sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Quem manda aqui?

Durantes meses a fio tivemos de suportar os euro-iludidos com a narrativa das eleições alemãs. Aguentem, depois é que pode começar a mudança na Europa, diziam. Agora que o SPD deu prioridade à frente interna, como se esperava que fizesse, até porque o consenso ordoliberal na Alemanha sobre a política europeia é sólido, qual é a próxima ilusão desmobilizadora com escala europeia? Talvez a mudança seja para depois das Europeias e assim sucessivamente. Enfim, repito-me:

A verdadeira mudança, a ocorrer, não será desencadeada à escala europeia, ao contrário do que insistem muitos europeístas. Terá de ocorrer, dada a lógica do desenvolvimento desigual e combinado, pelas periferias, país a país, ali onde a crise económica e social se faz sentir com uma intensidade impar e onde o esfarelamento das soluções políticas convencionais é plausível a prazo. Mais tarde ou mais cedo, aí será eleito um governo que tenha a coragem de um acto soberano democrático, recusando a chantagem austeritária e desobedecendo às regras europeias que bloqueiam tudo menos o neoliberalismo. Aí sim, as coisas começarão a mudar na escala de que a Europa ainda é feita, por contágio político e por acção inconsciente das forças económicas. O melhor é então agir como se tudo dependesse dos que aqui vivem, sem esquecer as articulações possíveis com outros na mesma situação, mas sem ilusões sobre a sobreposição da escala, internacional, das solidariedades mais ou menos abstractas com a escala, nacional, onde ocorrerão as mudanças concretas.

Foi por estas e por outras que colaborei na redacção deste guião político.

3 comentários:

ATS disse...

Chamo a atenção para um documentário exibido no Meo, canal Odisseia no dia 7 de Novembro com o título "Os negócios de Bruxelas" que explica em retrospectiva o estado a que chagamos e desfaz algumas reputações tidas até agora como adversas ao neoliberalismo. É assustador.

Anónimo disse...

Total e completamente de acordo com João Rodrigues.
Se não houver alguém em Portugal que diga á UE, á Troika e ao raio que os parta a todos (mas com especial carinho aos alemães), BASTA, nunca mais o nosso país deixará a escravidão.
Assim não interessa nem vale a pena estarmos na UE.

Alexandre de Castro disse...

As grandes mudanças na História são impulsionadas pelos povos, quando adquirem a necessária maturidade política, decorrente da sua situação desesperada, e que são enquadradas por lideranças que se opõem ao sistema a derrubar.Será por um dos países do sul da Europa que a corda irá partir, e, logo a seguir, suceder-se-ão séries de efeitos miméticos imprevisíveis. É como os incêndios na floresta. Basta um fósforo para atear as labaredas, mas ninguém poderá dizer a direção que o fogo vai tomar, tal é a imprevisibilidade da direção dos ventos.
A agitação social, fruto do descontentamento e do desespero, está a crescer, e, em 2014, face à dureza das políticas de austeridade,que, à partida, se sabe serem infrutíferas, em relação aos objetivos governamentais, é possível que alguém acenda o fósforo.