terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Capitalismo imobiliário

A habitação é um tópico relativamente pouco estudado pelos economistas. Parte deste desinteresse deve-se mais à escassez de dados comparáveis, entre economias e para horizontes temporais latos, do que a uma menor relevância económica do sector.

Òscar Jordá e colegas têm vindo a compilar de uma forma sistemática informação estatística para um conjunto significativo de países e para longos horizontes temporais que confirma a extraordinária importância da habitação no capitalismo.

Em estudo anterior já haviam sublinhado que o forte crescimento da dívida agregada privada, observada nas principais economias capitalistas na segunda metade do século XX, se deveu ao crescimento do crédito à habitação, que se tornou a principal atividade da banca, crescendo de um terço para dois terços, substituindo a sua tradicional vocação de financiamento às empresas.

Num novo estudo, para uma amostra de 16 países e cobrindo um período de 150 anos, de 1870 a 2015, Jordá e colegas mostram que a habitação é o ativo com a maior taxa de rendibilidade em termos reais (isto é, sem o efeito da inflação), superando a taxa de rendibilidade das ações na generalidade dos países, apesar da sua menor volatilidade, contrariando assim as previsões da teoria económica convencional. Em termos médios, para o conjunto dos países, a taxa de rendibilidade da habitação é 8.0%, enquanto a taxa de rendibilidade das ações é de 6.7%, sendo a taxa de rendibilidade das Obrigações do Tesouro de 2.5%. Estes valores são, respetivamente, 8.5, 7.1 e 2.8 para Portugal.


Suportando a conclusão de Piketty, o mesmo estudo mostra que a taxa de rendibilidade do capital tem sido sistematicamente superior à taxa de crescimento do PIB em todos os países (exceto durante as duas Grandes Guerras), o que significa que a riqueza cresce proporcionalmente mais que o PIB. Como esta está concentrada nos mais ricos, o crescimento desproporcional da riqueza (6.8%) face ao PIB (2.9%) significa o aumento continuado da desigualdade. Portugal não é exceção, registando um crescimento do PIB de 3.4% e uma taxa de rendibilidade de 7.6%.


A inclusão da habitação na análise da evolução das taxas de rendibilidade de longo prazo dos vários tipos de capital não só reforça as conclusões de outros estudos, como mostra que a habitação é parte integral do processo de geração de desigualdade. No atual contexto de baixas taxas de crescimento e de baixas taxas de juro é cada vez mais evidente a metamorfose da habitação em ativo financeiro, ganhando peso crescente nos portfólios de investimento dos muito ricos.

No caso português, estes incluem estrangeiros que enriquecem não só por se tornarem proprietários, mas também porque beneficiam de importantes apoios do Estado, ou seja, enriquecem à custa daqueles que vivem do rendimento do trabalho desigualmente distribuído.

25 comentários:

Jose disse...

Um cenário sui generis:
Com as empresas postas ao serviço da manutenção de emprego, desce a rentabilidade e aumentam os riscos e a banca dedica-se a penhores e financiamento do Estado.
Com regras de arrendamento com riscos acrescidos, agravam-se os preços e aumenta a rendibilidade dos bem sucedidos - espero que esta semana recupere uma casa que já leva 30 rendas em atraso!
Os bancos centrais põem juros a zero e os bancos fazem-se investidores imobiliários.

Lembro um tempo em que o juro esperado de um investimento imobiliário se admitia ser inferior ao de um depósito a prazo.

Vitor disse...

Este post faz muito pouco sentido no caso específico Português em que temos das maiores taxas de habitação própria da Europa. E talvez do mundo.

O capitalismo imobiliário como lhe chama permitiu que Portugal passasse de um país com uma enorme carência de habitação nos anos 70 para um país que tem unidades habitacionais em excesso. 1,7 por família ou algo parecido. Atualmente temos um défice de habitação nos centros das cidades de Lisboa e Porto mas isso não é minimamente relevante para o panorama nacional nem me parece que seja muito relevante para o país andar a perder tempo com um suposto direito de viver no centro das maiores cidades quando temos um salário mºedio de 800 euros e uma taxa de natalidade das mais baixas da europa.
Problemas a sério são a precariedade e o desemprego. Criem-se empregos fora dos centros de Lisboa e POrto que o problema da habitação desaparece num instante.

