quinta-feira, 2 de julho de 2009

Consensos?

André Barata podia ter poupado nas lamentações cidadãs e nos falsos consensos do pântano do meio: «este segundo manifesto tornou politicamente mais difícil um debate, que era urgente». Fico realmente satisfeito se o manifesto pelo emprego que subscrevi tiver contribuído, entre outras coisas, para tornar «politicamente mais difícil» o debate nos termos em que o manifesto redigido por economistas do PSD o queria conduzir.

Barata lamenta que o manifesto pelo emprego não tenha aceite os termos fixados pelos 28. Tentámos precisamente romper e recentrar o debate na prioridade que uma política económica de aumento, friso a palavra aumento, do investimento público deve encarar: o emprego no quadro de uma crise de procura. O desemprego, e não o endividamento externo ou as «grandes obras públicas», é o principal problema. Temos de definir prioridades. A mensagem hipócrita de parar para «pensar» porque, de qualquer forma, a austeridade assimétrica do capitalismo em crise tudo acaba por resolver nunca me pareceu a melhor escolha. Além disso, o problema português não pode ser discutido fora do problema europeu. Fazê-lo é já uma forma de colocar a discussão num plano pouco apropriado.

A arte de enquadrar o debate passa por ter a capacidade para definir o que se discute e o que não se discute. As elites do manifesto dos 28 que nos desgovernaram com privatizações, desigualdades, liberalização económica predadora e financeirização sabem isso melhor do que ninguém e têm recursos como ninguém para o fazer. É escandaloso, por exemplo, como se aborda no manifesto dos 28 o enviesamento para os bens não-transacionáveis sem se pôr em causa a política de privatizações e a reconstituição de grupos privados rentistas. Nem uma menção à desigualdade que está na base da armadilha social portuguesa. Crise financeira? É falar o menos possível.

Enfim, a SEDES, um dos sítios onde as elites se alojam para «pensar o impensável», também evita discutir estes tópicos, prefere discutir o «pós-crise», e tem recursos para o fazer. Basta ver a divulgação que é dada às suas iniciativas, por exemplo, no Público. Ao nível da revista Nova Cidadania de Carlos Espada. A sociedade civil contra-hegemónica não tem as mesmas facilidades. Porque será?

9 comentários:

O Puma disse...

São rosas senhor

... disse...

:) Agradecia que pudessem dar uma vista de olhos neste blog...

http://eco-real.blogspot.com/

Cumprimentos

Anónimo disse...

É claro que, da parte hegemónica, os debates apenas se querem (se é que se querem) fáceis. E é claro que qualquer contra-discurso irá levar à dificultação, porque não permite pré-elaborar uma conclusão. Parabéns aos contra-hegemónicos que não acreditam na teoria da urgência e sim na necessidade de ir devagar mas firmemente.

Luís disse...

Meus senhores; meus senhores; a batata tá podre; este ano a colheita é má, por isso, olhem tamos todos empregado, porque a produtividade é baixa e mal dos males só comemos mal batata.

Eu entendo que esta esquerda que esforça o intelecto e ao mesmo tempo se tenta governar na vida faça igualmente a única inflexão possível: bem para o centro do centrão reconstituído como socialismo social democrata.

Falam economês; mas isso é língua que ninguém fala, excepto uns raros artigos que ainda conseguem discituir realmente em causa; o resto é só palha para as mulas comerem.

Enfim, o "problema não é o endividamento é o emprego"; obrigado!; "o problema não é o gajo não ter cana, é não saber pescar" - aí está Sócrates a distribuir das suas Novas Oportunidades. Centrão outra vez. E Política? De mais esquerda possível!

Primeiro era preciso perceber que o problema não é económico, estritu sensu; mas sim social, como dizia há dias Dr. Louçã em artigo onde parecia querer por os pontos nos i's; mas é bom demais para dizer tudo logo duma vez; fica à espera dos senhores - que falar de investimento públicos, falar de financeirização é tanga; é tudo bosta; é tudo o mando ideológico de encobrimento das verdadeiras relações de poder de poder e dominação (Marx;e a ideologia alemã?). A solução passa pela revolução ou pela reforma política; o resto são chavões velhos do neokeynesianismo, academismos para economês ver e mais ideologia. A economia é a ideologia mais poderosa do capitalismo e os senhores fazem-lhe um marketing do caralh*!

