A Comissão Europeia estuda o problema das notícias falsas (fake news), depois de uma conveniente interferência russa nos processos eleitorais, quando interferência eleitoral - abusiva, mentirosa e até chantagista - foi algo que nunca chocou à Comissão Europeia fazer, vidé casos da Grécia e Reino Unido. Os diferentes documentos comunitários que vão sendo conhecidos misturam, contudo, o conceito de falsidade com o de desinformação, o que representa uma ideia bem mais lata do que apenas o combate à falsidade: integra já um âmbito bélico ao conceito.
"Notícias falsas consistem na disseminação intencional de desinformação através de plataformas sociais online, difusão de notícias por órgãos de comunicação ou impressão tradicional"
"Notícias falsas representam um conceito mal definido que abrange diferentes tipos de deturpação ou distorsão da realidade na forma de notícias"
O próprio conceito de notícias falsas torna este combate num terreno altamente movediço, minado e perigoso, em que rapidamente se resvala do ataque ao aumento industrial do tráfego de plataformas, ao cerceamento através da lei daquilo que poderão ser narrativas contrárias às oficiais. Exagero? Basta verificar que o ataque às noticias falsas é apresentado em diversos países como uma forma de combate ao populismo - outro conceito mal definido... -, ao extremismo - outro conceito mal definido, pelo menos a julgar pelo uso do CDS quanto ao PCP e BE... - e aos riscos que causa à democracia - outro conceito mal definido por estes documentos.
Será por acaso que surge todo um debate sobre as notícias falsas ilegais e as legais?
Uma larga distinção pode contudo traçar-se entre a falsa informação que contém elementos que são ilegais sob a legislação nacional ou comunitária, e as notícias falsas fora do âmbito dessas leis" (idem)
Ilegais serão as mentiras, a difamação. Mas e as legais?
O recém-nomeado embaixador norte-americano Pede Hoekstra, apesar de ter sido gravado e filmado a dizer que o movimento islâmico queria lançar o caos na Europa, negou-o até à última, afirmado tratar-se de... notícias falsas. O presidente francês quer fazer aprovar leis que impeçam o surgimento, divulgação e difusão de notícias falsas, que permita aos juízes retirar conteúdos em linha ou bloquear acesso aos sites. "Se queremos proteger as democracias liberais, devemos ter forte legislação", diz Macron. Como escreve a Veja,
"um órgão estatal ficaria encarregado de vigiar as transmissões para detectar tentativas desestabilizadoras controladas ou influenciadas por outros países. Mas quem tiver o poder de retirar conteúdos do ar o fará de forma isenta? Qual o risco de que essa prática esbarre na censura pura e simples? O governo francês, é óbvio, não sabe dizer. Além do risco, há o perigo de que reportagens e posts verdadeiros sejam confundidos com notícias falsas e deletados".
A Alemanha está a preparar uma lei que castigue quem difundir notícias com "mentiras e difamações". Um grupo de trabalho, criado no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, chegou a propor a possibilidade de se retirar conteúdos colocados por perfis falsos, ainda que as informações divulgadas sejam verdadeiras". Pretende criar-se uma norma punitiva de quem fabrique notícias falsas ou as propague "com o intuito de influenciar os eleitores". Foi já feito um pedido de cooperação com o FBI norte-americano "para que
especialistas venham ao Brasil nos próximos meses compartilhar a
experiência das eleições americanas de 2016". Isto soa-lhe familiar?
O acesso a informação credível é o coração do que faz uma democracia efectiva, ainda que muitas pessoas achem difícil diferenciar informação factual e bom jornalismo da propaganda. Crescentemente, informação imprecisa é partilhada nas redes sociais e ecoam em numerosos tipos de plataformas". (...) Algo que se tornou "fonte de preocupação durante recentes processos eleitorais na União Europeia". (...) A falsa informação tem por objectivo minar o funcionamento das instituições políticas ou decisões democráticas, bem como propaganda patrocinada por Estados destinada a influenciar as eleições ou a reduzir a confiança nos processos eleitorais"
Por contrapartida à disseminação dessas notícias falsas, já se
prepara uma forma de ampliar a divulgação daquelas que serão
consideradas notícias verdadeiras. As redes sociais contribuem com o poder instituído. As marcas Facebook e Google - duas marcas que andam a delapidar as receitas publicitárias dos órgãos de comunicação social nacionais - já entabularam contactos para arranjar formas de fazer circular em maior número as notícias verdadeiras, indo ao encontro das decisões na União Europeia que
Ora, como se pode verificar o problema das notícias falsas vai muito para lá do princípio tão pacífico a todos, como seja o de punir quem aldraba, mente e, assim, interfere no que pensam os cidadãos.