Anónimo disse...

Não está bom da cabeça o sujeito das 20 e 52.

"Com as empresas postas ao serviço da manutenção do emprego"?

Isto não lembra um tempo. Lembra uma espécie de choradinho para tentar escamotear o verdadeiro objectivo das empresas.

Quanto ao verdadeiro tempo que o mesmo sujeito se lembra...faz lembrar um tempo em que ele dedicava tempo aos banqueiros tidos como terratenentes e outras coisas sui generis dentro dos adjectivos que ele compunha para os ditos cujos.

E sem quaisquer peias na linguagem exultava com as oportunidades de negócios dos banqueiros, que ao emprestarem dinheiro. o que queriam era facturar, como manda a boa lógica do lucro uberalles.

Por isto estas cenas saem um bocado acanalhadas.

Anónimo disse...

Quanto ao "vitor" mais o seu suposto não direito a viver nos centros da cidade talvez ele não tenha percebido o post de Ana Santos.

Em vez das suas odes medíocres aos decotes familiares seria talvez bom ler de novo o texto para ver o que lá se denuncia.


Jose disse...

Onde a esquerdalhada vir alguém a rentabilizar capital logo se empolga a arruinar o negócio.
Cospem no prato donde comem abundância de impostos que lhes mantêm os mantras.

mig_L disse...

"Com as empresas postas ao serviço da manutenção de emprego"

Despeçam-se os empregados todos que a rentabilidade da empresa roçará os pícaros!

Anónimo disse...

Que o património imobiliário é um dos instrumentos de acumulação de capital não é novidade nenhuma, mas, como salientei noutros comentários noutro post, é também um instrumento de poupança privilegiado para pequenas poupanças.

Uma das criticas que se fez à grande percentagem de portugueses que tinham casa própria era a falta de mobilidade laboral que isso implicava.
O raciocínio para o trabalhador e simultâneamente proprietário é que mudar de cidade para aceitar um outro emprego implicava a venda ou aluguer da casa antiga e aluguer ou compra de casa na nova localização laboral. Ora todas estas manobras implicam gastos fiscais e eventuais perdas.

Também de facto quando se vende uma casa numa povoação onde o trabalho escasseia e se compra uma outra numa povoação onde há novas oportunidades de emprego é expectável que haja um diferencial de preço, que se não é coberto por melhor remuneração no novo emprego, traduz-se em prejuízo para o trabalhador.
De um modo geral, se se quer remediar as implicações na mobilidade de emprego a solução parece simples: Transferir grande parte da tributação sobre as transferências de imobiliário para a tributação directa do património. Teóricamente o resultado melhoraria a mobilidade laboral sem penalizar (demasiado) quem constituiu um aforro através da compra de casa própria e teria como bónus dinamizar o mercado imobiliário.

No entanto a tendência que vem dos USA e tem sido ensaiada em Espanha é outra: Favorecer a constituição de grandes fundos imobiliários privados que se encarregam de extrair elevadas rendas aos trabalhadores/rendeiros que não têm outra opção. A concorrência entre senhorios é um mito. A limitação do mercado é feita mais por via do que os arrendatários podem pagar do que pelo volume de oferta de casa para arrendar.
Isto sim, insere-se na temática do post original e é motivo de preocupação.

Respondendo ao Vitor, a menos que alguém descubra a fórmula mágica para criar empregos bem pagos em zona rural não vejo maneira de dar uso a tantas casas em excesso no interior.
Sobretudo porque tantas dessas casas são em sítios que não lembra ao diabo. Muitas delas construídas com poupanças de emigrantes, o que é triste porque se revelou um péssimo investimento de longo prazo e um desperdício de capital.

Parece haver vantagens económicas significativas em termos de produtividade de se trabalhar numa grande cidade. No caso de POrtugal, o máximo que podemos almejar é quiçá favorecer através de uma politica de isenções fiscais o crescimento de cidades de média dimensão no nosso interior para tentar equilibrar minimamente a ocupação do território.
S.T.

