sábado, 27 de outubro de 2018

Brasil, a última década e meia

A confluência de diferentes fatores, sobretudo as três linhas de força aqui identificadas pelo Ivan Nunes (o impacto do processo Lava-Jato, o processo do impeachment de Dilma e o eclodir da crise), criaram uma atmosfera desmesurada de ódio e diabolização do PT. Um ambiente que, para lá das responsabilidades do partido, ajuda a perceber por que razão o Brasil se predispõe não só a eleger uma figura tenebrosa como Jair Bolsonaro (que não tem pejo de explicitar ao que vem), mas também a colocar em causa a própria democracia. Mais circunstancialmente, junta-se a tudo isto o ativismo da comunicação social de massas brasileira na causa antipetista, que não é de hoje, a profusão intensiva de fake news pela candidatura de Bolsonaro, com o apoio de grandes empresas, e uma campanha eleitoral bizarra, em que o candidato melhor posicionado para vencer a eleição se recusa a participar em debates com os seus opositores. Decorrendo sobretudo nas redes sociais, repletas de ódios e notícias falsas, a campanha relegou para segundo plano uma verdadeira discussão dos programas eleitorais e o debate sobre a situação do país e os resultados alcançados pela governação do PT nos últimos quase quinze anos.


Talvez por isso se tenha perdido a noção dos avanços que o Brasil conseguiu ao longo da última década e meia, com o Partido Trabalhista no poder (sobretudo com Lula, entre 2003 e 2011). Um dos mais relevantes, numa sociedade tão classista e desigual como a brasileira, é o da redução da pobreza. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pobres cai de cerca de 42 milhões em 2003 para 14 milhões em 2014, com a respetiva taxa a passar de 24 para 8% (e a pobreza extrema a cair de 8,3 para 2,6% no mesmo período). O rendimento médio mensal, por seu turno, aumenta cerca de 18% entre fevereiro de 2003 e fevereiro de 2016, tendo praticamente atingido os 2.500 R$ em dezembro de 2014, antes de começar a cair, com a crise. E mesmo a tendência de aumento da violência, desde pelo menos 1996, é invertida em 2003, para voltar a subir sobretudo a partir de 2011 e com um agravamento significativo em 2016 (quando se atingem os cerca de 62 mil homicídios, 44 mil dos quais associados a mortes por arma de fogo). Que nada disto pareça pesar, ou pareça pesar pouco, na decisão da maioria dos brasileiros - em contraponto com o que se anuncia com a vitória da extema-direita de Bolsonaro - é algo muito inquietante, que devemos continuar a tentar perceber.

24 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente não é referido que essa diminuição da pobreza foi feita não à custa do desenvolvimento da iniciativa privada e níveis educacionais e, consequentemente, de uma forma mais duradoura, mas sim à custa de rendas mínimas que não ajudaram os pobres a criar ferramentas para saírem mesmo da pobreza.
A consequência deste tipo de políticas é uma regressão a longo prazo. Se verificarmos o rendimento médio mensal ajustado com a taxa de câmbio do dólar verificamos que houve uma regressão no rendimento médio dos brasileiros.
É isto que quem não vive no Brasil não entende. Fácil governar distribuindo dinheiro e não desenvolvendo o país.

S.T. disse...

Os povos que não desenvolverem rápidamente anti-corpos contra a manipulação da informação através de um corpo de opinião esclarecida com acesso aos meios de informação de massas correm sérios riscos de ver as suas frágeis democracias subvertidas por poderosas ferramentas de desinformação actuando ao nível das redes sociais e de um corpo de jornalistas fragilizado pelos gigantes da comunicação.

Parece que no Brasil ninguém percebeu como funcionaram as "primaveras árabes".
E mais uma vez um problema de elites compradoras.

S.T.

Anónimo disse...

Presume-se que o anónimo das 16 e 18 vive no Brasil

A defender a regressão enquanto invoca regressões paridas na sua cabeça

Há qualquer coisa que não funciona aqui. E não cheira bem

Anónimo disse...