Ora, o que esta guerra aparenta ser é precisamente uma guerra pelo monopólio da mentira e da capacidade de desinformação social. Todos os dias apercebemo-nos dessa manipulação e desinformação, em qualquer assunto. Ainda há pouco se tornou conhecido que o Banco Mundial manipulou dados sobre o Chile para atingir o governo de esquerda, de Bachelet. Faz parte da guerra, vem em todos os manuais. A questão é saber em que guerra estamos, todos os dias, a participar. Mais não seja por omissão.
Mas neste caso concreto, os jornalistas acabam por alinhar nesta guerra ao lado das iniciativas oficiais, também porque as redes sociais - para o bem e para o mal - representam a sua perda do monopólio de intermediação com os cidadãos, com pesados efeitos nas receitas de publicidade dos órgãos de comunicação tradicionais, que se traduzem em despedimentos sucessivos de jornalistas, deteriorando a informação.
Ora, o que esta guerra aparenta ser é precisamente uma guerra pelo monopólio da mentira e da capacidade de desinformação social. Todos os dias apercebemo-nos dessa manipulação e desinformação, em qualquer assunto. Ainda há pouco se tornou conhecido que o Banco Mundial manipulou dados sobre o Chile para atingir o governo de esquerda, de Bachelet. Faz parte da guerra, vem em todos os manuais. A questão é saber em que guerra estamos, todos os dias, a participar. Mais não seja por omissão.
Mas neste caso concreto, os jornalistas acabam por alinhar nesta guerra ao lado das iniciativas oficiais, também porque as redes sociais - para o bem e para o mal - representam a sua perda do monopólio de intermediação com os cidadãos, com pesados efeitos nas receitas de publicidade dos órgãos de comunicação tradicionais, que se traduzem em despedimentos sucessivos de jornalistas, deteriorando a informação.
E ainda se fala de proteção da democracia contra as notícias falsas....
Trata-se, antes, da luta pelo monopólio de informar. E da forma de informar. Sempre o foi. Agora são as notícias falsas, mas antes era a difamação, conceito sempre usado contra os jornalistas quando apresentavam factos que contrariavam a versão oficial. E nesse capítulo os magistrados eram também um elemento da equação.
Trata-se, antes, da luta pelo monopólio de informar. E da forma de informar. Sempre o foi. Agora são as notícias falsas, mas antes era a difamação, conceito sempre usado contra os jornalistas quando apresentavam factos que contrariavam a versão oficial. E nesse capítulo os magistrados eram também um elemento da equação.
Recordo-me sempre daquela sentença do Supremo Tribunal de Justiça português em relação a uma notícia em que participei, sobre uma avultada divida fiscal do Sporting Clube de Portugal, em que o douto magistrado escreveu algo como isto: mesmo que uma notícia seja verdadeira não deve ser publicada se põe em causa o bom nome da instituição. O jornal Público teve de pagar uma multa de 75 mil euros e depois o Tribunal Europeu, considerando que o direito de informar tinha sido posto em causa pels sentença, obrigou o Estado a ressarcir o jornal. O clube queixoso ficou com o dinheiro...
É o poder, estúpido. E a sensação de se estar a perder o pé num mundo em desequilíbrio. Ou talvez uma reformatação na superestrutura da sociedade.
20 comentários:
Em tudo se presume um mundo em que a opinião sobre a notícia é livre.
«E ainda se fala de proteção da democracia contra as notícias falsas....»
Ainda muito bem, que o número de treteiros aumenta desmesuradamente com o aumento dos meios de propagação da treta.
Vejamos o PCP e o Bloco: toda a sua ideologia conduz a uma sociedade contrária à Constituição; dizem que a ela se conformam enquanto não a podem derrubar . A democracia aguenta estas cenas com limites para a sua acção, que inclui a falsidade do que tal gente possa inventar para levar a água ao seu moinho. Na democracia abrilesca isto só é tolerado à esquerda, mas imagine-se se à direita houvesse igual privilégio.
No caso mais simples, todo o soberanista estará de acordo a que poderes estrangeiros não interfiram ditecta ou indirectamente em processos de soberania nacional.
A prática de conformar a notícia à opinão é matéria de fácil observação e é mais que justo que haja penalidades para tais treteiros.
