Publicado no jornal Público, a 5/8/2012 |
"Durante a guerra [a 2ª Grande Guerra], chegou a dizer-se, expressamente, que os operários deviam ganhar pouco para permitirem às empresas uma acumulação de lucros que lhes facilitasse modernizar-se logo que viesse a paz.
Como se sabe, obtiveram-se grandes lucros. Que foi feito a esse dinheiro que não se distribuiu em salários? Foi uma orgia. Compraram-se quintas ao desafio, cada um a arrotar a sua superioridade. "Importaram-se" amantes espanholas, aproveitando-se a fome que ali havia em consequência da Guerra Civil. E, para "mostrar o gado", como diziam, levavam-nas às touradas vestidas de sevilhanas. Havia um industrial dos lados de Guimarães que, no fim dos lautos almoços oferecidos aos amigos, dizia à mulher: "Vai buscar a cavalaria". E ela vinha com uma saca cheia de "libras de cavalinho", de ouro, que ele espalhava em cima da mesa. Depois acrescentava: "Agora traz os paus de sabão". E ela ia buscar barras de ouro. Um outro, no concelho de Famalicão, afirmava publicamente que "dava uma imagem de ouro para a igreja da freguesia se a guerra durasse mais dois anos!!!"
Assistia-se a estas loucuras quando se sabia que o povo miúdo "rapava" fome, porque muitas vezes só se encontravam artigos de alimentação no mercado negro, a preços incompatíveis com os salários que eram pagos aos trabalhadores".
José Ricardo, Romanceiro do Povo Miúdo - Memórias e Confissões, Edições Avante!, Lisboa, 1991, p. 188)
1 comentário:
Infelizmente a exploração do trabalho está a voltar aos piores dias que se verificaram durante as primeiras décadas do século XX, sendo que agora os métodos usados pelo capitalismo são muito mais sofisticados.
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