sexta-feira, 9 de março de 2018

Escapam?


Mário Centeno declara que o chamado ajustamento grego foi demasiado longo (de facto, a crise grega ultrapassou a Grande Depressão em duração e severidade da queda do PIB), mas, traduzindo a novilíngua da troika por si adoptada, diz que a falta de convicção com que as elites gregas aplicaram as políticas impostas pelos credores atrasou tudo. Varoufakis vê justamente nisso um insulto, que se soma à injúria sofrida.

Nem de propósito, em artigo no número deste mês da edição portuguesa do Le Monde diplomatique - Por quem o sininho dobra no Eurogrupo? - mobilizo o último livro de Varoufakis, que tem algumas boas revelações e que foi recentemente editado entre nós, para tentar aprofundar a reflexão sobre os efeitos perversamente reveladores da chamada eleição de Centeno para a chamada Presidência do chamado Eurogrupo. Centeno está bem onde está, tendo em conta a sua orientação ideológica. A questão com Centeno não é pessoal, mas sim política. Um problema, em suma.

Enfim, apetece dizer: eles que apostem no bloco central europeu, do ponto de vista político, e em dar novo fôlego à financerização da economia, como já defendeu Centeno em declarações e opções recentes; eles que tragam cá para dentro tais tendências europeias, o que se nota aqui e ali, e veremos então se a social-democracia nacional escapa a prazo ao destino das suas congéneres europeias.

Entretanto, Varoufakis insiste na fuga em frente dita pan-europeia, esquecendo que não se conquista na escala transnacional o que se perdeu na escala nacional, rumo a um resultado residual nas eleições europeias para os partidos que integrem o seu movimento, nuns casos, ou a fazer de flor na lapela de uma social-democracia em declínio generalizado, noutros.

24 comentários:

Anónimo disse...

"...não se conquista na escala transnacional o que se perdeu na escala nacional..."

Exactamente!

É este o erro mais denunciador do europeísmo cego de Varoufakis.

Quantos anos seriam necessários para que um movimento político à escala europeia alcançasse dimensão e força para desafiar e vencer as forças instaladas?

Para mais com a barragem de propaganda que as forças neoliberais mobilizam na quasi totalidade dos meios de comunicação do continente.

Será viável um movimento que tenha que incorporar no seu seio as contradições e interesses conflituantes entre colonizados e colonizadores, entre vítimas e perpetradores?

Ignorar que não existe um demos europeu que suporte uma real democracia à escala europeia é o maior erro politico de Varoufakis.
S.T.

Jose disse...

Muito me irrita esta treta da queda do PIB!

Ao PIB só lhe compete cair quando é construído com base em dívida impagável e só pode ser mantido acrescendo dívida.

Anónimo disse...

Para benefício das capacidades de análise da digna assembleia muito se ganharia pela leitura deste interessante texto de Paul Mason:

https://www.opendemocracy.net/neweconomics/second-trench-forging-new-frontline-war-neoliberalism/

Boa leitura
S.T.

Democrata disse...

O sr. Yanis Varoufakis, ex-Ministro da Economia da República Helénica, e idiota-útil dos neoliberais, deve antes de mais ter cuidado com as afirmações que profere, pois o caos e destruição da economia grega, que foi e continua a ser pago pelos cidadãos gregos que em nada contribuíram para essa situação, a ele também se deve.

Yanis Varoufakis, foi apoiado pela multinacional London Speaker Bureau, que tinha como dirigente Joschka Fischer, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Federal da Alemanha, e da qual também fazia parte Durão Barroso; Varoufakis era pago a peso de ouro para dar palestras e aulas por aqueles que faliram a economia da Grécia e impuseram aos cidadãos gregos o pagamento de uma dívida que não contraíram:


- "Yanis Varoufakis accused of profiting from Greek crisis by charging £40,000 speaker fees"
https://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/greece/11955860/Yanis-Varoufakis-accused-of-profiting-from-Greek-crisis-by-charging-40000-speaker-fees.html

Valores:

60.000 $ (Dólares) Conferências fora da Europa
5.000 $ (Dólares) Discursos na Europa
1.500 $ (Dólares) Aulas em universidades

Jaime Santos disse...