Assegurar a pluralidade de opinião é outra matéria que está sujeita a uma simples manifestação de princípio; no exemplo do LdB: se todos fizessem dos meus comentários o que faz o Bateira, haveria o blog de se assumir como espaço militante de uma qualquer ideologia que haveria de definir.
Fica a questão de saber o que leva gente tão propensa a intervencionismos e regulações a perturbar-se com a acção contra as notícias falsas.
Adivinhem se este comentário é algo de falso, ou verdadeiro, implatado por um russo desejoso de provocar instabilidade nesta democrática União Europeia:
"De Tratado em Tratado -não sufragados democraticamente- os povos de esta "União Europeia" -dirigida por burocratas não eleitos- desliza, incontrolada, para um desastre cultural de proporções continentais, ao chamar para dentro de si -de forma abusiva, não democrática- gerações jóvens de uma outra cultura, inassimilável e culturalmente agressiva".
Óbviamente um comentário a ser apagado, por quem de direito.
Ó Joseph, quem é incapaz de ter um mandato que não viole várias vezes por ano a constituição é o teu clube.
Quanto ao tema, desconfio que a UE se prepara para se ilegalizar a si própria e à sua propaganda, e quando a máscara cair, vai ser bonito.
Lá estão a picar o presidente de direita... que está a respeitar a geringonça.
Querem que ele "faça o que é devido" ?
O que é devido para a direita é fazer tudo para derrubar o governo apoiado pela esquerda.
É isso que querem ?
Francamente não percebo isto.
São necessárias bases alargadas de apoio para se conseguir seja o que for em política.
Essa do antagonizar todos os outros quando se está numa situação de inferioridade, até as outras esquerdas e os moderados de centro e direita com quem se possa trabalhar é das coisas mais espantosas da esquerda.
Graças a isto estamos há 40 anos com governos de direita - enquanto a esquerda vai "protestando".
Diz o treteiro-mor...
1984 pela mão dos "democratas" europeístas!
Muito bom , excelente comentário.
Com um rigor e uma descrição factual que faz sentir saudades de um jornalismo objectivo e não cego
A prova provada é a pressa do comentário resposta do nickname Jose, apanhado, atrapalhado e aflito pela qualidade do texto e pela denúncia daquilo que demonstrou prezar durante largos e largos anos-a Censura
Que saudades, não é mesmo?
Há que contudo chamar a atenção para uma questão que se prende com a credibilidade.
Pelo facto da nova ordem ser o apelo à venda da alma ao diabo tal não significa que Jose deixe de respeitar um período tido como conveniente de luto.
Não,agora não falamos do descarado babar do Jose quando ouve falar da "protecção mediática". Adivinha-se transparentemente a sanha de censor na forma como concorda e se regozija com o calar do "número de treteiros (que) aumenta desmesuradamente com o aumento dos meios de propagação da treta".
( por acaso, se ele não estivesse mais interessado em incensar a actividade repugnante de censor, repararia que as tretas que diz cabem exactamente no denunciado pelo João. Ou seja, na sua actividade de propagandista acaba por vestir de forma completa e ingénua o fato revelado pelo autor do post)
Mas porque falamos num período de nojo a respeitar por quem agora tem que vender a alma ao diabo?
Porque não são credíveis os exercícios acrobáticos quando estes exercícios desmentem duma forma violenta quem os executa
Por exemplo sobre a Constituição:
" PCP e o Bloco: toda a sua ideologia conduz a uma sociedade contrária à Constituição"
Só uma gargalhada pode pontuar esta enormidade. A bendita Constituição alvo do mais esgadanhado ódio de Jose é agora transformada como por artes mágicas em "amiga" e contrária a quem a defende?
Ouçamos o Jose antes desta sua entrada directa no mercado de venda ao diabo:
"outros que sustentem a Constituição"
"Respeitar a Constituição (que) foi sempre o salvo-conduto de vigários"
" o Governo (que) desista de governar com semelhante aborto constitucional!"
"Trata-se ( a Constituição") do último bastião das duas gerações que se apropriaram do destino das duas gerações seguintes por processos que caricaturaram um golpe militar em revolução para melhor se apropriarem de riqueza inexistente"
" A Constituição dos oportunistas de Abril"
Mas então e o apelo directo à violação da Constituição, nos idos anos em que o TC cortou o passo ao crime, com o "parece ser inconstitucional: pois bem, terá de ser à bruta!" ?