Vitor disse...

Caro S.T.,
Agradeço a sua resposta.
a sua perspetiva relativamente à produtividade do trabalho numa grande cidade é um argumento interessante. Já não é a primeira vez que o ouço e inclusive já ouvi a argumentação que um dos problemas estratégicos de Portugal teria sido o facto de se ter desenvolvido simultaneamente o Porto e Lisboa, que caso os recursos e a população tivessem sido ainda mais concentrados em Lisboa a economia do país se teria desenvolvido mais. Não tenho propriamente uma argumentação racional contra esta linha de pensamento "centralizador" excepto um ideal filosófico de que um cidadão deveria ter oportunidades iguais ou tendencialmente iguais dentro do país independentemente da região onde resida (não sei se a CRP tem alguma disposição relativamente a este tópico) e o facto de se seguirmos essa mesma linha de pensamento centralizador a nível europeu provavelmente justificar as transferências de população jovem da periferia europeia para o centro, com base no facto de um trabalhador ser muito mais produtivo numa Holanda ou alemanha do que em Portugal.
Relativamente ao facto de ser difícil criar postos de emprego em zonas rurais estamos de acordo, agora relativamente ao facto de a população Portuguesa e o emprego poderem estar muito melhor distribuídos nas tais cidades médias que fala é que estamos em desacordo. Portugal tem mais de 300 concelhos e 18 distritos no continente. Cidades médias como por exemplo Leiria dispõem de muita habitação a valores muito baixos. Relativamente a criar empregos bem pagos é fácil, basta restringir fortemente a contratação de novos funcionários públicos em Lisboa e Porto em relação ao resto do país e ir deslocalizando serviços. Não precisa de ser tudo de uma vez. Há alguma boa razão por exemplo para a maioria dos funcionários do ministérios terem de estar em Lisboa? Os empregos públicos para a realidade portuguesa são empregos bem pagos e com um baixo nível de precariedade. Basta haver vontade política.
Relativamente ao desperdício de capital dos emigrantes em construirem uma casa nas terras de onde são originários, penso que será um desperdício talvez menor do que comprar um Mercedes ou um BMW ou outros objetos de consumo alternativos. essas habitações em lugares recônditos foram construídas com mão de obra maioritariamente portuguesa, e com uma incorporação relativamente elevada de produtos produzidos em Portugal o que penso que deveria ser valorizado nessa equação.

Aliás este é um dos argumentos relativamente estruturantes da minha perpetiva relativamente a este tópico, se há um recurso que atualmente é relativamente abundante é a habitação. Mesmo num período conjuntural de eventual maior escassez Portugal tem todos os recursos para num curto espaço de tempo produzir vasta abundância de novas unidades habitacionais provavelmente até com maior qualidade do que as atuais com preços acessíveis e com grande incorporação de emprego nacional nesse processo produtivo. A minha perspetiva relativamente a este tópico é se os estrangeiros pretendem comprar habitação no centro de Lisboa e Porto é deixá-los comprar. Temos é de proporcionar habitação de qualidade e acesso a emprego noutras localizaçoes. Acho que de um ponto de vista estratégico até é muito mais inteligente vender habitações ao estrangeiro do que empresas produtoras como a CIMPOR, PT e quase toda a banca nacional; território agrícola e florestal ou solicitar crédito sobre o qual ficamos a pagar anualmente juros que penso que atualmente são da ordem de grandeza dos valores do orçamento do Ministério da Saúde.
Do meu ponto de vista existiria um papel importante do estado que impusesse a criação de novo urbanismo de qualidade, projetos de novos bairros de qualidade como o de Alvalade dos anos 60/70 ou mais recentemente da zona da Expo. A construção de habitação é muito mais mão de obra intensiva do que obras públicas como autoestradas e linhas de caminho de ferro.

Anónimo disse...

Quero lembrar que o próprio estado promove a desigualdade quando congela rendas a quem recebe até 5 salários mínimos e por acaso tem um contrato anterior a 1990, enquanto as gerações mais novas têm salários mais baixos e rendas mais altas. Como vêem, o capitalismo não é o problema.

Anónimo disse...