E depois; como os senhore vivem nas nuvens, no Estado ou na classe bem média e mediana; a esquerda caviar de Pacheco Pereira; a esquerda burocrática; a ideologia médio-burguesa de reconquistar o Estado para ver no que dá, ainda não perceberam a questão não é entre emprego/desemprego/endividamento. O problema é de sustentabilidade, e questão mais pertinente que hoje se coloca é como reconstituir as estuturas de financiamento de uma economia de mercado: os senhores não tem resposta para isso. Os senhores não falam de estrutura, os senhores arrotam e dizem: título; bond; taxa! Isso é merda; porque essa é ainda a imagem mecânica, e economia não é mecânica, a economia é um instrumento de poder! O resto é palavreado académico, debate de ideias, o que quiserem, keynesianismo, neoclassicismo, umas linhas e umas rectas, umas equações ou umas boutades.

"Ó tempo volta para trás...."

André Barata disse...

João Rodrigues, se eu bem percebo a tua resposta, concordas com a análise que fiz do contra-Manifesto. Eu lamentei que esse documento tivesse dificultado uma discussão pública que eu considerava urgente e importante, tu consideras-te satisfeito exactamente pelas razões que lamento. Não vou dizer “ Rodrigues podia ter poupado nas congratulações”, esse não é o meu estilo, definitivamente… mas não pouparei três ou quatro comentários francos que me parecem oportunos num blog de esquerda, animado por pessoas que prezo intelectualmente.
1. Uma esquerda pluralista não visa, por princípio, tolher iniciativas de debate público importantes. Este é um ponto axiomático que distingue a Esquerda em que me reconheço, repito pluralista e cidadã, da Esquerda dogmática (quanto à doutrina) e monolítica (quanto à opinião), de que já me demarquei há muito.
2. Uma esquerda pluralista não assobia para o ar ignorando olimpicamente o facto de uma esmagadora maioria da sociedade estar genuinamente preocupada com um problema. Não me refiro a uma putativa “sociedade civil hegemónica”, como se tem pretendido; refiro-me sim à população portuguesa na sua grande maioria, como ainda no dia 29 de Junho atestava o Barómetro da TSF. De acordo com a sondagem da Marktest para a TSF/Diário Económico, apenas 17.5% dos inquiridos estariam de acordo com o plano de grandes obras públicas do Governo. A minha pena é que a “sociedade civil contra-hegemónica” se tenha enredado de tal maneira nos seus escrúpulos que não se aperceba da natureza não ideológica do problema, menos ainda do sentir de uma sociedade descontente com o Governo nesta matéria. Se a “sociedade civil hegemónica” capitaliza a questão a seu favor, a responsabilidade é, pois, também, e fica a crítica aqui, da “sociedade civil não-hegemónica”. A este propósito, aliás, pergunto-me por que razão as Esquerdas em Portugal (feita excepção a algumas personalidades) alinham, de forma tão monoliticamente unânime, com a política governamental das obras públicas? Por vezes, há falsos antagonismos que estão ao nível dos falsos consensos. Não nos chegam aos ouvidos debates semelhantes protagonizados por Esquerdas na Suécia, em França, até mesmo em Espanha?
3. Na minha opinião, o vosso Manifesto faz uma análise da situação económica do país até ao quinto parágrafo muito semelhante à do Manifesto dos 28. A partir do sexto parágrafo mudam de tom e, aliás, de maneira inconsistente com a primeira metade do texto. Desistiram da análise do problema e preferiram “atirar-se” aos 28 do outro Manifesto. Em todo o caso, reitero duas convicções - não tenho a construção de linhas de tgv como a melhor resposta ao problema social prioritário do desemprego, nem que seja isso que se siga do vosso manifesto.
4. Finalmente, a respeito da SEDES, que vai sendo alvo de uma animosidade espúria neste blog que muito prezo, decorreu hoje o congresso da associação onde se debateu a qualidade da democracia. Eu assisti com muito interesse aos trabalhos. O estudo apresentado pelo Pedro Magalhães no congresso sobre a percepção dos portugueses a respeito da nossa democracia dá que pensar. Mas é da SEDES… e daí?

