segunda-feira, 15 de junho de 2015

Antes o poço da sorte que tal morte


Estamos no início de mais uma “semanas decisivas”, uma das muitas que têm marcado o impasse entre as instituições europeias, o FMI e o governo grego. Este prognóstico recorrente tem um fundamento. É crescentemente evidente que há um impasse e é também crescentemente evidente que o impasse é político. Não tem nada a ver com a restruturação da dívida ou as metas do saldo primário. E também não tem a ver com “trabalho” como gostam de dizer os dirigentes europeus. O centro da divergência são as medidas a implementar e as posições parecem irredutíveis.

O caminho para esta irredutibilidade é, no entanto, bastante diferente. Enquanto o governo grego já deixou cair várias das suas propostas, a reestruturação da dívida, incluiu algumas exigências das instituições, comprometeu-se com metas pouco sensatas para o saldo primário, as instituições estão essencialmente imóveis. A posição actual da Europa é muito próxima do seu ponto de partida, sobretudo no que à política diz respeito. De tal forma é assim que várias das medidas que estão a ser exigidas ao novo governo grego constavam do programa… de Samaras.

Hoje, de entre as medidas que estão a ser exigidas, constam cortes nas pensões equivalentes a 1% do PIB e um aumento do IVA que garanta uma receita adicional também de 1% do PIB. Só estas duas exigências do FMI resultariam numa contracção do PIB entre os 1,8% e os 3,4%, de acordo com os cálculos do… FMI. Ou seja, se aplicarmos a estas medidas insanas os resultados do estudo realizado pelo próprio FMI, o que está a ser proposto governo grego é que mergulhe deliberada e conscientemente a sua economia numa nova recessão económica. Ora, parece cada vez mais claro que isso não vai acontecer.

À medida que o impasse se prolonga, a linguagem de alguns dirigentes europeus vai assumindo um tom colonial crescente. A vontade dos eleitores gregos é um dado ausente desta discussão. A sua “posição negocial” é simples: o governo grego deve aplicar a política que as instituições “recomendam” e que produziu os resultados que hoje podemos observar.

Este impasse coloca o governo, mas também o povo grego, perante um impasse. Se o governo tem, um mandato para rejeitar mais austeridade, tem também um mandato para manter a Grécia no Euro. E é cada vez mais evidente que o falhanço de um acordo político acarretará a continuação do corte no financiamento europeu, que significará, a curto prazo, um incumprimento por parte da Grécia, de consequências imprevisíveis. As sondagens na Grécia reflectem e replicam a contradição que o governo grego enfrenta:
  1. Os gregos apoiam maioritariamente o governo e o Syriza aparece com votações semelhantes ou superiores, conforme as sondagens;
  2. A esmagadora maioria rejeita a saída do Euro (o que tem sido muito referido);
  3. A esmagadora maioria rejeita as novas medidas de austeridade propostas pelas instituições europeias e pelo FMI (o que tem sido bem menos referido).
Esta contradição só poderá ser superada ou através de uma expulsão da Grécia do Euro por parte das instituições europeias ou pela renovação do mandato democrático deste governo, seja por via eleitoral ou referendária. Qualquer que seja o desenlace deste impasse, é hoje impossível imaginar que os gregos sigam pelo caminho conhecido que os trouxe até aqui. Entre um confronto aberto com as instituições europeias com resultados incertos e imprevisíveis e a desgraça certa e previsível que lhes está a ser impingida, a decisão não é assim tão difícil. Se as instituições europeias apostam que no fim os gregos acabarão por baixar a cabeça, é capaz de vir a ter uma surpresa.

8 comentários:

Anónimo disse...

As "Instituições Europeias" não conseguem imaginar que os gregos estão a falar a sério.
Também me parece que vão ter uma surpresa impecável.

Jose disse...

Sou todo a favor da posição de cabeça dos gregos - levantada, orgulhosa e entregue a si mesma!

Anónimo disse...

Claro que o das 21 e 29 está a favor da posição de cabeça.
Também o estava da posição de cabeça no caso da TAP e dos 10 milhões arrecadados pelo Estado.Até escreveu que achava demais, naquele seu jeito peculiar de defender os agiotas e as negociatas dos amigos, entre os quais a governança. Portanto ficou aliviado como cavaco.

