sexta-feira, 12 de maio de 2023

Lisboa: novas procuras de habitação e recomposição social urbana

De acordo com os censos de 2021, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) aumentou em cerca de 1,7% a sua população residente (2,4% caso se exclua Lisboa) na última década, sendo que a capital perdeu aproximadamente 7 mil habitantes (-1,2%). Por nacionalidades, porém, regista-se em Lisboa uma perda de cerca de 27 mil residentes nacionais (-5,3%), que é parcialmente compensada por um aumento significativo de residentes estrangeiros (cerca de 21 mil, ou seja 60%), que representam, em 2021, cerca de 10% do total da população residente (eram 6% em 2011).

Indissociáveis do despertar de interesse internacional por Lisboa - não só em termos de procura turística, mas também ao nível das novas formas de procura de imobiliário residencial, a par do impulso na atração de mão-de-obra que a própria intensificação do turismo suscitou - estas transformações não assumem, contudo, uma expressão uniforme na cidade, antes evidenciando padrões específicos de recomposição socioespacial.


Em termos gerais, e excetuando as freguesias da Misericórdia e Santa Maria Maior, que assumem comparativamente as maiores perdas de população residente (entre -5 e -10%), as variações tendem a ser ligeiras, tanto na perspetiva da redução como do aumento (oscilando entre -5 e 5%). Mas quando consideramos apenas os residentes nacionais, o acréscimo de população circunscreve-se a seis freguesias (sendo sempre inferior a 5%), prevalecendo portanto as perdas, que chegam a ser superiores a 30%, como sucede nos casos da Misericórdia e Santa Maria Maior.

Já relativamente à população residente de nacionalidade estrangeira, constata-se desde logo que nenhuma das 24 freguesias de Lisboa revela perdas, registando-se os aumentos mais expressivos (acima de 50%) em freguesias do centro e próximas do rio, incluindo o Parque das Nações e Olivais que, juntamente com as freguesias da Estrela, Campo de Ourique, São Vicente e Avenidas Novas, registam aumentos de população estrangeira residente iguais ou superiores a 75%, no período considerado.

No conjunto, é portanto clara a tendência para maiores perdas de população residente nacional nas freguesias do centro, ao mesmo tempo que é nessas áreas, e nas freguesias próximas do rio, que se verificam os maiores acréscimos a população de nacionalidade estrangeira. Dinâmicas que, como é natural, se refletem na alteração dos padrões de acesso à habitação, e portanto à cidade, como se procurará demonstrar num texto seguinte.

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