Cordialmente.

Tiago Tavares disse...

Realmente também fiquei com a mesma impressão que o manifesto dos 51 partilha as mesmas recomendações relativamente ao tipo de políticas anti-cíclicas (basta ver o ponto 5 do manifesto dos 28). Na minha opinião há também outras formas para activar a procura. Mas este é um tema para outros debates.

No entanto há umas questões dissimuladas no contra-manifesto que merecem ser discutidas. Vou então deixar também 2 comentários adicionais:

1.A partir de certa altura é referido no manifesto 51 que é necessário uma coordenação a nível Europeu para que se efectue uma política fiscal vigorosa. Mas nós sabemos que para economias pequenas em regime de câmbios fixos e sem restrições à circulação de capitais como a nossa, a política fiscal têm um impacto máximo (bem na realidade podem haver efeitos de segunda ordem que revertam isto). Lembremos que se Portugal aumentar a despesa pública nada acontecerá às taxas de câmbio nem às taxas de juro (determinadas internacionalmente). Mas então surge a questão. Para quê a coordenação na Europa?

2. E esta questão aparece respondida já no final do manifesto quando se defende como imprescindível "o esforço de regulação dos fluxos económicos". Por outras palavras, e isto é para mim chocante, defende-se um regresso ao proteccionismo. Mas para que os leitores deste blogue percebam aquilo que estamos a falar vamos supor que a região de Lisboa levantava medidas proteccionistas sobre o Alentejo para proteger os seus agricultores. Em cada canteiro de Lisboa surgiria uma horta com alfaces e batatas e uma grande parte da população teria de afectar parte do seu tempo à agricultura. Eficiente? Claro que não. A inexistência da "regulação desses fluxos económicos" permite que o esforço dos trabalhadores não seja desperdiçado (através da especialização). Mas é também o contacto com o exterior, sem "regulações", que permite uma absorção de ideias, produtos, e tecnologias do exterior. Fluxos indispensáveis para um crescimento sustentado da economia. Assim, não consigo encontrar razões, para além das doutrinárias, que justifiquem esta posição do manifesto dos 51.

[Comentário adicional - não se compreende a referência dos 21 biliões de euros desperdiçados]

RAMIRO ANDRADE - O PROVOCADOR disse...

PORTUGAL - ESTADO FALIDO ................

CAROS CONTRIBUINTES PORTUGUESES

PORTUGAL ESTA FALIDO.

TEMOS UMA DIVIDA EXTERNA DE 348 MIL MILHOES DE EUROS.

AS RECEITAS DE IMPOSTOS DIRECTOS CAIRAM 20 %.

AS EXPORTACOES CAIRAM MAIS DE 35 %.

O PRODUTO INTERNO BRUTO ( PIB ) JA RECUOU 4,5 % E AINDA ESTAMOS EM JUNHO DE 2009.

MUITO PROVAVELMENTE ATINGIREMOS UM RECUO PARA 7 % ATE AO FIM DO ANO.

AS VOZES OCULTAS DOS CABROES DOS POLITICOS ( ECONOMISTAS DE PLANTAO ), JA FALAM QUE TERAO QUE AUMENTAR AINDA MAIS OS IMPOSTOS DOS DESGRACADOS DOS CONTRIBUINTES PORTUGUESES, E REDUZIREM SALARIOS.

O NUMERO DE DESEMPREGADOS JA E SUPERIOR A 600000 PESSOAS ( SEISCENTAS MIL PESSOAS ), GENTE QUE COME / TEM RENDAS DE CASA PARA PAGAR / AGUA / ELETRICIDADE / GAS / TELEFONE / REMEDIOS / TRANSPORTES .................. ETC........

O QUE QUEREM DE NOS ESTES CHULOS ?

QUEREM QUE PASSEMOS FOME?

QUEREM QUE OS PORTUGUESES NO LIMITE DA SOBREVIVENCIA REAJAM DE MANEIRA VIOLENTA ?

