Da “sabedoria convencional”, forjada para atacar com mordacidade a ideologia económica dominante, ao “efeito de dependência”, forjado para dar conta da forma como a oferta das grandes empresas condiciona a procura, através de todo um esforço de determinação das preferências de consumidores nada soberanos, passando pela identificação das razões para o contraste entre a opulência privada e a esqualidez da esfera pública, John Kenneth Galbraith afirmou-se com este livro como um dos mais argutos críticos não-marxistas do capitalismo norte-americano do seu tempo.
Era um tempo em que se julgava que a economia mista era o futuro e onde havia mais espaço para heterodoxias. Galbraith foi, ao mesmo tempo, um observador participante do establishment do seu tempo, qual antropólogo amador, como confessou um dia.
Numa ciência económica desmemoriada, graças, entre outros factores, à limpeza curricular de quase tudo o que possa colocar os estudantes de licenciatura a pensar criticamente sobre o mundo que os rodeia, num panorama editorial cada vez mais dominado por iniciativas liberais, é sempre bom ver um raro livro destes nas livrarias.
Já folheei a edição portuguesa e constatei, com desagrado, que, ao contrário de outros livros desta enviesada chancela da Almedina, este não tem uma introdução contextualizadora, como a que Jorge Bateira escreveu para o livro de Veblen sobre a classe ociosa, percursor, no início do século XX, da linha seguida por Galbraith depois da Segunda Guerra Mundial. Podiam ter pedido uma introdução ao sociólogo José Madureira Pinto, que tem escrito, e bem, sobre, a obra de Galbraith.
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