A literatura económica sobre os efeitos macroeconómicos do crescimento das desigualdades não tem parado de crescer nos últimos anos numa ciência social que tem uma sabedoria convencional que ainda defende, invocando John K. Galbraith, que os pobres não têm incentivos para trabalhar porque têm demasiado dinheiro, mas já os ricos é porque não têm dinheiro suficiente.
O último trabalho de Engelbert Stockhammer, um economista que tem identificado empiricamente o paradoxo salarial no seio da Zona Euro e que explica parte da sua medíocre performance económica geradora de desemprego, aponta para alguns dos mecanismos responsáveis pelo impacto macroeconómico negativo do crescimento das desigualdades económicas: da quebra da procura, dada a maior propensão a consumir por parte das classes populares com rendimentos estagnados ou em queda, passando pela consolidação de modelos nacionais de crescimento guiados pelo endividamento ou pelas exportações, respostas desequilibradas à tal quebra da procura agregada, até à maior propensão para especular por parte dos mais ricos, que têm de fazer alguma coisa ao dinheiro que concentram graças às políticas feitas para favorecer o seu poder.
É por estas e por outras que James K. Galbraith (tal pai, tal filho) defende que o controlo da desigualdade e controlo da instabilidade financeira são a mesma coisa. Para termos um retrato socioeconómico ainda mais completo podemos cruzar estas ideias com o que se sabe sobre o impacto das desigualdades económicas nos problemas sociais, da maior desconfiança social ao reforço do Estado penal, parte do maior desperdício de recursos em trabalho de monitorização, repressão e controlo nas sociedades mais desiguais.
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