16 de Março de 2013. O jornal Público faz uma síntese da sétima avaliação do programa de ajustamento da troica, que o Governo PSD/CDS tanto quis e defendeu.
Oito anos passaram sobre o auge do programa de austeridade. Recorde-se desta cara cabisbaixa, cinzenta, perdida, enfiada nos papéis, à procura de desculpas para um falhanço monumental. Ela é, na verdade, a melhor imagem do que poderá acontecer quando a União Europeia se lembrar de que é talvez conveniente impor alguma disciplina orçamental a quem anda gastou demais para suster a crise e que os Tratados Orçamentais - apesar de serem consensualmente estúpidos do ponto de vista económico - são planos que fazem sentido aplicar...
Carlos Moedas fala, mas não conclui o que o título do Público tão bem sintetiza num título. A austeridade - montada supostamente para equilibrar as contas públicas e libertar recursos para as empresas - acaba por as prejudicar, ao mesmo tempo que rebenta com a economia.
O secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro está sentado ao lado do ministro das Finanças Vítor Gaspar na conferência de imprensa. Há já alguns exercícios que o Governo achou por bem que a troica não aparecesse e nada dissesse em conferência de imprensa própria, como aconteceu no início. Era demasiado desbocados...
Escreve Sérgio Aníbal, do Público:
Questionado por um jornalista sobre se reconhecia algum erro na forma como o Governo e a troika definiram a estratégia de ajustamento para Portugal e a passaram à prática, Vítor Gaspar não foi capaz de identificar um. Preferiu falar antes de um “grande desapontamento”: a subida do desemprego. Mas se há coisa que é difícil ao olhar para os resultados da sétima avaliação da troika a Portugal, ontem apresentados, é deixar de ver erros, erros de previsão. (...) Vítor Gaspar voltou a justificar a deterioração da conjuntura exclusivamente com a redução verificada a partir do final do ano passado na procura externa. No entanto, olhando para as novas previsões, verifica-se que não serão apenas as exportações (crescimento de 0,8% em 2013, contra os 3,6% antes previstos) a apresentarem um desempenho pior. O consumo privado vai cair 3,5% este ano, deixando para trás a anterior previsão de 2,2%. E o investimento mantém uma queda acentuada de 7,6%, não confirmando a descida de 4,2% que era prevista.
A coisa não estava, de facto, a correr bem. Mas o Governo era incapaz de pensar sobre o que fizera. Continuava a pensar que a teoria estava correcta; os ponderadores da folha Excel é que estavam mal calculados... Nem os próprios empresários estavam muito satisfeitos com o rombo na procura interna.
O plano previra menos 316 mil desempregados do que aqueles que efectivamente deviam estar no mercado! A ideia da austeridade criadora não estava, afinal, a resultar. O desemprego explodira para uma taxa oficial de 18%. Na realidade, a taxa de desemprego em sentido lato - que abrange o desemprego oficial, mas igualmente o subemprego visível (aqueles que gostariam de trabalhar mais horas mas não encontram mais trabalho), bem como os desempregados estatiscamente considerados inactivos - andava ao redor dos 25% da população activa!
Passados uns meses, Vítor Gaspar sairia do Governo. Moedas continuou.
12 comentários:
Mais um episódio da saga 'estamos na m* mas com o PAF estaríamos pior' com derivação superlativa para essa outra de que 'se não fora o PAF teríamos investido mais no SNS e comprado montes de vacinas'.
programa de ajustamento da troica, que o Governo PSD/CDS tanto quis
Mas não foi o PS que o assinou? Quem era governo na altura?
E onde querem chegar a rebuscar uma notícia com 8 anos? Se estão a tentar algum paralelismo com a situação económica actual devido às pandemia, devem lembrar-se que o governo é novamente PS... desde 2015!
Caro DFerreira,
Tem toda a razão. Foi um Governo PS, coordenado por José Sócrates, que começou no 2º trimestre de 2010 - por forma pressão comunitária - a executar as primeiras medidas de austeridade, logo após a recessão verificada pós-Lehmon Brothers. E como se tornou visível, as medidas de austeridade "socialistas" cavaram o seu próprio destino - o fracasso. Por cada medida anunciada, maior era o buraco recessivo e, como tal, maior a suposta necessidade de mais "medidas" que a direita encabeçada por Passos Coelho e Paulo Portas se encarregou de personificar com todo o élan político, através do slogan "ir além da troica" (cujo teor político foi já aqui desenvolvido).
E, sim, também o Governo de António Costa - para ir ao encontro da vontade comunitária - decidiu em nome da "estabilidade legislativa" pouco mexer na política laboral herdada da Maioria de direita (agosto de 2012) e, como tal, manteve os trabalhadores sob esse pesado fardo.