O "anónimo" das 18 e 14 diz uma coisa muito estranha.

Fala que o estado bla bla bla e depois nas gerações mais novas para concluir que o capitalismo não é problema.

Não se percebe donde o "Vitor"tira tal ilação. Mas não estamos numa sociedade capitalista pura e dura?

Só mesmo fundamentalistas neoliberais ...

Anónimo disse...

"Onde a esquerdalhada vir alguém a rentabilizar capital logo se empolga a arruinar o negócio".

Muito haveria a dizer sobre esta estranha frase, que surge contrariando os princípios programáticos de Passos Coelho.
(Que como se sabe nunca gostou deste estilo queixinhas e lastimoso).

Negócios e "negócios" há muitos. E não há muito este mesmo sujeito tentava vender o direito às negociatas dum outro sujeito de nome António Borges. Ou dum DDT.

Apregoando também o "justo direito" a fazer render o Capital e o retorno justo pelos "conhecimentos", pelos "conhecidos" e outras tretas agregadas

Anónimo disse...

"Cospem no prato donde comem abundância de impostos"

Também muito haveria a dizer desta não mesma estranha frase.

A quem se quererá vender que quem paga impostos são as classes possidentes?

A memória é uma coisa lixada, mas há por aí abundantes registos de verdadeiros encómios aos "empresários" que fogem ao fisco e que depositam o seu dinheiro a salvo nos paraísos fiscais. Até há um capítulo particular de admiração desbragada dedicado ao Soares dos Santos e as negociatas na Holanda.

Anónimo disse...

João Ramos de Almeida denunciava não há muito tempo que passara "sem muito alarde na comunicação social, a denúncia feita pelo anterior director-geral da Autoridade Tributária, Azevedo Pereira, de que há uma meia dúzia de familia de muito ricos que não pagam os impostos devidos - pagam 0,5% do IRS cobrado quando deviam pagar 25% . E isso acontece porque têm "acesso aos decisores políticos que fazem as leis", que influenciam a sua feitura e que criam alçapões que permitem a fuga aos impostos destas famílias".

Eu sei que isso incomoda quem anda a vender "cuspos em prato alheios" mas os factos dão cabo de toda a treta alimentar do sujeito em causa

As estatísticas têm demonstrado ao longo de duas décadas que o IRS é pago significativamente por pensionistas e assalariados (actualmente vai em 90%), o que não é crível que seja essa a distribuição do rendimento em Portugal.

"Vilfredo Pareto (1875-1923) foi economista, sociólogo e também político, dedicado apoiante de Mussolini que fez dele senador. Teve muito antes disto responsabilidades na cobrança de impostos na Sicília, tendo verificado que a uma pequena percentagem de contribuintes correspondia uma elevada percentagem do rendimento total. Assim, uma melhor eficiência fiscal deveria concentrar os seus esforços naquela faixa de maiores rendimentos.
É daqui que surge a chamada curva de Pareto ou curva ABC que relaciona a % de dados com a % do total da grandeza característica a que se referem. Estas curvas traduzem a desigualdade das características atribuíveis a um dado conjunto de dados. Tal se verifica por exemplo no universo das compras de um organismo, no universo das empresas, etc. Em Física e em estatística há algo equivalente com a curva de Gauss.
Quanto maior a desigualdade mais se acentua a curva Pareto. Assim, 99,4% das empresas são micro ou pequenas, correspondendo cerca de 34% do total de vendas. As grandes empresas são apenas 0,1% mas facturam cerca de 48% do total de vendas.
Voltando aos impostos, Tudo isto é sabido há muito, pelo menos desde 1897 pelo trabalho do Sr. Pareto. O governo PSD-CDS – mas não só…- não só o ignorou como fez precisamente o contrário do que seria ajustado. O ex-diretor da Autoridade Tributária e Aduaneira , prof. José Azevedo Pereira, esteve na AR. Uma sua entrevista incomodou (obviamente…) a direita que – no caso do PSD - o atacou de forma inqualificável.
No seu tempo foram detetados 240 contribuites com rendimento anual de mais de 5 milhões de euros (e um património superior a 25 M€). Pagando á taxa aplicável (48 + 5%) deveriam ter pago algo como 636 M€…pagaram 50 M€ !!! Eis a justiça fiscal PSD-CDS e o "bom caminho" de Cavaco.
Um estudo internacional identifica em Portugal 930 (pelo menos) contribuintes deste tipo. Ou seja para um rendimento médio deste universo de 7M€ haveria uma receita fiscal de cerca de 3 500 M€. Valor equivalente ao saque fiscal do governo PSD-CDS.
Claro que entre o valor potencial de 3 500 M€ e o possível vai uma distância grande. Temos por um lado a acção do governo PSD-CDS e por outro as “regras europeias” feitas para permitir esta fuga. O Governo PSD-CDS parou com a identificação dos ultra ricos e retirou recursos à unidade pelo que este assunto ficou parado. Recordemos até a ameaça de processos a quem nos finanças andasse nesta pesquisa".