Pois, pois, mas foi graças à política do terrível Liberal Centeno que a Economia cresceu 2,7% este ano. Faça melhor, sff. Apresente a sua alternativa e explique como é que coloca o País a crescer, sem deixar de referir os sacrifícios que é preciso para lá chegar, e que resultarão seguramente do abandono do Euro e da UE (porque é isso que o João Rodrigues realmente quer).

Só criticar os outros não chega, convém dizer o que faria de diferente. Qual o seu programa de Governo, em suma. E deixe-se de generalidades sobre a 'Economia de Abril' e a 'soberania', e o que mais seja. Não se comem essas coisas... O Senhor Tsipras rapidamente percebeu que sem planos bem gizados não conseguia fazer frente a Bruxelas, foi também por isso que se livrou de Varoufakis que convenhamos, pode ser um homem inteligente, mas politicamente é um ingénuo (além de ser um fala-barato)...

É que das duas uma, ou o João Rodrigues não sabe o que acontecerá a seguir a um abandono do Euro ou se calhar sabe e não se importa nada. Never let a crisis go to waste, não é?

E não precisa de estar sempre a repetir que nada de pessoal o move contra Centeno. O seu problema é político, já se percebeu, e tenho a certeza que Centeno ou quem lá for não se importam nada com a sua crítica às suas posições.

Mas, se tem mesmo um problema político tão grande com o atual Ministro das Finanças, seja coerente e defenda a sua demissão do Governo ou no limite, a queda deste último... O PCP que apresente uma moção de censura... Palpita-me que não o fará, porque nesse caso não era ao ocaso do PS que assistiríamos em Portugal...

E ainda bem que deixou de chorar lágrimas de crocodilo pelo fim da social-democracia. Agora, ao menos, passou a desejar abertamente o seu fim também entre nós. Como sempre se fez na sua área política, aliás. Saúda-se a franqueza...

Anónimo disse...

Essa irritação do jose já é de todos patente há largo tempo.

Não era necessário vir jose fazer essa figurinha de defensor do empobrecimento do país, replicando as tretas defendidas e debitadas por aquela figura de génio e de"catedrático", por todos nós conhecida como o do manga de alpaca da troika.

Essa da competência do PIB para cair mostra também várias coisas. Por um lado a "competência" dum patronato medíocre e inculto. Por outro a tentativa de esconder o retrocesso experimentado durante o governo de Passos /Portas/Cristas/troika, com a queda consequente do PIB. Mas ainda se detecta aquele ódio xenófobo e particular ao povo grego, fazendo recair sobre este, toda uma governação virada para os interesses do Capital. Desde há largos anos. Também se ouviu por lá bastamente a conversa sobre quem vivia acima das suas possibilidades. Como se ouviu por cá, repetida até à exaustão por uma comunicação social acanalhada e por uma trupe de boys e de girls disposta a forçar o saque e o processo austeritário.

A Voz da Alemanha encontrou sempre quem repetisse nas línguas nativas os estribilhos do Deutschland über alles.

Como se demonstrou e demonstra, aliás

Anónimo disse...

Mas o mais importante deste post de João Rodrigues passa completamente ao lado destes queixumes irritados e treteiros de Jose.

Aponta o autor do post para o problema que representam as opções políticas de Centeno.

E não poupa Varoufakis que "insiste na fuga em frente dita pan-europeia, esquecendo que não se conquista na escala transnacional o que se perdeu na escala nacional"

ST clarifica:"Será viável um movimento que tenha que incorporar no seu seio as contradições e interesses conflituantes entre colonizados e colonizadores, entre vítimas e perpetradores?"


É por isto que são tão importantes posts como estes

Anónimo disse...

O Democrata foi logo pelo pior dos caminhos...pôr em causa a dignidade e a seriedade de Yanis Varoufakis, não brinque com as pessoas menos informadas, isso fica-lhe mal e é desrespeitoso, só quem não tem o mínimo conhecimento sobre o Yanis Varoufakis pode aceitar as suas insinuações. O problema da zona Euro é um problema comum a todos os membros e não só a alguns, a melhor solução será a que corresponde ao melhor para todos e o isolacionismo só trará constrangimentos e dificuldades, a zona Euro tal como existe é inviável, se nada for feito vai acontecer o pior, a proposta do Diem25 é bastante coerente e estrutura, não sei como o João Rodrigues acha que é mais fácil o apoio para uma saída isolacionista do Euro do que o apoio à proposta do Diem25.