E ISSO QUE ESSES SENHORES DESEJAM ?

OLHA QUE PODEM CONSEGUIR ....... E DESTA VEZ, TALVEZ NAO SEJA COMO FOI NO 25 DE ABRIL DE 1974.
ABSTENCAO EM FORCA NAS ELEICOES LEGISLATIVAS E AUTARQUICAS 2009

UM ABRACO DEMOCRATICO.

RAMIRO LOPES ANDRADE
ramirolopesandrade.blogspot.com

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DIVIDA EXTERNA DE PORTUGAL // 348 MIL MILHOES DE EUROS // DEZEMBRO 2008

http://www.bportugal.pt/stats/sdds/extdebt.htm

348 BILIOES DE EUROS EM DIVIDA EXTERNA !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

MAIS COMENTARIOS PARA QUE ?
E ASSIM QUE SE ENTERRA UM PAIS, EU JA VI ESTE FILME NO BRASIL ........
CADA HOMEM / MULHER E CRIANCA PORTUGUES, DEVE AOS BANCOS INTERNACIONAIS 34.828,00 EUROS ( TRINTA E QUATRO MIL OITOCENTOS E VINTE OITO EUROS ).
VIVA PORTUGAL !!!!!!!!!!!
UM PAIS GOVERNADO POR GATUNOS E OUTRAS COISAS MAIS.

UM ABRACO DEMOCRATICO.

RAMIRO LOPES ANDRADE
ramirolopesandrade.blogspot.com

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PEDITORIO URGENTE PARA O PRESIDENTE CAVACO SILVA -- JUNHO 2009

EXMOS CIDADAOS PORTUGUESES

VENHO AQUI PROMOVER UM PEDITORIO URGENTE PARA SALVAR DA BANCA-ROTA NOSSO MAIS ILUSTRE REPRESENTANTE.

SEGUNDO O PROPRIO ( PRESIDENTE CAVACO SILVA ), ELE ESTA COM GRAVES PROBLEMAS FINANCEIROS, DEVIDO AS APLICACOES FINANCEIRAS QUE TEM EM BANCOS PRIVADOS QUE FORAM MUITO DESVALORIZADAS.

TEM PERDIDO MUITO DINHEIRO " COITADINHO ".

FIQUEI REALMENTE SENSIBILIZADO COM SUA SITUACAO FINANCEIRA, E TAMBEM SEU ESTADO DE SAUDE.

“ SO PARA LEMBRAR “, O SR. SILVA TEM TRES REFORMAS CHORUDAS PAGAS PELOS OTARIOS DOS CONTRIBUINTES PORTUGUESES.

PORTANTO, ACHO MAIS DO QUE JUSTO ORGANIZAR UM PEDITORIO PARA O SR. SILVA, QUE E VITIMA DOS MALVADOS BANQUEIROS.

MINHA CONTRIBUICAO SERA DE 1 CENTIMO, VALOR MAIS QUE SUFICIENTE PARA LHE COMPRAR SUPOSITORIOS, E ENFIA-LOS NO DEVIDO LUGAR DE SUA EXCELENCIA, O SR. PRESIDENTE DA REPUBLICA PORTUGUESA.

SE PRECISAR DE AJUDA PARA COLOCA-LOS TEREI MUITO PRAZER EM COLABORAR, APESAR DE MINHA ABSOLUTA FALTA DE EXPERIENCIA NA UTILIZACAO DE SUPOSITORIOS E OUTRAS COISAS.

SOMENTE QUERO O BEM ESTAR DE SUA EXCELENCIA ..........RSRSRSRSRRS.

MAS PODEMOS COMPRAR SUPOSITORIOS DAS CALDAS DA RAINHA, PORQUE DEVEM FAZER EFEITO MAIS RAPIDAMENTE, APESAR DE PODER CAUSAR AO DIGNISSIMO PRESIDENTE CAVACO SILVA ALGUM INCOMODO ................. RSRSRSRSRS.

PORTANTO CAROS PORTUGUESES ..........CONTRIBUAM ……………………….