Anónimo disse...

João Pimentel Ferreira , aliás "vitor" continua o mesmo.

Primeiro diz que sim-sim

A questão não é propriamente uma questão de "produtividade" na grande cidade. A questão focada é "uma casa numa povoação onde o trabalho escasseia". E pelo que me parece não se defende um "pensamento centralizador", nem a macrocefalia dum desenvolvimento desigual. O que se aponta é uma realidade, não é propriamente a defesa tout-court das vantagens de tal realidade.

Pelo que soa estranho esta deriva pelo "pensamento centralizador" e pelo "ideal filosófico" e pela CRP e pela deslocalização do emprego da periferia para o centro mais a "produtividade" associada.


Anónimo disse...

Mas Aonio Eliphis, aliás "vitor" continua o mesmo no que diz respeito à sua sanha particular com o emprego público em Portugal.

Parece estar a falar duma outra realidade. Fala na concentração de "funcionários dos ministérios" em Lisboa. Interroga-se porquê. Ignora duas coisas básicas. Que os funcionários devem estar onde é necessário e que a centralização tomou aspectos verdadeiramente criminosos no governo de Passos ( aquele mesmo defendido pelo João Pimentel Ferreira), com o encerramento de escolas, centros de saúde, repartições de finanças, etc etc etc, como medida de satisfação austeritária duma troika impante e impune ao serviço dum projecto neoliberal. Sob a comandita interna de Passos, Portas e Cavaco limitada

Os CTT são outro exemplo paradigmático.

Por isso, por favor, tretas desse tipo não.

Mas a deturpação dos factos vai de par com o velho estribilho do Aonio contra os funcionários públicos. Agora estes surgem com empregos bem pagos (para a realidade nacional, acrescenta apressado)

Esta discussão mais uma vez já teve lugar.Sabe-se como o SNS foi atacado e como foi transposta para os privados uma fatia dos "negócios" suscitada com a depauperação dos serviços públicos. A emigração fomentada por Passos Coelho tinha também em vista a saída para fora ( ou para a iniciativa privada) dos quadros técnicos duma função pública agredida,humilhada, insultada e vilipendiada. E que ainda por cima via os seus proventos depauperados por uma politica de roubo e de saque.

E aonio ou vitor ou pimentel ferreira deu de forma continuada o seu contributo para este cantar perene contra as funções sociais do estado e os seus agentes

Anónimo disse...

Também não vale a pena falar em "mercedes" ( mercedez" no vocabulário do Aonio), em BMW" e nos rendilhados da incorporação da mão-de-obra nacional como contraponto a uma realidade factual que hoje está perfeitamente visível na nossa paisagem rural.

A desertificação do nosso território vai de par com o péssimo negócio de construção das casas dos emigrantes. E nem vale a pena dizer mais nada sobre o tema

Tal como não adianta chamar a atenção para a entrada de leão do vitor ("um país que tem unidades habitacionais em excesso") para umas saídas de sendeiro ( "Portugal tem todos os recursos para num curto espaço de tempo produzir vasta abundância de novas unidades habitacionais"; "A construção de habitação é muito mais mão de obra intensiva do que obras públicas como autoestradas e linhas de caminho de ferro")

Uma miséria de facto.