A diminuição da pobreza foi feita .Segundo um anónimo que viveu ou vive no Brasil

Mas não foi feita à custa da iniciativa privada. Que como se sabe, sobretudo a grande, usurpava e usurpa a imensa maioria da riqueza produzida no Brasil.

E que não gostou que uma tão grande percentagem de pobres e de muito pobres deixassem de o ser

O que não pode ser. Como é de bom-tom para a iniciativa privada, sobretudo a grande, que continua a querer acumular riqueza. Para que os pobres e muito pobres permaneçam pobres e muito pobres. À espera da iniciativa privada, sobretudo a grande

Este tipo da facilidade em governar distribuindo dinheiro o que é? Quem diz tais disparates? Um provocador ou alguém que pensa que as teses da extrema-direita florescem assim por aqui com esta facilidade, como acontece no Brasil?

S.T. disse...

A característica que melhor define as elites compradoras é a obsessiva apetência por produtos importados como simbolos de estatus, de diferenciação em relação ao povaréu.

Daí a obsessiva referência ao câmbio do dólar porque os artigos que consomem são pagos em dólares. Não importa se o povaréu vive melhor ou pior, se come ou passa fome. O que interessa é quanto custa o gadget em dólares.

S.T.

Jose disse...

Questiono-me se o Brasil é já desde há tempos institucionalmente uma ditadura.


Do modo que os petistas lusos falam do futuro, parece que o presidente a eleger vai instalar-se num regime ditatorial, sem órgãos democráticos, sem poder judicial autónomo.


A histeria propagandística e a demonização do adversário é receita única para a esquerdalhada.

Anónimo disse...

Quem diz que é fácil governar distribuindo dinheiro é alguém que viu que o Boom das commodities, em vez de ajudarem a elevar uma faixa da população da pobreza, dando meios para criarem riqueza de forma consistente, apenas distribuiu esse dinheiro sob a forma de rendas mínimas. Qual educação, qual apoio à iniciativa privada, distribuir rendimento mínimo é bem mais efetivo em termos eleitorais (daí que Lula conseguisse, no caso de se candidatar, partir logo com 40%).

E ao contrário do que está subjacente aos raciocínios acima, Lula não foi inimigo das elites. As elites continuam, num dos países mais desiguais do mundo. Aliás Lula estava ligado à Petrogras, construtoras, etc. Não sei se quem falou tem nocao, mas a taxa Selic é vários pontos superior à inflação. Sabe o que isso significa? É fácil ser rico no Brasil, não precisa trabalhar.

É uma ilusão achar que o câmbio com o dólar afeta essas elites. Afeta muito mais classe baixa e classe média, que se vêem privados de qualidade de vida.

Só mais um exemplo, os dividendos não são taxados no Brasil. Lula mudou? Não, distribuiu o dinheiro do Boom das commodities tendo proveitos eleitorais, e quando este acabou pobre voltou a ser pobre, e classe média ficou mais pobre.

Aparte: curioso que qualquer voz dissonante é imediatamente apelidada de extrema direita. Poderia aqui elaborar raciocínio sobre a semelhança da extrema direita com a extrema esquerda, por oposição ao liberalismo. Mas não iriam entender.

Anónimo disse...

O Lula fez alguma coisa pelos mais pobres, nomeadamente subindo o salário mínimo, acabando com a fome, diminuindo drasticamente a mortalidade infantil, dando eletricidade a todos. Mas é claro que muito ficou por fazer num país que só perde das Honduras e Haiti em termos de distribuição dos rendimentos na América latina. Nos últimos temos a Dilma sucumbiu à sirenes da direita, suprimiu impostos a rodos nomeadamente na Saúde, não fez a reforma fiscal, nme tocou nos juros dos rentistas, e o povo se enforcou no crédito assassino. O problema da terra urbana e rural não foi atacado, Hoje não se sabe de quem é muita terra reclamada por MST e por fundos de pensões internacionais com propriedades do tamanho da Bélgica. Curiosamente muitos desses fundos de pensões são "de esquerda", pensões de professores etc. Esta eleição é um epifenómeno em cima de um mar de problemas muito complicados de resolver, eles refletem exatamente os problemas do nosso mundo. É um microcosmo. Se não houver cuidado aquilo vira uma bomba. O Brasil precisa de um grande consenso, mas não é com esse tarado do Bolsonaro, um doente que ficou 30 anos no Congresso defesndendo a tortura que se chega lá. Isso não significa que os brasileiros sejam fascistas. Significa que não aguentam mais viver na violência e sem saúde nem educação decentes.

