As previsões da OCDE indicam que o desemprego estará nos 16% em 2013, outro ano de uma recessão sem fim. Graças às políticas de austeridade, o desemprego aproxima-se oficialmente e a passos largos do primeiro milhão. Na prática, sabemos que já hoje o ultrapassou. O que recomenda a OCDE? Mais austeridade. Típico. Esta gente não aprende ou aprende demasiado lentamente. Ainda há muito pouco tempo a OCDE andava a recomendar, vejam lá, subidas nas taxas de juro por causa da inflação. A OCDE também já foi a campeã da desregulamentação das relações laborais, até os seus próprios estudos começarem a indicar que as dinâmicas de criação de emprego não passam por aí, antes pelo contrario. A teoria económica convencional, a economia zumbi, serve para ocultar estas chatices.
Rumemos do conforto de um think-tank pago pelos estados em Paris para Lisboa, mais concretamente para a Almirantes Reis, onde fica a sede do Banco de Portugal, o centro do consenso neoliberal em Portugal. O cada vez mais poderoso Banco de Portugal tem mais um clone para a política do façam força que eu gemo e nem disfarça: chama-se conselho das finanças públicas, uma instituição absolutamente desnecessária, até porque a AR já dispõe, e bem, de uma unidade técnica de aconselhamento nesta área. Insere-se este conselho na famigerada tendência para criar instituições ditas independentes do poder político democrático para orientar, “disciplinar” e conduzir as políticas económicas; instituições necessariamente dependentes do ponto de vista ideológico da tal economia zumbi.
Trata-se também aqui de criar mais lugares para economistas que, como bem sublinha João Galamba, acham a escolha democrática em matéria económica uma maçada que pode vir a parar a sua cassete de sempre: austeridade e mais austeridade, cortes na despesa, ou seja, nos serviços públicos, com mais ou menos diferenças irrelevantes na margem, já que o apoio à linha de desastre seguida é total. Querem sempre mais recursos, claro, agora para fazer ainda mais previsões furadas, já que a incerteza radical, a natureza endógena das variáveis com que lidam e a instabilidade gerada pelas políticas prescritas são inescapáveis. Para enfrentar a chata da realidade, mais vale estar vagamente certo do que rigorosamente errado, como dizia Keynes.
O desemprego para os outros deve, segundo economistas protegidos, ser acompanhado por ainda mais “reformas estruturais” para aumentar a insegurança laboral também dos outros. Facilitar os despedimentos só aumentará ainda mais o desemprego e as desigualdades, claro, sendo que a crise indica que despedir é demasiado fácil por esse continente fora, comprimindo ainda mais a procura. Pouco importa, já que o conta é fazer com que os salários baixem, mesmo que depois não haja poder de compra, mas apenas famílias insolventes, empresários viciados em estratégias medíocres e alguns economistas pagos para nos dar lições de moral.
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7 comentários:
Excelente texto!
Subscrevo!
Do que preecisamos é de mais teóricos e espertinhos com tacho, como estes:
http://margarida-alegria.blogspot.pt/2012/05/pretende-ganhar-um-magnifico-trem-de.html
Li, em qualquer lado, que é preciso "Juntar partidos, movimentos e cidadãos que não se reconheçam no capitalismo. Construir uma esquerda com a ambição de vencer que esteja comprometida com a luta pela a igualdade."
O resto, é chover no molhado e entrar em detalhes sobre algo que não só conhecemos bem, como há muito lhe sofremos as consequências...
Com a clarividência habitual o João Rodrigues relata as mentiras e as inverdades que são repetidas todos os dias por pessoas que estão por bem na politica e na sociedade. Falo dos hipócritas e dos ignorantes que são incapazes de pensar numa sociedade que sirva a todos, os imorais que se permitem pensar num mundo onde a vida pouco ou nada vale, onde a indecência é factor estrutural, onde a normalidade corresponde à aceitação do inaceitável, é verdadeiramente impensável o estado a que chegámos.
Para mim era ponto já assente que a “grande” OCDE, assim como o clube lusitano dos Chicago Boys (os amigos do Gaspar), conhecido por Conselho das Finanças Públicas, têm ambos um carácter essencialmente político, que pauta a sua actuação. Não são neutros, nem primam pela objectividade como poderíamos supor, ou melhor, desejar…
(Ainda existem algumas instituições internacionais – poucas – com alguma credibilidade, mas não esta OCDE)
Um destes dias estamos todos na maior miséria possível que nem se pode imaginar.
O estado só pensa em lançar mais impostos directos e indirectos.
Parece-me que isto já foi repetido vezes sem conta, só que o governo continua em não querer ouvir.
Sem empregos e distribuição de riquezas não passamos de mal a pior e assim sucessivamente.
Enquanto os mentirosos não tiverem medo em levar nas trombas quando saem à rua. nada feito. A guerra tem que começar.Imaginem uma luminária dessas a levar uma carga de porrada quando saísse de casa. Depois, numa cama do Hospital, com várias fracturas e hematomas, poderia reflectir sobre as consequências pessoais da sua ideologia, da sua política económica. Certamente que muitos mudariam de discurso. A realidade é tramada e ensina a corrigir o erro. Até lá continuaram a fazer a vida dos outros num inferno.
É uma pena que o João Rodrigues não concretize que medidas adoptaria se lhe fosse dada a possibilidade de governar.
Mais investimento público? Onde?
Mais autoestradas? O aeroporto de Lisboa? O TGV? Era isso?
Mais funcionalismo público?
Até admito que tenha toda a razão no que diz. Mas é pena que não diga o que pensa que deveria ser feito. Considerando as actuais circunstâncias, evidentemente.
Na agricultura, por exemplo.
Temos um dos maiores índices de tractores por superfície arável. Até temos dos maiores índices de sinistralidade com tractores. Nós e a Grécia, os dois países com maior dependência alimentar do exterior. O que é que faria o João Rodrigues se fosse ministro da agricultura?
Acabei de escrever uma nota no meu bloco de apontamentos sobre o assunto. Seria interessante contribuisse com a sua visão para a resolução de um problema que parece insolúvel.
Fala-se tanto em soberania, ninguém, parece reparar que a soberania começa na possibilidade de ter que comer.
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