Mas já vale a pena chamar ao debate essa velha pecha de se olhar para o estrangeiro como o alfa e o omega do nosso destino nacional.

Antes foi o euro e as vantagens de estarmos no estrangeiro. Depois foi a hipoteca do nosso tecido produtivo ao estrangeiro. Depois foram as privatizações ao estrangeiro. Agora como já não há CIMPOR, PT, quase banca nacional, falam em vender os centros urbanos aos estrangeiros.

Esta apologia (mais ou menos envergonhada ou mais ou menos clara) do estar de cócoras sempre me incomodou

Anónimo disse...

1ªparte

Em intenção do Vitor

Procurei online documentação sobre a produtividade acrescida de grandes cidades e não encontrei nada assim de muito apetitoso.

Há este pdf,
https://ac.els-cdn.com/S0264275115300226/1-s2.0-S0264275115300226-main.pdf?_tid=7b81192a-f64e-11e7-80f5-00000aacb35d&acdnat=1515620440_d1538a6f9b927583b784a638f01a6e8d
que num parágrafo resume o rational para este fenómeno:

"One of their most important advantages was that they functioned as integrated economies, and they were more productive as integrated economies because they were large. Why? In large part because larger metropolitan areas have larger metropolitan labor markets: workers
have access to a larger, more diversified and more specialized pool of jobs, and firms have access to a larger, more diversified and more specialized pool of workers. These advantages —coupled with other agglomeration economies or, more specifically urbanization economies',such as shared knowledge, shared services and suppliers, shared infrastructure and facilities, shared risk of rapid changes in firm size, or increased competition —give larger cities their productive edge."

Mas de um modo geral o conceito de cluster e as vantagens de se concentrar numa área firmas com idênticos ou complementares ramos de actividade. Não é novidade, pelo contrário, já é conhecimento antigo.

Basta recordar a estrutura comercial da baixa pombalina organizada por profissões onde era mais fácil por exemplo um sapateiro encontrar todos os suprimentos necessários num raio de umas centenas de metros reduzindo as necessidades de deslocação.

Como já referi, gostaria imenso que fosse possível descentralizar e equilibrar o interior em relação ao litoral, mas tal só seria possível com descomunais investimentos e subsídios. E mesmo assim não resolveria as questões levantadas no paper que cito.

A densificação urbana a meu ver é uma inevitabilidade. E tanto mais se quisermos obter aumentos significativos de produtividade. Pode é ser bem ou mal feita...
S.T.

(Continua)

Anónimo disse...

2ª parte

Em relação ao urbanismo sou absolutamente contra a gentrificação das grandes cidades e sobretudo contra a sua terciarização. A qualidade deve ser conseguida pela requalificação.

Os grandes projectos exigem grandes áreas livres que são cada vez mais escassas. A isso prefiro uma abordagem integrativa do uso dos espaços e dos fluxos de deslocação com uso privilegiado de transportes públicos.

Já no que toca à construção há grandes novidades em perspectiva. A mais promissora a meu ver é a adopção de técnicas de impressão 3D para a construção habitacional. A médio prazo podem haver reduções de custos notáveis e a construção deixar de ser tão intensiva em mão de obra.

Também antevejo que a circulação de mercadorias vai sofrer mudanças inacreditáveis que creio que terão impactos que ainda agora são difíceis de avaliar.
Por exemplo, de que forma serão integradas tecnologias como o Hyperloop na malha urbana?

https://sputniknews.com/science/201712191060135184-norway-hyperloop-salmon/

Que implicações terão no comércio e na distribuição?

Óbviamente os países que conseguirem posicionar-se correctamente em relação às necessidades das sociedades futuras ganharão vantagem. Pombal estruturou Lisboa para duas centenas de anos com um sucesso notável. Quem será capaz de fazer o mesmo em relação ao país?

A descentralização dos serviços da administração pública acho que é uma péssima ideia. Aliás quando uma criatura creio que da direita tentou fazê-lo esbarrou logo com as dificuldades de deslocação de funcionários e os problemas da funcionária do ministério A que era casada com o funcionário do ministério B. Um ia desterrado para a cidade X e o outro ia para a cidade Y.
Gozei que nem um preto porque era óbvio que era impraticável e até absurdo.