Portanto, como vê a clivagem é outra. O sublinhado que é feito - e que nunca é por demais lembrar, agora que se branqueia essa política, a ponto de dois dos seus protagonistas (Passos Coelho e Carlos Moedas) acharem ser possível apresentar-se a eleições depois de tudo o que provocaram - dizia, o sublinhado é, pois, lembrar e repetir, repetir sempre: a austeridade mata.
E lembrar outra coisa que a direita nunca diz: a austeridade tem um racional que é um dispositivo político para obrigar os mais pobres a pagar os problemas dos mais ricos. Colocar todo um povo a pagar, através de impostos. menos despesa pública social, menos investimentos públicos, piores condições laborais, má legislação laboral que coloca os trabalhadores a trabalhar mais para receber o mesmo ou ainda menos - a pagar os maus investimentos de quem mais tem.
E por isso, digo eu, nunca é demais lembrar. Parece-lhe demais? Parece-lhe pouco actual? O risco é precisamente esse: neste momento parece algo passado. Mas os novos tempos têm em si o condão de reverter os novos tempos em tempos velhos. E é importante mostrar que são mesmo tempos velhos a que convém não regressar.
Caro José,
Peço-lhe para ler a resposta dada a DFerreira. É que a "saga" foi demasiado dolorosa. E há quem festeje ainda a desgraça.
Caro João, li o texto proposto:
O Socrates foi vitimado por ‘forte pressão comunitária’. Nada a ver com mercado da dívida ou défice excessivo. Fez cortes de salários e pensões porque foi obrigado, coitadinho, que por ele continuaria a acrescer dívida, investimento e despesa… pedindo dinheiro emprestado ao amigo.
O Costa mantém a disciplina orçamental, não investe, mas faz umas reversões com efeito em salários e benefícios e, sobretudo, nega a austeridade e não retifica os orçamentos que a todo o tempo não cumpre. Tolera-se!
Só o Passos Coelho & C.ª, ao reconhecerem haver boas razões para conter dívida e défice, cometem o que é crime maior, ofensa grave à memória do aumento pré eleitoral dos funcionários públicos, e ao ameaçar-lhes os privilégio de horários, emprego prá vida e regalias que excedem os da massa dos restantes trabalhadores, coloca-se na lista dos criminosos lesa-pátria!
Quanto «a austeridade tem um racional que é um dispositivo político para obrigar os mais pobres a pagar os problemas dos mais ricos», é asserção que tem ela própria o seu racional, e que importa esclarecer:
- Seguramente, no caso português, a ter a ver com «pagar os maus investimentos de quem mais tem» haveria de tratar-se do Estado, que além de ser o mais rico com quase 50% do rendimento nacional, foi o único investidor relevante para um tal efeito.
- Mas o racional que lhe é mais apropriado é o que, indiferente às causas sempre sentencia; “os ricos que paguem a crise’ – princípio maior da política dita progressista, assim dita porque progride ufana e alegremente para a miséria geral.
O pressuposto essencial do seu texto, João, traduz o princípio da irreversibilidade de direitos e nível de rendimento dos trabalhadores (entenda-se, assalariados). Isso implica duas premissas:
- Que nunca se cometem erros na atribuição de direitos e no incremento do nível de vida..
- Que a economia é meio de progresso mas nunca de retrocesso
O Jose depois de ter sido corrido e evitado do blog «Manifesto 74», vem agora aqui a estas caixas de comentários pedir atenção.
Como já ficou esclarecido, através de várias provocações no próprio «Manifesto 74», este Jose é um inimigo do 25 de Abril. É amigo dos torcionários e dos opressores que defendem a opressão contra os democratas deste país.
No comentário que escreveu acima, há muita aldrabice deste Jose. Eu recordo que o mesmo foi a favor do aumento brutal das rendas, patrocinado por Assunção Cristas. Neste aspeto, através de vários comentários lidos em «Manifesto 74», a sua atitude e comportamento contra os que defenderam boas políticas, foi a da miséria e a da ofensa.
«Só o Passos Coelho & C.ª...» Jose ainda chora a perda da direita no poder.
Será que reconhecerem haver boas razões para conter dívida e défice, Jose? Ou isso é o seu instinto faccioso de direita que nos tempos da dita «Troika» ria-se e gracejava com todos os textos que eram publicados em «Manifesto 74», chegando ao ponto de ser ofensivo e imoral?
«Só o Passos Coelho» é que velava pelos interesses do Jose, sim, isso eu sei e muitos outros sabem, especialmente aqueles que sofreram com a lei das rendas de Assunção Cristas.
O problema deste e outros que assinam «Jose», é precisamente este: usam a democracia para confundir e sabotar. Dentro de uma tirania servem para oprimir.
Uma última pergunta: porque não o evitam no vosso blog? Porque permitem que o mesmo usufrua da palavra uma, duas e três vezes, como se este fosse alguém próprio para debater ideias?