Anónimo disse...

Talvez o anónimo das 7 e 8 não tenha percebido duas coisas fundamentais no que JR disse

Partir para uma aventura pan-europeia quando o trabalho a nível nacional está quase todo por fazer é tentar construir a casa pelo telhado. É negociar entre elites ou pseudo-elites algo que não lhes cumpre negociar. É transferir a soberania das decisões eleitorais nacionais para uma mixórdia sem pés nem cabeça. É tentar por esta via, uma representação pan-europeia de quem nem tem representação nacional. É conversa para assegurar cozinhados esconsos em vez de propostas claras. É finalmente assegurar um resultado residual para quem assumir estas veleidades. E aí algo do que disse ST faz todo o sentido. Para além de que o distanciamento de putativas listas assim elaboradas ainda separa mais o eleitor dos candidatos

Anónimo disse...

Ao apóstolo do Diem25

Qual será mais fácil? Ganhar eleições num país como a Itália, Espanha, Portugal ou a Grécia com um programa para resolver a reconhecida insustentabilidade do Euro ou convencer metade e mais um dos eleitores de toda a zona euro?

Se ganhar uma maioria eleitoral num país explorado e emiserado já é tão difícil devido à omnipresente propaganda eurista e às elites compradoras imagine além disso convencer os beneficiários a prescindirem do saque.

Sendo que as maiores economias, Alemanha, Holanda, Bélgica e França, beneficiam ilegítimamente do quadro do euro vigente, como espera convencer esse eleitorado a prescindir dessas vantagens e a resolver de uma vez por todas a fraude cambial que é o Euro?

Dito isto, até posso ter uma certa simpatia pela figura de Varoufakis, mas não tenho a mínima ilusão acerca da exequibilidade do projecto Diem25.

E desde quando soberania e ter moeda própria implica isolacionismo?
Dá a impressão de que não sabe do que está a falar...
S.T.

Anónimo disse...

O segundo mal-entendido deriva da designada via isolacionista para a saída do euro

Os motivos para uma saída do espartilho em que uma boa parte da Europa se encontra são vários e múltiplos. Mas não são concordantes. Nem a percepção da necessidade de se mudar de rumo é homogénea e esclarecida.

Num pano estendido como um enorme garrote sobre as nações, pelo directório, a probabilidade que uma das vítimas consiga adquirir os seus direitos de soberania,rompendo o pano asfixiante é maior do que fazer explodir todo o tecido eurocratico de uma só vez. Mas a vitória de uma das nações contribui para os movimentos de sublevação nas outras. É um acto eminentemente solidário com quem tem objectivos parecidos. É desferir um golpe na aparente coesão do império que vai facilitar a luta nacional. E abre as portas para uma efectiva negociação entre pares , soberanos, para lutas, políticas e atitudes comuns.

Isto é tudo menos isolacionismo. Como os movimentos de libertação nacionais bem demonstraram, ao fazer explodir tantos impérios

Anónimo disse...

Portanto, acha que neste contexto, um país pequeno, sem grande peso vai conseguir sair da zona Euro sem que haja um clima de animosidade...Uma qualquer tentativa de sair deste espartilho tem de ser feita numa lógica de chantagem, através do único argumento que países como o nosso têm, a divida, quero também lembra-lhe que o primeiro país que consiga fazê-lo em condições desejáveis acaba com esta zona monetária comum. Neste momento esta parte da Europa não se rege por valores democráticos nem estritamente racionais o que representa um outro factor de incerteza, isto para não falar do complicado processo de abandonar uma moeda que circula no país, moeda esta que não temos qualquer controlo, sim porque a ameaça tem de ser real e realizável, porque muito facilmente se fecha os bancos como se viu na Grécia e se obriga um país aplicar medidas que fazem com que o país fique ainda mais dependente e em piores condições.

Anónimo disse...

O consenso de Bruxelas será mantido até que isto tudo rebente, se não houver uma resposta comum, dos povos da zona euro, será a via nacionalista que irá vingar, e não será nada ordenado ao contrário do que parece crer. A explicação da zona Euro que chega a cada um dos países constituintes é ainda muito básica e está toldada pela visão de quem tem o poder, a falta de conhecimento e a desinformação é a raiz de todos os problemas.