A transferência de população jovem da periferia para o centro da UE é uma ameaça estratégica à viabilidade económica de Portugal que deve ser combatida com unhas e dentes. No limite, ao depredar uma população já envelhecida e com baixos indices de natalidade é quase uma forma de genocídio lento e uma intolerável forma de colonialismo (mais uma) da parte da Alemanha.
Vade Retro!
S.T.

Jose disse...

«...uma intolerável forma de colonialismo (mais uma) da parte da Alemanha.»

Ser progressista é sobretudo não temer o ridículo!

Anónimo disse...

"Colonialism was a large part of the economic philosophy of mercantilism, which argued
that a nation's economic state had to be assessed through ensuring greater exports than imports. Colonialism worked well under this philosophy because through colonizing, the parent nation had an open outlet for all of its goods. The colony had but little choice to
accept all of the imports, helping the host nation's economic status improve."

https://www.enotes.com/homework-help/what-colonialism-182235

E é claro, uma das formas de impedir o desenvolvimento de uma colónia é a apropriação pela potência colonizadora dos recursos humanos qualificados indispensáveis ao progresso económico.

O pior cego éaquele que não quer ver.
S.T.

Anónimo disse...

Talvez seja melhor eu traduzir para ajudar a compreensão.

"O colonialismo era uma grande parte da doutrina econômica do mercantilismo, que argumentou que o status econômico de uma nação podia ser melhorado através da garantia de maiores exportações do que importações. O colonialismo funcionou bem sob esta doutrina porque, através da colonização, a nação colonizadora tinha um mercado aberto para escoar todos os seus produtos. A colônia tinha pouca escolha senão aceitar todas as importações, ajudando à melhoria do status econômico do país colonizador."

É claro, não é?
S.T.

Jose disse...

Não há mérito que não seja depreciável pela treta progressista.
- Sabes produzir o que outros ambicionam ter e compram, provavelmente és imperialista.
- Sabes criar condições para atrair os melhores a trabalhar contigo, provavelmente és colonialista.
- Queres viver numa sociedade coesa e culturalmente coerente, provavelmente és xenófobo e racista.
... e por aí fora num rosário de invetivas insensíveis ao ridículo, essa força maior do ser progressista.

Anónimo disse...

"- Sabes produzir o que outros ambicionam ter e compram, provavelmente és imperialista."

Quando a "oferta" do país colonialista destrói as indústrias concorrentes nos países cujas elites compradoras "ambicionam"; E quando o estado colonizado não tem meios "legais" para impedir a invasão de produtos que destroem as suas empresas, SIM, há uma situação de neocolonialismo.

"- Sabes criar condições para atrair os melhores a trabalhar contigo, provavelmente és colonialista."

Quando um estado cria uma crise num outro estado supostamente parceiro numa "união" e se aproveita dessa mesma crise para pilhar os recursos humanos que custaram dinheiro e tempo a criar, SIM temos uma situação de neocolonialismo
S.T.

Anónimo disse...

"Queres viver numa sociedade coesa e culturalmente coerente, provavelmente és xenófobo e racista."

Aqui Jose revela o seu verdadeiro mantra.

O que é isso duma sociedade coesa?

Era uma sociedade dita coesa a que defendia para Angola? Para o colonialismo português nas colónias? Para a Pide que "trabalhava" em Angola?

Não. Quando jose fala agora em sociedade coesa está a milhas da coesão que defendia para as colónias de então. Agora ( tal como outrora de resto ) esconde mal a xenofobia e racismo. Tanto que numa jogada idiota de antecipação se fustiga com os termos que sabe que o caracterizam.

Não serve. Nem passa.

Como se nota de resto pelo destino das suas invectivas insensíveis ao ridículo e prenhes da avidez própria de quem cumpre o seu destino de.

Anónimo disse...

"culturalmente coerente?

Assim daquela kultura do patronato luso?

Cheio de serões dos trabalhadores para entreter o pagode, de missas rezadas das madames que rodeavam o tipo de Santa Comba e dos almocinhos da legião onde se recrutavam mancebos para a guerra e para a kultura coerente dos pedófilos legionários?