segunda-feira, 22 de março de 2021

Para lá das direitas dominantes

O Reino Unido não deu qualquer espaço de manobra à arbitrariedade da empresa e estabeleceu datas precisas e sanções para o incumprimento. O processo de vacinação europeu está ferido por este desastre jurídico, estratégico e político. Aliás, o desespero para camuflar o falhanço europeu não é alheio ao trauma recente do “Brexit”, porque o sucesso da vacinação no Reino Unido conta uma história diferente da história oficial dos europeus vencedores contra os britânicos derrotados (...) A União Europeia anda à procura de uma vacina contra o “Brexit”. Para já, esse processo também está demorado.

Excertos do artigo de Francisco Mendes da Silva no Público do passado sábado. Um intelectual anglófilo de disposição conservadora parece querer superar o europeísmo calmo, que levou o seu agora ameaçado CDS-PP a ser um dos veículos da política de agressão da troika. Dá conta que pode haver vida para lá da UE, para lá das lógicas do mercado único e da moeda única, ou seja, da política demasiado única. Afinal de contas, pode existir arbitrariedade empresarial e esta tem de ser contrariada pelo poder da soberania nacional para evitar a catástrofe. 

Na lógica do mal menor, o one-nation torysm é uma exportação ideológica superior à terceira via decadente de um totalmente desorientado Keir Starmer, o ideólogo do segundo referendo que liquidou Corbyn. O nacionalismo cívico, inscrito em instituições de serviço nacional, é indispensável para enfrentar o que aí vem, até porque só este assegura a tal cadeia do tempo, a que liga os antepassados às gerações vindouras, gerando compromissos colectivos duradouros numa escala relevante. E Estados nacionais seguros cooperam mais internacionalmente. A ideologia pós-nacional dos cidadãos de nenhures só alimenta a impotência e a fragmentação, emancipando as elites do escrutínio popular.

Esta posição desalinhada de Mendes da Silva permite sublinhar a total captura das direitas nacionais pelo euro-liberalismo na economia política desde os anos oitenta, do PSD às formações reacionárias mais recentes. Esta ideologia da mercadorização sem fim, telecomandada por instituições supranacionais, corroeu as instituições nacionais e as virtudes cívicas, vulnerabilizando um país desta forma fracturado e demasiado dominado pelo individualismo possessivo. O que vale é que não foi totalmente triunfante. Houve resistências sociais, em modo de contra-movimento político, mesmo que muitas vezes sem suficiente consciência partilhada das tão exigentes tarefas que se impõem na reconstrução de um velho Estado. 

As direitas não querem, não podem, ser consequentemente soberanistas em Portugal. Só uma parte da esquerda, e ainda claramente minoritária, tira as conclusões que se impõem, dos direitos aos deveres, passando pelas missões nacionais para lá do colete de forças europeu. Até quando? 

5 comentários:

Jose disse...

Quase ambiciona ver o país fora da UE para poder ler o que se escreverá dois meses depois!

Jose disse...

Quase ambiciono ver o país fora da UE para poder ler o que se escreverá dois meses depois!

khaostik disse...

Se as suspeitas de corrupção são o que são dentro da Europa (submarinos, edp, hidrogénio, lítio, e a lista é infelizmente infindável ), imagino que fora da Europa só possa ser pior.

André disse...

Eu ambicioso ver Portugal fora da UE, as ilusões do europeismo, são cada vez mais um colonialismo a todos os níveis.

Anónimo disse...

Eu ambiciono ver a Europa liderada por uma comissão socialista e revolucionária.