Resposta: há poucas semanas a Alemanha clarificou de uma forma inequívoca a sua posição quanto ao futuro da integração europeia.
Reparem neste artigo de Anatole Kaletski (The Times, 18-05-09):“A forma mais plausível de a Europa escapar a este círculo vicioso será a Alemanha abandonar a sua velha filosofia de rigor orçamental e embarcar num estímulo orçamental em larga escala e garantir as dívidas de todos os seus parceiros na Zona Euro. O pressuposto hoje assumido nos mercados de capitais é que, se as condições na Europa continuarem a deteriorar-se, o governo alemão fará exactamente isso.”
Partilhando esta visão optimista, um artigo na revista The Economist assumia também que a Alemanha tem muito a perder com o incumprimento de qualquer membro da Zona Euro, pelo que estaria ‘condenada’ a apoiar um estado-membro em dificuldades financeiras (na realidade, a situação é mais complicada porque são vários estados). O seu apoio implicaria a introdução de um controlo comunitário das contas públicas dos estados-membros muito mais apertado o que, no quadro de uma negociação global, acabaria por levar a um aprofundamento da integração política. Tese do artigo: uma crise de pagamentos conduziria a mais integração e não a menos.
Assim, a minha expectativa até há bem pouco tempo era a de que a crise levaria ao lançamento de uma política europeia de estímulo à economia que, por seu turno, criaria condições institucionais para o arranque da política orçamental em falta na Zona Euro. Desse modo, não só os custos do ajustamento no curto prazo, em países menos desenvolvidos como Portugal, seriam atenuados mas também ficaria disponível uma nova política macroeconómica para contrabalançar a uniformidade da política monetária.
Assim, a minha expectativa até há bem pouco tempo era a de que a crise levaria ao lançamento de uma política europeia de estímulo à economia que, por seu turno, criaria condições institucionais para o arranque da política orçamental em falta na Zona Euro. Desse modo, não só os custos do ajustamento no curto prazo, em países menos desenvolvidos como Portugal, seriam atenuados mas também ficaria disponível uma nova política macroeconómica para contrabalançar a uniformidade da política monetária.
Pois bem, com o apoio da opinião pública e da maioria dos partidos, a Alemanha acaba de dizer aos mercados de capitais e aos seus parceiros (por via constitucional) que recusa avançar na integração europeia. Os estados que se encaminham para uma situação de grave dificuldade financeira terão de voltar-se para o FMI e aceitar as suas condições. Esta é a mudança crucial que não podemos ignorar.
Recordo que a minha previsão não é uma opção política, é uma antevisão racional do fim da actual Zona Euro, gostemos ou não. É possível que após a implosão se venha a constituir uma outra com muito menos membros, ficando (por hipótese) os restantes ligados àquela através de câmbios ajustáveis, mas não quero ir tão longe na previsão.
Para quem quiser começar a pensar numa estratégia de combate à crise em ruptura com as actuais condicionantes do euro, e portanto com outros custos e benefícios, deixo mais este texto de Jacques Sapir.
Entretanto, a crise também abre novas oportunidades para o País. Talvez ela nos leve a construir um modelo de desenvolvimento mais sustentável, não apenas financeiramente mas também social e ambientalmente. Oxalá.
7 comentários:
Isto é tão ridículo que não tem por onde se pegue. Primeiro havia o medo de uma constituição Europeia e a perda de autonomia nacional que colocaria a Europa nas mãos da Alemanha e Inglaterra. Agora que não há dinheiro e a Alemanha o tem, já todos querem o tratado de Lisboa que é só outro nome para a constituição Europeia e querem que a Alemanha seja a mãe da Europa e alimente todos os meninos que andaram a acender charutos com notas de 500 Euros.
De seguida, espero ler neste blogue algo como "A Alemanha tem a responsabilidade de pagar o TGV em Portugal". Poupem-me. Estamos a falar da união Europeia e não de uma Federação liderada pela Alemanha. A única maneira da Alemanha ter o DEVER de sustentar toda a gente, seria se Hitler tivesse ganho a guerra.
Sendo uma união, um país não pode ser responsabilizado pelo fracasso colectivo do resto da Europa.
Numa altura que o dólar está em queda livre e os EUA em colapso económico e social, aparece que fala de um colapso do Euro? No colapso da moeda que está neste momento a segurar a economia mundial, por ser a mais estável?
Compreendo um pouco melhor as suas razões. Mas, resumindo, a saída do euro teria como único objectivo acrescentar a desvalorização da moeda à caixa de ferramentas anti crise. É só isto?
Se bem percebi, a Alemanha dá a perceber estar-se nas tintas para o que se passa fora das suas fronteiras. Isso leva-me a crer que, mesmo saindo portugal do euro, não tinha outro remédio senão voltar-se para o FMI (e aqui estou do lado do josé mário branco).
