segunda-feira, 3 de abril de 2023

O neoliberalismo não nos faz bem

"Todos temos medos, desejos, vergonhas e paixões. A concorrência de todos contra todos usa os nossos sentimentos mais íntimos sem complacência. As agências de marketing, as empresas de comunicação política, a comunicação social e as redes sociais exploram esses sentimentos até ao tutano – para nos fazer crer que um certo produto nos faz feliz, que aquele político nos quer mal, que se largarmos o ecrã ficamos excluídos do grupo. A resposta neoliberal é sempre a mesma: precisamos de ainda mais ‘liberdade de informação’, de mais todos contra todos a disputar o nosso tempo e a nossa atenção.

Os neoliberais não gostam que o Estado limite as possibilidades de escolha e vangloriam a diversidade que a concorrência oferece. Pouco interessa que a transformação das necessidades materiais em objectos de desejo, ou da informação em dramatização permanente, sejam cada vez mais fontes de ansiedade e depressão. Que cada vez mais adolescentes se considerem infelizes, em particular os mais pobres. Que cada vez mais pessoas se sintam isoladas, em especial as mais excluídas dos apoios sociais. O que importa é que todos possam vender o que querem e todos possam comprar o que desejam, no limite das suas possibilidades financeiras. Se as possibilidades são escassas e os objectos de desejo sobejam, pois que façam pela vida, trabalhem ainda mais, sejam mais empreendedores. Se o resultado for mais stress e burnout, é o sistema a funcionar.

Para os apologistas da concorrência sem freios, ansiedade e depressão são coisas da vida. Aliás, são factores de selecção natural: quem aguenta a pressão merece ser rico e feliz. Para os outros haverá apoios sociais mínimos, não vão eles perturbar a ordem pública. Direitos inalienáveis são a liberdade de concorrência e a propriedade privada. O resto pode ser resolvido por uma gestão eficaz dos recursos humanos. Em qualquer caso, cabe a cada indivíduo procurar o apoio de que necessita. Esteja mais ou menos fragilizado. Viva na Foz do Douro ou no Bairro da Bela Vista."

O resto do meu texto pode ser lido no Público.

 

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