quarta-feira, 10 de junho de 2015

O primeiro-ministro insiste (e nós também)

Dando sequência ao repto lançado na segunda-feira, Passos Coelho perguntou ontem aos jornalistas se já tinham descoberto alguma frase que comprovasse o seu incentivo a que os jovens portugueses emigrassem. E quando confrontado com a sua resposta a uma entrevista concedida em Dezembro de 2011 (em que aconselhava os professores desempregados - muitos deles jovens, naturalmente - a emigrar e a encontrar alternativas no «mercado de língua portuguesa»), Passos Coelho puxou de novo pelo argumento demográfico, sugerindo que a ideia que procurou transmitir nessa entrevista é a de que «nós temos infelizmente cada vez menos crianças e portanto as nossas escolas estão a ficar com menos alunos. E se temos menos alunos não podemos ter todos os anos mais professores, como é evidente.».

Como é evidente? É tudo menos evidente, senhor primeiro-ministro. Vamos aos factos:

a) Entre o ano lectivo de 2010/11 e o ano lectivo de 2012/13 (dados mais recentes), a redução percentual negativa do número de docentes é superior - tanto no ensino básico como no ensino secundário - à diminuição percentual do número de alunos. Em termos globais, regista-se de facto uma redução na ordem dos -11% se considerarmos todos os alunos matriculados (isto é, incluindo os adultos) e de -1%, se considerarmos apenas as crianças e jovens. Valores que comparam com uma redução do número de professores na ordem dos -16%.


b) Esta discrepância de valores sugere que se verificou um despedimento de professores nos últimos anos muito acima daquele que os efeitos da demografia permitiriam justificar. Isto é, que a dispensa massiva de docentes, nestes anos de austeridade, vai muito para lá do simples «ajustamento» do contingente de professores aos impactos da quebra da natalidade na diminuição da população escolar. De facto, se se pretendesse manter a proporção de alunos por docente que existia em 2010/11, nos diferentes níveis de ensino, apenas teria sido necessário dispensar globalmente cerca de 630 professores, e não os 23 mil que foram despedidos no período considerado (cálculos aqui).


Do que se tratou portanto foi de uma clara ofensiva ideológica contra a escola pública, a coberto do Memorando de Entendimento assinado com a troika e com o recurso demagógico ao falso argumento da demografia. Como é evidente, senhor primeiro-ministro.

20 comentários:

R.B. NorTør disse...

E como é evidente, quem não vê nisto uma «reforma» do Estado é porque está a precisar de mudar as dioptrias.

Luís Lavoura disse...

No blogue O Insurgente há um post de resposta a este.
Segundo ele, antes de 2011 Portugal estava com um claro excesso de professores (em relação à média europeia).

Anónimo disse...


E mesmo assim continua com professores a mais comparando com países bastante mais desenvolvidos que Portugal como: Alemanha Áustria Holanda etc.

cumps

Rui SIlva

Anónimo disse...

Num blog qualquer há uma resposta a este?

Mas vejamos.O que está em causa é mais outra aldrabice rotunda do gerador de mitos urbanos.
Coelho dixit: "Nós temos infelizmente cada vez menos crianças e portanto as nossas escolas estão a ficar com menos alunos. E se temos menos alunos não podemos ter todos os anos mais professores, como é evidente.
O que se comprova é que se verificou "um despedimento de professores nos últimos anos muito acima daquele que os efeitos da demografia permitiriam justificar. Isto é, que a dispensa massiva de docentes, nestes anos de austeridade, vai muito para lá do simples «ajustamento» do contingente de professores aos impactos da quebra da natalidade na diminuição da população escolar."

Claro como água...

Agora vir invocar um bloc manhoso em defesa do acanalhado personagem tentando esconder o que de facto este disse não pode passar.
O referido argumento demográfico cai por terra. BUMMMM. Com estrondo. O que resta então? Tentar tapar o aldrabão compulsivo com os "académicos " do bas fond blogueiro, invertendo o que está em causa.

E que infelizmente para os "académicos" ( à poiares) permite tirar a simples conclusão que o autor do post assinala no fim:
"Do que se tratou portanto foi de uma clara ofensiva ideológica contra a escola pública, a coberto do Memorando de Entendimento assinado com a troika e com o recurso demagógico ao falso argumento da demografia. Como é evidente, senhor primeiro-ministro."