Anónimo disse...

Ao anónimo das 12H43

O maior exemplo da "construção da casa pelo telhado" é exactamente o Euro, actualmente estamos numa zona monetária comum onde elites ou pseudo-elites negoceiam o que não lhes cumpre negociar, e a entrada no Euro representou efectivamente uma transferência de soberania das decisões eleitorais, o ponto aqui é qual a melhor forma de devolver a soberania aos povos e não se os países estariam melhor com ou sem o Euro. Admito que o distanciamento das listas possa ser um problema na relação eleitor/candidato ainda assim vejo com bons olhos a necessidade de centrar as questões na substância.

Anónimo disse...

Primeiro há que desfazer um drama: Países há que não têm moeda própria e a moeda usada nas transacções "al contado" é uma moeda emitida por um banco central estrangeiro. Que isso aconteça durante um certo período de tempo após uma redenominação não é mais danoso que a situação presente.
Segundo, a moeda impressa ou cunhada que circula físicamente é uma pequena parte da massa monetária de uma economia porque a maior parte é escritural e não física.

Portugal por si só não tem peso económico para fazer uma saída isolada do euro, é um facto que concedo.

E, como o caso grego demonstra, o dinheiro não é nem o problema nem o objectivo imediato.

Se "poupar dinheiro" fosse o objectivo alemão não teriam insistido num último empréstimo que todos os estudos económicos garantem que nunca poderá ser reembolsado.

O objectivo sempre foi politico, assegurando o domínio económico e político sobre a Grécia e a constituição de um sistema de rendas de longo prazo para as empresas alemãs.

Por último, só uma economia "grande demais para intervencionar" pode com êxito pôr em causa o Euro. Será o caso da Itália por razões de pura sobrevivência.

Outra possibilidade é que sejam os USA por se fartarem de suportar a fraude cambial que é o Euro.
S.T.

Anónimo disse...

Mais uma vez se repete que a resposta comum passa em primeiro lugar pelo retomar da soberania das nações e dos povos.

E esta luta é feita pela vontade soberana dos povos. Que terão depois todo o poder para negociar com outras nações em pé de igualdade.

A questão da animosidade é um facto concreto.Aconteceu na Grécia.Acontece com o Brexit. Mas não se pode hipotecar o desenvolvimento de um país a tais animosidades assim demonstradas. Tanto mais que a chantagem nunca foi um processo com futuro para submeter os povos.

O exemplo da Grécia é paradigmático de que uma coisa são as condições necessárias, outra as condições suficientes- É vital para o nosso futuro que se cumpra a saída do euro tal como este se nos apresenta. É uma condição necessária.Não será uma condição suficiente e já há exemplos de outras condições necessárias para impedir o que se fez com a Grécia

E estou de acordo com o reparo aí em cima sobre a impossibilidade de colocar lado a lado a vítima e quem vitimiza. Interesses diferentes que impossibilitam o diálogo inter-pares.

E já todos demos para a estória estafada duma alter-europeização em moldes fantasiosos.

Como também estou de acordo com a dificuldade deste processo todo e dos seus custos. Mas pelo nosso futuro este deve ser equacionado. Mais, por uma simples questão de sobrevivência. O romper uma das pontas do garrote europeu pode partir de onde menos se espera. E só quem está já preparado, terá condições para assegurar as condições suficientes e necessárias para o exito da sua missão. De contrário será o descalabro

Um última nota. Projectos como oDiem 25 estão destinados a ser uma pazada de terra para enterrar mais os princípios enunciados para a libertação do jugo do directório. Porque irrealistas e sem pés para andar. Porque desmotivadores de aspirações soberanas. Porque jogo de bastidores quando o que se procura é a mobilização das populações. Porque já ninguém pode ouvir falar de uma europa solidária no presente, já que o que o presente nos oferece é uma europa com dono e com servos. Porque não há possibilidade de se ter êxito sem antes se partirem as grilhetas que nos prendem. E porque este quebrar das correntes é muito mais fácil de ocorrer num dos prisioneiros do que em todos os prisioneiros ao mesmo tempo

Anónimo disse...