Mas porquê tudo isto?
Porque o desejo confessado duma Grécia entregue a si própria, como castigo pelo facto de não obedecer aos ditâmes da troika, vai de encontro a um profundo incómodo. Que diacho.A posição de subserviência face aos troikistas, a que se associa uma clara traição aos interesses nacionais ( outros miguel de vasconcelos) fica um pouco ofuscada perante a atitude do povo grego de recusar o ultimato tão querido e tão defendido pela trupe caseira que tenta que falemos em alemão.
O afundar da Grécia numa crise ainda mais profunda é um sonho húmido dos que querem fazer deste exemplo , um exemplo vacinal para os restantes países ( Portugal incluído). Uma aliança que reúne toda a tralha europeia, toda a tralha troikista, todos os que pugnam pelos interesses do Capital acima dos interesses dos cidadãos.

Mas há outros motivos para este ruído de fundo. Apagar da ribalta informações como esta:

"A Comissão de Auditoria tem na sua posse um documento que prova que o FMI sabia desde março de 2010 que com o memorando aplicado na Grécia a dívida grega aumentaria. O Presidente do Parlamento grego Zoe Konstantopoulou e coordenador científico da Comissão de Auditoria da dívida grega, Eric Toussaint, fizeram ontem referência ao conteúdo deste documento.

“Temos um documento interno do FMI de março de 2010, detalhando as medidas previstas para inclusão no memorando de 2010. É um plano muito detalhado e pré-definido que não foi comunicado nem aos parlamentos dos catorze países da União Europeia que emprestaram à Grécia nem ao Parlamento grego. Porque, como se sabe, houve uma violação da Constituição grega em maio de 2010, quando foi celebrado o acordo “, disse Toussaint. Durante o nosso trabalho, também conseguimos destacar que os meios utilizados para reestruturar a dívida grega em 2010 foram absolutamente prejudiciais, porque os direitos às pensões na Grécia e dos cidadãos gregos que detinham títulos do Estado foram sacrificados. Por exemplo, mais de 50% das compensações para alguns empregados da “Olympic Airways”, que tinham recebido títulos do governo após a sua demissão involuntária, não tiveram qualquer medida de compensação. No entanto, os grandes bancos privados que participaram nos cortes, receberam uma compensação de € 30000000000, que foram adicionados à dívida pública grega “, disse Toussaint"
https://observatoriogrecia.wordpress.com/2015/06/14/eric-toussaint-denuncia-o-fmi-sabia-que-o-memorando-iria-aumentar-a-divida-grega/

Há quem esteja do lado dos bancos e dos agiotas,novas espécies de traidores hodiernos. Há quem lute pelos que são sacrificados e roubados.

De

Jose disse...

Mais 14 dias de tragédia grega? Não há pachorra.

O princípio progressista de que toda a asneira constitui direiro irreversível é o centro desta opereta de mau gosto que são os direitos dos cidadãos gregos.

E se agora se revoltam contra o direito do resto da Europa de defender os seus contribuintes e dizer não, não hesitam - os palhaços - em responsabilizar a Europa por não ter dito NÃO quando os gregos progrediam na asneira.

Anónimo disse...

("Não há pachorra" faz cheirar a algum tipo de atitude histriónica.
Mas adiante)

Não conheço nenhum pricípio progressista referente às "asneiras" e aidnda por cima classificadas como "direito irreversível"
Apela-se assim a alguma contenção antes de se verbalizarem desta forma tais disparates.

Também se faz lembrar que a defesa dos "contribuintes vindo de quem defende a governança e os Swaps e as PPP e as trafulhices do BPN ( são peanuts diria este sobre este caso) traduz bem que a questão está muito para lá desta tempestuosa invectiva prenhe de rancor.

Quando se fala em contribuintes também se esquece outra coisa. É que o que estamos a pagar pelos juros duma dívida muito odiosa é sacado precisamente precisamente aos contribuntes portugueses...para que a banca, os banqueiros e os grandes interesses económicos prosperem

Uma dúvida final.
Terá sido esta frase a despertar tal "comentário" esbaforido do das 11 e 25?:
"Os grandes bancos privados que participaram nos cortes, receberam uma compensação de € 30000000000, que foram adicionados à dívida pública grega"

(A nomenclatura "palhaços" é algo que constitui mais uma indicação do que se fala e de que se fala)

De

Unknown disse...

Eu mesmo mal informado pelo que vejo do comportamento do Tsipras e cª parecem-me uns irresponsaveis. Sairem de Bruxelas a dizer uma coisa e duas horas depois em Atenas dizerem o contrario parece-me uma brincadeira ao nosso estilo de 1975 PREC.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Está mesmo mal informado, António Cristóvão. E está mal informado porque o querem informar mal. Nas reuniões do Eurogrupo não se fazem actas. Quem é que pede que se façam? O governo grego. Quem é que recusa? Os outros governos. Para quê? Para que ninguém possa estar bem informado.

Anónimo disse...

http://geopolitics.co/2015/06/18/greek-debt-committee-just-declared-all-debts-illegitimate-and-odious/ -------------Jorge