«À austeridade expansionista sucede-se a contenção orçamental», afirma nesta edição a economista Eugénia Pires, sintetizando o drama em que assenta a resposta neoliberal, nacional e europeia, às crises mais recentes (...) Mesmo com o alívio de algumas regras à escala europeia (eventualmente por dois anos, como no caso do limite de 3% do défice), estes países continuam a ser vigiados e pressionados com o objectivo de lhes impor disciplina orçamental, contenção das contas públicas e sustentabilidade da dívida pública (...) Portugal tem um dos planos mais frágeis da União Europeia para responder à crise pandémica. Chegando a esta crise como um dos países que já antes tinham maiores desigualdades socioeconómicas, não está obrigado a aceitar como inevitável que esta crise, muito assimétrica, fará explodir ainda mais as desigualdades. Mas é isso que acontecerá se não forem denunciados os condicionalismos orçamentais europeus que continuam a fazer-se sentir. E se não se decidir que, assim como há linhas vermelhas de alerta sanitário para confinamentos e desconfinamento, também tem de haver linhas vermelhas de alerta social que os impeçam ou possibilitem.
Para lá do empiricamente detalhado artigo de Eugénia Pires do Ladrões de Bicicletas sobre a irresponsável política orçamental do governo, destaco na componente portuguesa o artigo de António Rodrigues sobre os desafios dos cuidados primários de saúde no presente contexto.
Este médico é um intelectual público do SNS naquilo que tem de mais próximo e eficaz. Médico de família durante décadas, cura e educa, numa visão que só pode ser abrangente porque é autónoma em relação ao nexo-dinheiro, estando focada nas necessidades. Lembrei-me neste contexto do início da segunda tese sobre Feuerbach de dois jovens com barbas: “A questão de saber se ao pensamento pertence a verdade objectiva não é uma questão de teoria, mas uma questão prática”.
4 comentários:
As teorias dos dois jovens com barbas, quando aplicadas à prática, não produziram lá grandes resultados, pois não, João Rodrigues?
A verdade objectiva tem muita força...
Obrigado João!
Vindo de ti, dás-me um imenso impulso para continuar.
Assim será.
Fica a promessa.
Curiosamente,alguém que discute os dois jovens barbudos em termos de "teorias aplicadas à realidade" mostra desde o primeiro momento que ou não leu ou não compreendeu os mesmos. Falar do que não se sabe (na esperança de uma ignorância ainda maior da plateia) só pode dar mau resultado, particularmente quando se pretende dar ares de sabedoria autocomplacente.
Deram, sim! Deram um ideal sem o qual grande parte das ideias de liberdade e libertação não teriam um farol.
Nuno
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