Nota final: o apetite pelo fim da escola pública e pela degradação das condições de ensino vem de longe.E de sítios bem abjectos Mas isso fica para depois

De

R.B. NorTør disse...

Na questão dos «professores a mais», seria interessante as ligações ou a apresentação de dados que demonstrem como se determina o «a mais» ou o «a menos». Isto porque há dois aspectos que têm de se considerar. São eles o rácio alunos/docente e o número de alunos por turma. Isto é relevante porque o principal factor que mudou no ensino público, e que serve de argumento para o «excesso» de docentes é precisamente o factor número de turmas, que foi reduzido depois de se mexerem nos números de alunos permitidos por essa unidade.

O subsequente da discussão será em torno do mais ou menos alunos por turma, mas parece-me que isso já foge ao tema deste post.

Anónimo disse...

No insurgente temos um post do dos calções... grande jovem inconomista encostado!

Anónimo disse...

E está aqui o link.

http://oinsurgente.org/2015/06/10/quando-falham-os-factos-resta-a-manipula-los/

Anónimo disse...

E já agora este também.

http://oinsurgente.org/2014/08/19/mitos-e-falacias-sobre-os-professores/

Anónimo disse...

A propaganda, talvez involuntária a um blog manhoso, permite confirmar o aqui já dito várias vezes.
A horda neeliberal tem que replicar ad nauseam o seu argumentário , repetindo até à exaustão os seus axiomas, para os fazer passar como algo de verdadeiro ou de credível.

A tentativa de desviar o tema do post é notória. Repetida por anónimo e confirmada por um tal pinto, carlos pinto. Este vai de encontro dos preceitos anónimos ou vice-versa. O objectivo é o mesmo. O de tapar como uma mancha de óleo, o denunciado sobre um mentiroso que, mais do que compulsivo, faz da propaganda abjecta o seu trilhar político.

Percebe-se o afã ideológico do pinto e de alguns. Há um que até remete para o discurso bolorento e desonesto do sr pinto ( um "académico" como o poiares à espera de convite para a governança? Ou apenas também mais um medíocre e néscio propagandista do neoliberalismo?) A tentativa de encetar uma discussão paralela é óbvia. Provavelmente o pinto tem que ver se faz dinheiro com a sua tralha ou tem que impingir a sua fé no mercado e no capital.

Para incomodidade do pinto e do anónimo o tema não é aquele que nos querem agora impingir.

Pelo que, sorry pinto, sorry anónimo.Mas os argumentos em defesa do passos deviam ser mais consistentes e mais presentes. E não esta prova provada da desonestidade discursiva ( logo, intelectual) para ver se passa.

De

Anónimo disse...

Para que não haja qualquer mal entendido e sublinhando mais uma vez a desonestidade intelectual do tal carlos pinto, registe-se que a educação e o tema para o qual agora querem fugir, já foi aqui bastas vezes discutido. E recentemente.

Por exemplo, nestes posts do mesmo autor deste:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/10/dos-consensos-perdidos-na-educacao-i.html
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/10/cortar-para-la-do-osso-preservando-as.html
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/12/da-novilingua-em-educacao-eficiencia.html
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/10/cortar-para-la-do-osso-preservando-as.html

Não consta que o sr pinto se tenha dado ao "trabalho" que agora se dá.
Mas agora estava em causa a figura tutelar do passos e da sua "integridade". Pelo que se quer mais um numerozinho circense, tão típico dos boys...de chicago. Achou-se que era altura de ir buscar o breviário a ver se passava

De

Anónimo disse...

Professores a mais, professores a menos e o ensinar/aprender prás ortigas.
Penso que, isto do ensino tem muito a ver com ciência e tecnologia, com seus vetores centrados na juventude e sua criatividade, em consequência a produtividade e qualidade do trabalho/desenvolvimento sustentável e etc.
Ora não seria melhor debruçarmo-nos sobre o ensino propriamente dito, tendo em conta o respeito pelo vosso trabalho?
Sabemos que um trabalhador, que neste caso e´ professor, necessita de remuneração adequada. Pois que se lhe de essa remuneração!
No entanto preferia, antes de mais, saber se esse trabalhador esta´ capacitado ou não para exercer essa nobre profissão ou se e´ um mero problema de emprego.
O Estado ”Novo”, ditatorialmente, fez escolas por tudo quanto era lado, a´ medida do seu tempo. Este Estado “Novíssimo”, democraticamente, fechou-as, vendeu-as ou simplesmente destruiu-as. Questiono. E´ ou não e´ um direito/dever constitucional um ensino de qualidade para todos os portugueses?
Por Adelino Silva


Jose disse...