MANDEM CHEQUES DE 1 CENTIMO PARA O PALACIO DE BELEM EM LISBOA, PARA AJUDAR O DIGNISSIMO PRESIDENTE DA REPUBLICA PORTUGUESA A SAIR DA GRAVE SITUACAO FINANCEIRA QUE SE ENCONTRA, E TER DINHEIRO PARA COMPRAR SUPOSITORIOS , DEVEMOS TODOS AJUDA-LO.......... E UM DEVER CIVICO E PATRIOTICO.

HA, JA ME ESQUECIA............
ABSTENCAO EM FORCA NAS ELEICOES LEGISLATIVAS /AUTARQUICAS – 2009

UM ABRACO DEMOCRATICO.

RAMIRO LOPES ANDRADE
ramirolopesandrade.blogspot.com

... disse...

Boas. Vou ser muito franco, este post espantou me completamente pela defesa de uma keynesianismo que já mostrou não ser o mais apropriado, principalmente com os exemplos dos anos 70. Isto porque, utilizando uma abordagem keynesianista com esta tal urgencia de acção, esquecendo ou colocando para 2º plano outros factores importantissimos na economia, leva sim a graves problemas de conjuntura. Para começar deve-se claramente esclarecer que eu próprio apesar de identificar o desemprego como um dos problemas fundamentais de uma economia, sou e desculpem, totalmente contra a sua hegemonia enquanto principal problema de uma economia. Existem outros meios de o corrigir, colocando outros pontos acima que através de um ciclo virtuoso tendem a corrigir estes desiquilibrios.

Uma nota para o comentario do sr Ramiro Andrade. Nao é com visões quase completamente anarquistas que vamos a algum lado. E desde já se aconselha a que esses dados que ai colocou sejam lidos correctamente. Esse recuo do PIB por exemplo é em termos homologos... mas enfim. E fica também muito feio apelar à abstenção despedindo-se com um "abraço democrático".. Enfim...

Cumprimentos

Luís disse...

Correndo o risco de esta transcrição já não aparecer num sítio mt visto; e graças a bonomia de uma bela amiga, aqui umas tranches de R. Barthes; certamente de todos conhecido:

"O texto é um objecto fétiche e essse fétiche deseja-me. O texto escolhe-me, através de toda uma disposição de telas invisíveis, de chicanas selectivas (...)
Os sistema ideológicos são ficções (fantasmas de teatro, diria Bacon), romances - mas romances clássicos com muitas intigras, crises, personagens boas e más . (....) Cada ficção é mantida por um falar social, por um sociolecto, com o qual se identifica: a ficção é o grau de consistência que uma linguagem atinge quando excepcionalmente pege e encontra uma classe sacerdotal ....
«Cada povo tem acima de si um céu de conceitos matematicamente repartidos e, sob a exigência da verdade, ele exige então que qualquer deus conceptual seja procurado apanas na sua esfera» (Nietzche): estamos todos presos na verdade das linguagens, isto é, na sua regionalidade, somos arrastados pela formidável rivalidade que regula a sua vizinhança. Pois cada falar (cada dicção) combate pela hegemonia; se tem por si o poder, estende-se por toda a parte na corrente e no quotidiano da vida social, torna-se doxa, natureza... Há i,a tópica implacável que regula a vida da linguagem; a linguagem vem sempre de algum lugar, é um topos guerreiro.
(...)
(Diz-se correntemente «ideologia dominante». Esta expressão é incongruente. Pois o que é a ideologia? É precisamente a ideia enquanto domina(!!): a ideologia só pode ser dominante. Tanto é correcto falar de «ideologia da classe dominante» visto que existe efectivamente uma classe dominada, quanto é inconsequente falar de «ideologia dominante», visto que não há nenhuma ideologia dominada: do lado dos «dominados» nãpo há nada, nenhuma ideologia, senão precisamente - e é este o último grau da alienação - a ideologia que eles são obrigados (para simbolizar, logo para viver) a tomar à classe que os domina. (!!) A luta social não pode ser reduzida à luta de duas ideologias rivais: é a subversão de qualquer ideologia que está em causa.)

in O Prazer do Texto
páginas 66-73