Anónimo disse...

Nós sabemos há muito tempo que é fácil ser rico no Brasil

E também sabemos que a classe média-alta no Brasil é uma classe que vive muito acima da nossa classe média-alta. É uma classe que vive no luxo e do trabalho alheio.

Uma classe de parasitas

Anónimo disse...

Primeiro parágrafo: interroga-se José se o Brasil é , desde há tempos institucionalmente uma ditadura.

Segundo parágrafo: parece que blablabla o Brasil tem órgãos democráticos que fazem funcionar a democracia

A ditadura de jose parece que tem órgãos democráticos. Ou os órgãos democráticos são já uma ditadura... institucional?

A que figuras é obrigado jose só para defender desta forma cobarde um fdp como este bolsonaro

Anónimo disse...

Há mais

Este tipo fala em poder judicial autónomo

Uma pena para ele que o poder judicial no Brasil tenha mostrado ser uma farsa. Assim daquelas farsas que abrem caminho às bestas

Bestas assim acarinhadas por josé que as protege desta forma cheia de ternura. E protesta contra quem demoniza tais bestas.

Sempre solicito e a solicitar comiseração para o coitadinho do fdp fascista

Tudo uma questão de classe e de pedigree

Entretanto já se esqueceu da sua figura a imvocar o demónio , montado no dorso de Passos Coelho

Os demónios também se servem a la carte

Anónimo disse...

Quem viu a saída de milhões da pobreza é quem nunca viu estes deixarem de ser pobres durante muitos e muitos anos.

E a riqueza apresentar níveis de concentração insuportáveis

A educação e os commodities ( que linguarejar doentio) não foram invocados durante tantos anos... e tantos anos no Brasil viveram imensos pobres e muito pobres que assim morreram pobres e muito pobres

E a iniciativa privada essa então? Esperava simda mais commodities?
Aquela iniciativa privada que está por detrás de tanta corrupção?

Lula não enfrentou como devia as elites. Dilma muito menos. Deviam ter assumido nas suas mais as questões económicas de fundo. Mas tiveram um mérito incomensuravelmente maior que os que governaram antes

Trafulhices sobre commodities(!) e sobre distribuição de riqueza a vampiros é que não

Anónimo disse...

Vamos lá ver isto com olhos de ver: é verdade que com o PT, o rendimento mensal aumentou, a taxa de pobreza diminuiu e nº homicidios também. Mas também é verdade que nos ultimos 2 anos, tudo isto tem tido tendência de inversão.

A que se deve essa inversão?
Distribuição de riqueza com base em sectores de interesse e não em crescimento económico, "desresponsabilização" criminal, ...


E faltam aqui outros gráficos: a taxa de alfabetização, literacia e nivel de escolaridade, acesso à saúde; crescimento económico; criminalidade económica...

Isto apresentar apenas as estatísticas que interessam para a história que se quer vender, tem muito que se lhe diga.

Anónimo disse...

Vamos lá ver isto com olhos de ver

A inversão dos últimos dois anos foi também consequência directa de cedência às elites económicas e aos interesses privados

Porque a direita, a extrema- direita, a classe média alta do Brasil fez o seu trabalho imundo.

E em vez de se enfrentar de frente a besta, tentou-se pactuar com ela

Os resultados estão à vista. E a demagogia dos commodities ( que linguarejar) e das virtudes dos apoios à iniciativa privada não pode passar impunemente

Isto de tentar desmentir factos que não interessam para a história que se pretende contar tem mesmo muito que se lhe diga

Anónimo disse...

