terça-feira, 16 de maio de 2023

Uma vez mais, «os economistas»


Na edição online de sábado, numa peça sobre a subida do desemprego e a descida dos salários reais, o ECO quis saber «como os economistas olham para o futuro». Para concluir, logo de seguida, que «os economistas dividem-se entre os mais otimistas e os mais pessimistas sobre o futuro».

Com a referência a «os economistas», presumir-se-ia que o ECO cuidou devidamente de auscultar sensibilidades distintas, ouvindo os dos mais diversos quadrantes políticos e correntes do pensamento económico. Mas não, claro. Rapidamente se constata, sem surpresa, que estamos perante o velho e relho monolitismo de opinião, os monólogos com ligeiras nuances dos «Dupond e Dupont» do costume. Tudo isto, claro, sob uma capa de aparente pluralismo (ah, «os economistas»).

Ou seja, o ECO não só não ouviu «os» economistas, como os economistas que ouviu não são uns economistas quaisquer. Basta ter memória para constatar que o naipe auscultado esteve, em regra, «na primeira linha de defesa da troika e de uma política destrutiva de austeridade», que elevou o desemprego a níveis históricos, à perda de rendimentos, a cortes nos subsídios de desemprego e noutros apoios sociais, a par da desregulação da legislação laboral.

O ECO tem, evidentemente, todo o direito a estabelecer a sua linha editorial. Mas deveria então, em coerência, apresentar-se com «os seus economistas», em vez de dar a entender que ouviu «os economistas»

Adenda: Para quem for mais dado a preocupar-se apenas com o equilíbrio de género no debate político-económico, registe-se ainda o facto de o ECO ter apenas consultado, para preparar esta notícia, economistas homens.

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