«uma clara ofensiva ideológica contra a escola pública»

Mais que uma ofensiva à escola pública é uma defensiva aos bolsos do contribuinte; que ainda há por aí uns tótós que acreditam dever acomodar no Estado todo o produto de quanto instituto formativo que seja criado para acomodar e produzir professores.

Houve um tempo para as fábricas de tijolos.
Um outro tempo para cafés e restaurantes.
Um outro - mais resiliente - para produzir professores nas mais desconcertadas artes.
Chegou o tempo do contribuinte, que tem desde já que pagar a dívida de 40 anos de forró mais as pensões majoradas, dentre elas as de pilhas de professores feitos por decreto!

Anónimo disse...

Para o DE:
Um argumento simples desse tal blogue seria: bem, este ajustamento para lá do efeito demográfico é o ajustamento, na prática, para compensar o efeito demográfico dos anos anteriores em que não houve redução de professores nenhuma. Não vejo que seja um mau argumento. Resta saber se é válido.
Esse mesmo blog fala de valores de alunos por professor em Portugal abaixo da média da OCDE, mas realmente não vejo forte razão para considerar esses professores(supostamente a mais) que nos metem abaixo da média, um desperdício, muito pelo contrário.

Eu entendo que este post do Nuno Serra seja apenas para mostrar que PPC está enganado nas suas declarações. Nem estou a falar disso.

Anónimo disse...

Segundo a imprensa internacional ,este juiz já não sabe o que fazer ......está-se adivinhar um escândalo para a justiça se não se arranjarem provas sem serem manipuladas por alguém ,depois é que a justiça Portuguesa que já agora é apontada como muita má ,vai ter uma imagem não só em Portugal como no estrangeiro péssima e degradante .vamos espera para ver .Será que isto é tudo uma manobra partidária ???Será que esta direita que nos governa está bem de saúde ???Será que que isto é tudo um complô ,para queimar outro partido da oposição ???O TEMPO VAI DIZER A VERDADE !!!Por Anti-partidario

Anónimo disse...

é perguntar ao tabaco silva quantos "institutos formativos privados de professores" foram criados durante a sua governança...

Anónimo disse...

Para o anónimo das 19 e 13:
Foi precisamente para também tentar evitar qualquer mal-entendido que coloquei aí em cima alguns links. Para tentar também mostrar que , apesar do tema ser outro, a focalização ( como ponto de fuga) numa questão mais ampla mereceria um outro debate. Honesto e sem a leviandade dum pescador de águas turvas , como esse tal sr carlos pinto.

Mas o reler o post permitiu-me verificar que por engano repeti um dos links. Aqui vai a correcção:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/12/dispensa-massiva-de-professores.html

Quanto ao das 18 e 21, que fala na produção "de professores nas mais desconcertadas artes" estranha-se ( ou não ) que tal parta exactamente do mesmo fulano que proclama expressamente o seu rancor a todo o conhecimento, científico ou outro que seja, ampliando tal rancor à cultura e às artes. Não deixa de ser curioso que seja este último termo ("artes") o utilizado para caracterizar a situação. Esse mal estar perante o conhecimento terá relação directa com a dificuldade que patenteia na interpretação do que se escreve?

Mas este ódio à cultura e às artes não é exclusivo do fulano em causa, antes tem paralelo com o seu universo ideológico. Por exemplo o sr Carlos pinto, esse mesmo, é um tipo que achava que se a Maria João Pires saísse do país seria «uma parasita a menos".

Quanto à pieguice mostrada pelo das 18 e 21 em relação aos contribuintes ainda mais se estranha tal facto. Porque vindo do mesmo sujeito ( mais uma vez) que saudou em termos idos e de modo compreensivo a fuga aos impostos do soares dos santos. Vindo do mesmo fulano que considerou como questão menor o saque do BPN. Do mesmo que exultou com os perdões fiscais aos grandes grupos económicos e aos banqueiros pelos quais passou a vida a defender e a adular. E do mesmo fulano que acha que os impostos são para a arraia-miúda, já que o grande capital tem que ser "aliviado" sob o ponto de vista fiscal, para poder garantir o seu "retorno justo".