Não. É preciso alguma seriedade no debate e alguma distância antes que jose se deixe mercadejar pelo diabo
"É mais do que justo que haja penalidades para treteiros"
Não se sabe o que apreciar mais:
-Se o pendor de Censor
-Se o amante pela punição, num jogo sado-masoquista típico.
-Se a incapacidade de se olhar ao espelho
-Se o treteiro a fazer-se de idiota apelidando quem não lhe segue os mantras ideológicos como treteiros.
Isto tudo é para quê?
Para ver se proíbem e penalizam quem enfrenta os treteiros como o jose?
"Todo o soberanista estará de acordo a que poderes estrangeiros não interfiram ditecta ou indirectamente em processos de soberania nacional".
Isto está cómico.
Então um vulgar vende-pátrias que passa o tempo a defender a hipoteca do país e a perda da soberania em função das suas dívidas aparece aqui a dar o dito pelo não dito?
Isto não é mudar de camisa . Isto é ser mais rápido do que o Speed Gonzalez a cumprir as ordens de se venderem ao diabo
( Para além desta pressa toda a cumprir as Novas Ordens da Ordem Nova nota-se contudo que Jose mantém aquele estilo de velho queixinhas, que, não contente com os insultos e as barbaridades que debita, vem carpir as suas mágoas por quem não está para lhe aturar a propaganda néscia e o jeitinho um pouco para o torpe.
Género boicote ao que se debate.
Mas pode o dito jose ficar descansado. Escreve por tudo o que é blog e pontifica nalguns dos antros mais significativos do neoliberalismo caceteiro. Com um carácter ainda menos civilizado e francamente mais insultuoso.
E aí não vemos esta pieguice dum promotor de penalidades armado em queixinhas pueril e patético
Excelente chamada de atenção, o mundo a mudar a uma velocidade e os cidadãos a reagir a outra, é isto que temos e é a isto que assistimos.
«...apanhado, atrapalhado e aflito...» Só falta a associação dos odores.
O Cuco é o verdadeiro progressista: enfrenta o ridículo sem hesitação alguma.
Para quem não tenha percebido, o treteiro-mor é o sr. José.
Quanto ao post, excelente e certeiro. A UE já não vale nada, diga-se em abono da verdade, depois do escândalo que foi o tratamento dado à Grécia, o silêncio quanto aos presos da Catalunha. Quando se escuta uns idiotas a dizerem que a UE é o "garante da democracia e da liberdade" até dá um calafrio, pois ou são cegos, ou são surdos, ou, muito pior, são burros.
Ver a UE caminhar na direcção da censura é uma boa medida de decadência em que esta coisa se encontra.
Quem anda com um cuco atrás parece que é sinal claro que "enfrenta o ridículo sem hesitação alguma".
Mas adiante que o que é mesmo importante é o que já aqui disseram sobre a máscara que vai caindo a estas elites decadentes e a cada dia que passa mais sinistras.
(E ir sorrindo perante a imagem do dito Jose a vender-se ao diabo desta forma tão apressada.
«...apanhado, atrapalhado e aflito...» com os odores lá do sítio que o jose quiser e frequentar)
Excelente análise, como é hábito do JRA.
Estamos em presença de novas formas de censura, publicitadas amplamente pelos seus promotores (sobretudo a classe política do Ocidente) e pelos seus autores (as grandes empresas donas das redes sociais eletrónicas), que têm contado no mínimo com a cumplicidade da generalidade dos meios de comunicação social tradicionais e dos jornalistas. Isto tem a vantagem de tornar evidentes as cada vez maiores limitações das atuais ditas “ democracias liberais “. E tem também o poder de tornar o que resta dessas democracias europeias algo cada vez mais parecido aos regimes autocráticos que os atuais donos destas “democracias” dizem querer combater.
Partilho convosco, não sem uma pontinha de incredulidade um artigo sobre as declarações de George Soros (que espero que dispense apresentações) em Davos.
https://phys.org/news/2018-01-soros-google-facebook-days.html
Porquê a perplexidade?
Porque são públicas e notórias as ligações de Soros aos Democratas (partido) dos USA. E são também públicas e notórias as tendências das administrações e "internal governance" das redes sociais e especialmente do Facebook contra Trump e a favor dos liberais globalistas.
Neste contexto as declarações de Soros são surpreendentes e parecem ir ao arrepio dos seus confessados interesses.
Claro que nesta equação entre liberais globalistas e libertários plutocratas sobra muito pouco espaço para qualquer posição progressista.
Que se passa?
S.T.
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