca.html


Anónimo disse...

É útil antes de seguir em frente recordar algo,mesmo sabendo que este algo pode incomodar deveras quem defende a exploração dos demais:

A realidade é esta: se é bem verdade que o trabalho produz maravilhas para os ricos, ele é a miséria para o operário. Adam Smith, o fundador da economia política clássica, afirmava que, na origem, «o produto inteiro do trabalho pertence ao operário» . Mas reconhece ao mesmo tempo que é a parte mais pequena e estritamente indispensável que lhe cabe. A economia política burguesa explica assim ao mesmo tempo que tudo se compra com o trabalho, e que os proletários estão obrigados a venderem-se todos os dias.

Entretanto para os detentores do Capital, para os que acumulam Capital ( Marx sabia da poda), para os que obtém rendimentos à custa do trabalho dos outros, para os se gabam das vantagens competitivas o mundo é deles

Por isso celebram e defendem a concentração da riqueza em meia~dúzia de mãos. Por isso tasquinam e defendem assim a agiotagem e as rendas

Anónimo disse...

Mas enquanto jose, desta forma bestial, defende o poder dos saqueadores e da vampiragem, vejamos como agora de uma forma beata e moralista , eivada daquele hipocrisia a que já nos habituou, tenta responder ao denunciado no post de João Rodrigues:

"Planos de investimento e produtividade sempre para mais logo."

O mesmo jose há dias "esquecera-se" de tais planos quando tentava justificar o endividamento das coutadas, perdão cotadas, que distribuíram dividendos 20% superiores aos seus lucros.
Endividaram-se mesmo para distribuir as prebendas.

Não. Não foi nem para investimento nem para incrementar a produtividade. Isso ficou para "mais logo"


Há aqui algo que não cola. Que não pega.

Este jose é uma fraude. E vira de disco conforme o que lhe serve na altura, a ele e aos seus interesses de classe.

( depois virá dizer naquele tom de consultor financeiro a vender o produto empacotado:"juros ... detentores do capital...acumular-se ...rendimentos... vantagens competitivas..

Um treteiro encartado?)

Pedro disse...

Acho que não está a ver o que é o SPD.

O SPD está-se completamente nas tintas para a social-democracia e é capaz de ser tão social-democrata como o PSD.

Aliás o PSD cita a deriva neoliberal do SPD como sua linha ideológica.

Foi o SPD, com Schroder, que começou a destruir o modelo europeu na alemanha, introduzindo o neoliberalismo e degradando o estado social.

O SPD não luta por pratos de lentilhas mas por sinecuras douradas para os seus dirigentes, na burocracia europeia ou nas grandes empresas privadas, como Schroder bem mostrou.

Esse dirigente "social-democrata" foi um dos quatro grandes responsáveis pela vitória do neoliberalismo - Schroder, Tatcher, Reagan, Pinochet.

A social-democracia morreu, nem o PS é social-democrata.

Esses partidos, ou são farsas desde o início, como o PSD, ou assim se tornaram depois de terem sido tomados de assalto por "tecnocratas", isto é, fanáticos neoliberais.

Anónimo disse...

Entretanto na Alemanha parece que o eleitorado do SPD tem uma enorme vontade de puxar a ficha do Rei Lemingue, Schultz, amais a sua coligaçãozinha.

https://www.zerohedge.com/sites/default/files/inline-images/20180204_SPD2.jpg

Fartava-me de rir se surgisse um Corbyn alemão que reformasse pela esquerda o SPD.
S.T.