Nessa altura não constava do seu registo esta atitude piedosa com o bolso dos contribuintes. Só agora manifesta pieguicimamente tal comportamento. O que se estranha ( ou talvez não).

De

Jose disse...

Língua de trapo dedicada à calúnia e aos processos de intenção, coloca-se a possibilidade de ser mais que tudo idiota (ou talvez sim) e de ter da cultura a sublime ideia de ser um processo de copy/paste de sortido amontoado de frases repescadas a partir de um qualquer índice de publicações recomendadas pelos patrocinadores de uma qualquer ideologia.

Anónimo disse...

Não há dúvida, que os comentários do José, fazem isto aqui cheirar mal. Éum condão que nem todos têm mas ele tem.
Que lhe faça bom proveito.

R.B. NorTør disse...

Ontem já não tive oportunidade de comentar. Para começar agradecer de facto os links. Não são publicidade, são a forma possível de apresentar dados numa caixa de comentários.

Como em tudo o que envolve estatística, ambas as opiniões estão correctas (a inversa também pode ser verdadeira). Ou seja, correlacionar as coisas é mais do que simplesmente fazer gráficos. Ou como diz a OCDE «These values should be interpreted with care since they are influenced by countries' specific contexts and trade-offs.» (http://gpseducation.oecd.org/, na secção Explore Data).

Por não ser blogger profissional nem ter um gabinete que me analise relatórios de 570 páginas numa base diária, não tenho capacidade para me debruçar sobre o Education at a Glance de 2014 (http://www.keepeek.com/Digital-Asset-Management/oecd/education/education-at-a-glance-2014_eag-2014-en#page1).

Este preâmbulo torna-se necessário pois falar sobre dados implica saber como foram conseguidos e eu não passo de um cidadão interessado, mas que tem um emprego e uma família que me tiram tempo o tempo necessário para perceber se os números apresentados, relativamente aos rácios de alunos por professor têm em consideração, ou não, coisas como o facto de no secundário uma turma raramente ter o mesmo professor a diferentes disciplinas. Imaginando uma turma de 30 alunos do básico, com 10 disciplinas (penso que com a educação cívico-religiosa o número andará por aí), isto dará uma relação de 3 alunos por professor. O que pode parecer muito baixo, mas que na realidade esconde que cada professor tem em mãos 10x mais alunos.

Agora vamos assumir que legalmente essa turma não pode ter 30 alunos, mas 28. Que deve ser feito aos outros dois alunos? Pode a escola recusar a matrícula? Se for privada, sim, se for pública, não é assim tão linear. Ao se partir esta turma para criar duas, está-se a criar uma necessidade de docentes, pois irão haver mais horas para serem trabalhadas em sala de aula e preparadas e mesmo assumindo que os anteriores 10 docentes continuarão as ser os mesmos (única alteração: alunos/turma), esses docentes faltarão noutro lado. Ou estarão em excesso se a alteração for de 28 para 30. Ambas são formas artificiais de dizer que temos professores a mais/menos, sem sequer alterar significativamente a estatística (apenas um indicador foi alterado!)

Por outro lado, o que faz pela consideração "professores a mais/menos" uma alteração do número mínimo para se abrir uma turma numa disciplina de opção? Antes de 2012 este número era de 10 (salvo outra informação, http://legislacao.min-edu.pt/np4/np3content/?newsId=1833&fileName=despacho_14026_2007.pdf , ao longo do ponto 5), depois de 2012 (portanto já não entrando no At a Glance citado ali em cima) este passou para 15 (https://www.portaldasescolas.pt/imageserver/plumtree/portal/matnet/Despacho_5106A_2012.pdf e https://www.portaldasescolas.pt/imageserver/plumtree/portal/matnet/Despacho_5048B_2013.pdf, salvo outra informação). Ou seja um aumento de 50% não uma redução de 50% no número de crianças. Estatisticamente, uma conjunto de 10 alunos que quisessem a opção XYZ, antes de 2012 correspondiam a 100% do mínimo, mas após 2012 apenas a 67%. Não houve uma alteração do número de crianças, não houve uma alteração da necessidade de um docente, mas na realidade aquele docente passou a estar "a mais".

R.B. NorTør disse...

Erro de contas ali em cima! Onde no último parágrafo se lê «não uma redução de 50% no número de crianças», deve-se ler «não uma redução de 33% no número de crianças».