Para mais, se fôr só sair da moeda única, sem mais nada, continuando na união económica, muito pouco se altera daquilo que não gostamos: continuação da vigilância sobre a política orçamental, taxas de juro importadas de Frankfurt, etc... Por isso pergunto: qual a grande vantagem do regresso do escudo?
Agora, acredito que o aprofundamento do processo de integração pode ser mais benéfico do que a saída da zona euro: políticas sociais comuns, níveis mínimos de ordenado mínimo decididos em bruxelas, subsídios de desemprego à imagem de frança ou alemanha soam-me mais apelativos do que o "orgulhosamente sós". Se me perguntarem "como?", é bem possível que tudo tenha que passar pela alemanha. Mas enquanto continuarmos a pôr a união constantemente em questão, sem nenhuma amostra de coragem política por parte dos governos dos países "pequenos", é óbvio que a alemanha ou a frança nunca vão avançar. O presente estádio de integração é benéfico para os grandes estados membros: grandes mercados para exportação, mercados livres, livre circulação de capitais, férias baratas e fáceis no sul, sem esquecer que o défice democrático na europa só beneficia o directório. Chegamos ao momento em que, se estamos à espera de mudança na união, quem se tem de mexer são os pequenos. Mas isso era antes da crise....
Concordo, em grande medida, com o Bruno Fehr. (exceptuando a parte Inglaterra que substituiria por França e outras pequenas considerações). Mas o Bruno Fehr parece-me não estar a compreender que o problema essencial levantado pelo Bateira no Post é precisamente o sucesso do Euro e a sua correspondencia com o sucesso da economia Alemã (e outras) e o insucesso de outras economias que se não adaptam a uma moeda tão bem sucedida e forte e o J. Bateira não parece, também, compreender que os Alemães estão a demonstrar disposição para corrigir os excessos da sua economia ao invés de outros que parecem querer manter os desequilíbrios nas suas economias a expensas dos excessos Alemães.
O problema do J. Bateria, e de outros, é querer discutir esta questão em tempos de crise financeira e deste modo transferir a "odiosa" do problema para o membro com o melhor comportamento económico nos últimos 20 anos.
Enquanto Bateira anuncia a implosão do euro e defende a saída da união monetária como forma de luta contra a crise, a Hungria, a Letónia, a Islândia e outros tantos tentam juntar-se à união monetária como forma de luta contra a crise.
Será que Bateira alguma vez leu a crónica da crises monetárias e cambiais europeias das décadas antes da criação da união monetária?
Caros amigos,
Embora compreenda a perplexidade subjacente a alguns comentários, começo por recordar que as alusões depreciativas não dão razão aos seus autores. É preciso argumentar.
A minha visão pessimista quanto ao futuro do euro não é uma originalidade. O Carlos Santos, no "Valor das Ideias", há muito que explicou com grande clareza o que está em causa. Por exemplo, numa posta de 17 de Março (cito): "O problema estrutural da UEM é que engoliu uma visão da economia o mais ortodoxa possível, e vai a caminho do abismo sem dar conta que a evidência à sua volta mostra que a visão estava errada."
A insustentabilidade do euro envolve pelo menos Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (os PIIGS, a sigla usada nas organizações financeiras internacionais). Porém, não creio que estes países voltem à situação pré-Euro porque na altura em que tiverem de sair vão dispor de margem política para estabelecer controles sobre os capitais especulativos. Recordo que o FMI aceitou estes controles quando recentemente acudiu à Islândia.
De resto, uma saída do euro (que não defendi como decisão unilateral) permite uma descida dos salários reais através da inflação (acompanhada de renegociação da dívida), o que é bem melhor do que a redução dos salários nominais e mergulho na deflação (aumento do valor real da dívida) que a permanência no euro na situação actual comporta.
Infelizmente, a esquerda não consegue conquistar a opinião pública alemã para o salto federal que o combate à actual crise exige e o Partido Social-Democrata continua prisioneiro das ideias pré-Keynesianas. Na verdade, com esta "Subprime Europe" caminhamos para o desastre (New York Times, 7 Março).
J. Bateira-
A saída Federal seria um erro histórico porque não impediria a redução de salários por efeito da baixa de produtividade (quanto à deflação é um pequeno mito de análise indemonstrável no Espaço Euro)e criaria um problema político de proporções bíblicas.
A manutenção do estado de coisas e a correcção que a Alemanha vai impor aos restantes e a si própria são a melhor solução.
"A insustentabilidade do euro envolve pelo menos Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha(...)"
"(...)Porém, não creio que estes países voltem à situação pré-Euro (...)"
Oh homem, explique-se lá então. Esses PIIGS vão (ou deveriam) fazer o quê?
"(...) porque na altura em que tiverem de sair vão dispor de margem política para estabelecer controles sobre os capitais especulativos (...)".
Que confusão que vai nessa cabeça.
Porventura o problema das 'insustentabilidades' do euro alguma vez foram os movimentos especulativos de capitais?
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