Não faz sentido estar a dar a palavra a um agente do fascismo ou faz?
Caro anónimo das 15:00,
Tem razão quanto à forma como, muitas vezes, se argumenta neste blog. Tentaremos que essa forma, em rajada, seja evitada para que as ideias se exponham articuladamente e não em jeito de provocação que pouco adianta para o debate.
É verdade que muitas intervenções são isso mesmo: provocações de pessoas que julgam que intervir dessa forma pode boicotar a função deste blog. Mas como dizia alguém, esse tipo de intervenções só avilta quem as faz. Quando os ataques se sobrepuserem às ideias, nessa altura serão moderados. Enquanto forem ideias que não firam Direitos, acho que devemos ouvi-los e debatê-las. Ideias não matam, ainda que a sua aplicação mate muita gente. E mesmo para quem tem ideias bem assentes, pode constituir um exercício para o que temos de fazer na sociedade em que se debate permanentemente uma multiplicidade de ideias. Convencer essas pessoas pode ser uma tarefa impossível, mas - como dizia o outro - há sempre que tentá-la...
Caro José,
Porque mistura o caso da vida de Sócrates com a sua política? Apenas para não comentar o quão erradas eram as políticas que foram aplicadas por Passos/Portas? Ou deverei lembrar as opções de Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Miguel Relvas, Vítor Gaspar, etc., etc. quando saíram do Governo? Não parece que deva ir por aí. Só porque nada adiante ao que interessa.
O José está apenas a usar esta tribuna para atacar a esquerda e não a política que Costa leva a cabo porque... no fundo está de acordo com ela: essa “disciplina orçamental”. Apenas quer - como toda a direita sem ideias - que Costa assuma a contradição.
Portanto, sejamos sinceros e falemos do que interessa em fez de colocar a lama na ventoinha.
De resto, parece-me que nem pensou bem no que escreveu. Deve estar com pouco tempo e acaba por se atrapalhar a si próprio. O que se pretende dizer é que a desigualdade não é remédio para o progresso do nosso país. A contenção de rendimentos salariais decorre de opções que foram tomadas em nome de uma competitividade que, primeiro, não se consegue dessa forma, mas que, segundo e pior, acaba por ter efeitos circulares cumulativos nas opções que os empresários vão fazendo, privilegiando investimentos de baixo valor acrescentado, os quais acabam por gerar rainda mais desigualdade.
É uma opção errada insistir nessa estratégia, como se vê com a pandemia. Mais: para quem se preocupa com o bem-estar das empresas – mas não da sociedade – o José deveria pensar mais à la longue. A desigualdade mata e degrada. Social e politicamente, promove monstros. Mas todos sabem disso e por isso, creio eu, nada é por acaso. Pretende-se, sim, que o debate político seja cada vez mais um falso debate entre a direita “civilizada” e a direita “troglodita”, duas direitas com o mesmo programa económico que favorece os interesses instalados. De fora, claro, ficam aqueles que são vítimas dessa precisa política económica de classe.
Pense nisso, José, e - já agora - mude de classe.
Caro João,
Por qualquer razão, não me apercebi deste seu comentário.
Apercebo-me é que o controleiro vindo do Manifesto74 diz o que quer e a minha resposta não é publicada, anunciando um tempo sombrio.
Quanto ao que diz, e sendo breve:
As remunerações dependem do produto; gestos magnânimos aplicam-se a derreter capital.
A desigualdade é factor de progresso, se progresso é palavra que apele a empenho e não a acomodação.
A minha classe é o meu pensamento e o meu carácter.
Não é a esquerda que me incomoda; é a esquerdalhada, essa mistela de emoções alheias a razões, onde a ambição se chama igualdade e não empenho, e para quem democracia tem rótulo de classe.
Caro José,
Era bom que as remunerações dependessem do produto. Nesse caso, as remunerações teriam crescido bem mais do que cresceram, já que têm subido bem abaixo da produtividade. E quando isso acontece o que se passa é conhecido: desigualdade na repartição do produto.
Ora, chamar isso a progresso, encaixa-o no mais ingrato grupo social que pode ser conhecido, ao colar-se à era dos esclavagistas. E por isso, o seu pensamento não é a sua classe, embora haja "classes" que pensem tal e qual como o José, o que não deixa de ser curioso para quem se acha único no mundo.
Tenha mais compreensão por quem pensa diferente de si, porque o ódio - como o seu - impede as pessoas de pensar. Devia ter mais respeito por quem exige mais igualdade, porque ela tem vindo a ser criada graças a movimentos com um rasto histórico desde que a sociedade existe e que levaram a que, a golpes de revolta - contra as quais o José está - lhe permitem a si beneficiar do que a morte de muitos dessas pessoas conquistaram a pensar também em si. Paradoxo incrível para quem se deixa tomar tanto pelo ódio.
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