Os últimos dois anos são consequências das reformas que inexistiram no período de expansão economica. A quem não entende o que é iniciativa privada, educação e promoção do desenvolvimento por estes e não pela subsidiação, aconselho alguma pesquisa. A quem desconhece o significado de commodities, ou que acha uma palavra complicada, eu dou a tradução: matérias-primas. Com essa tradução espero que consiga entender o que foi escrito ;)

Anónimo disse...

Ver este artigo de Bateira publicado hoje no LdB.

https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2018/10/quando-esquerda-faz-politica-economica.html

Em vez de se enfrentar a besta tentou-se pactuar com ela

Anónimo disse...

A quem ache o termo commodities complicado?

Este anónimo ainda não percebeu que a questão não é a complicação do termo.

A questão é ter escolhido um termo em inglês quando há palavras em melhor uso na língua portuguesa.

Será que desta percebeu e que vai deixar este linguarejar catatónico ou vai insistir nas "mercadorias" ?

Anónimo disse...

Também se aconselha o anónimo em questão a mais algumas pesquisas. Não basta dizer que há outros gráficos.

"Dilma Roussef ganhou as eleições em 2014 com a promessa de expandir os programas sociais do PT. O verdadeiro problema para o PT surge com o volte-face após as eleições, quando Dilma nomeia Joaquim Levy, um neoliberal do Bradesco, um dos maiores bancos, para ministro das finanças, com o mandato de realizar um ajustamento orçamental".

Ora neoliberalismo é sinal de ruína económica. A "iniciativa privada" é aquele termo meio esquisito que serve para tudo e até para justificar o aumento dos rendimentos de tal iniciativa privada. À custa dos demais

Anónimo disse...

" Dilma Roussef não teve azar com a crise que, segundo se diz, atingiu o Brasil. Não, a crise foi fabricada pela política económica da própria Dilma, assessorada pela sua equipa económica e financeira, gente formatada pela teoria económica neoliberal. Dilma traiu o seu programa eleitoral logo após a reeleição quando decidiu agradar ao poder financeiro através de um "ajustamento" orçamental que encomendou ao economista neoliberal Joaquim Levy. A enorme recessão produzida pela nova política orçamental foi decisiva para a erosão da base social de apoio ao PT e, finalmente, a sua derrota. Sem a crise que o governo produziu, os outros factores de erosão do PT teriam sido menos eficazes".

Em vez de se enfrentar a besta, tentou-se pactuar com ela. Os resultados estão à vista

Anónimo disse...

É bom lembrar o programa para a educação do fascista bolsonaro:

«A suposta aplicação de sua filosofia [Paulo Freire] nas escolas públicas é alvo de críticas por parte do candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL), para quem seus ensinamentos “marxistas” atrapalham o desenvolvimento dos alunos. Ao criticar o Ministério da Educação (MEC), disse que se eleito “vai entrar com um lança-chamas no MEC e tirar o Paulo Freire de dentro”».

Jose disse...

«Quem viu a saída de milhões da pobreza…»

A cretinagem vê a economia com vê os direitos adquiridos - irreversível!


Como se fosse grande feito 'vender o ouro' e deixar de ter pobres durante uns meses.

Anónimo disse...

Quem viu a saída de milhões da pobreza...

E logo um tipo , envolto na bestialidade própria da boçalidade dos medíocres, salta e vitupera:

“ a cretinagem”

Este é o espectáculo dado por patrões de antanho e do presente.

Com esta patine colorida. Mas que frequenta o ginásio.

Anónimo disse...

Grande feito é mesmo tirar milhões da pobreza. Especialmente num país em que as desigualdades sociais são abissais

Mas essa história da riqueza é para concentrar. Cada vez mais. Mesmo à custa das pulhices patentes e da gula obscena dos Josés de ocasião

E logo salta este, do fundo da caverna e da mesa dos comensais

Anónimo disse...



É muito assustador verificar que há tantos portugueses a acharem que vivem num Brasil e com facilidade adeririam a um Bolsonaro luso.