Estou de acordo com a necessidade de informar, esclarecer, mobilizar, as pessoas. Estou de acordo com o facto confirmado do imenso poder da enorme contra-corrente mediática (e não só) que as forças europeístas têm.

Mas se virmos bem o descontentamento popular que vai grassando e em que os resultados eleitorais são a ponta visível e concreta,tem sido aproveitado pela direita xenófoba e pela direita-extrema.

Também pelo abandono do campo a essa mesma direita. Parece que uma parte da esquerda abandonou os que deveria defender a esta máquina trituradora que constitui esta Europa dos grandes interesses económicos. Quem se sente desprotegido e esmagado opta por alternativas.

Cabe a todos nós assumirmos esse papel.Sem medo e sem constrangimentos.

Anónimo disse...

Como diz, e bem, o Vladimiro Giaché: Penta-Clown do dia...

https://twitter.com/Comunardo/status/972522892675223554?t=1&cn=ZmxleGlibGVfcmVjcw%3D%3D&refsrc=email&iid=b89cf285f9b14259be1272a4809e9b23&uid=2172871278&nid=244+272699393

S.T.

Anónimo disse...

É pela impossibilidade de se colocar no mesmo barco a vitima e quem a vitimiza que temos assistido a um fenómeno crescente de divisão nos diversos países, têm muito mais em comum um congénere da mesma condição social/intelectual do que dois cidadãos de um mesmo país com condições materiais diferentes, a fronteira não está nos limites físicos ao contrário do que pensa e do que é comum se pensar. Na minha perspectiva o DIEM25 representa exactamente o que deveria ser esta união monetária, uma união voluntária e solidária entre povos com um mesmo objectivo, o progresso.

Anónimo disse...

O DIEM25 enquanto distração é tão bom como as palavras cruzadas ou o sudoku. Enquanto movimento político reformista é a tentativa de escamotear que os defeitos de fabrico da zona euro são tão severos que não tem reparação possível.

Quer pôr uma vítima dos mini-jobs alemães no mesmo barco que um desempregado italiano?

Tire o cavalinho da chuva, porque existem no mundo do pensamento leis que determinam que só pela comunhão de ideias se alcança a unidade de propósitos e as ideias por detrás do DIEM25 são demasiado fracas para assumir esse papel aglutinador. É necessária uma carga ideológica ou religiosa muito forte para superar as barreiras de língua e nacionalidade ao nível da acção politica.

E mesmo assim até uma ideologia tão forte como o marxismo teve que recorrer à criação de partidos que desenvolveram uma apropriação local da ideologia, adaptando-a às condições locais. E foi um processo longo e com inúmeros fracassos, avanços e recuos.

Percebo perfeitamente que pessoas com um certo pendor intelectual se deixem seduzir pelos peixinhos glu-glu e passarinhos piu-piu do DIEM25, mas o activismo politico consequente exige outro nivel de empenho e motivação que as piedosas ideias transnacionalistas não conseguem motivar.

Também faz parte das leis do pensamento que o progresso se opera por oposição e contraste e simplesmente não existem suficientes diferenças entre o ideário DIEM25 e o degenerado e corrupto ideário da EU.

É por isso que para grande pena minha e de muita boa gente de esquerda é mais fácil a um populismo de direita afirmar essas mesmas diferenças. Algumas porque já faziam parte do património da direita e outras, (a maioria) porque a esquerda cedeu terreno e permitiu que a direita se apossasse dessas "bandeiras".

Claro que seria desejável que a esquerda conseguisse alcançar esse grau de contraste que desse coerência a um projecto de reforma europeu, mas tal não será possível se não fôr apoiado na reconstrução do papel dos estados, o que é exactamente o oposto do que propõe o DIEM25. Por isso, fundamentalmente por não ser nem carne nem peixe, auguro-lhes pouco sucesso.
S.T.

Anónimo disse...

Infelizmente o que temos é o que temos.
E temos quem ganhe e muito com a situação do euro
E temos quem seja explorado até ao tutano com este mesmo euro
O que deveria ser uma Europa solidária todos o sabemos. O que esta é também quase todos o sabemos.
Não vale a pena avançar com projectos líricos como o do DIM/25 que de facto coloca uma vítima ao lado de quem o vitimiza. A prazo saber-se-á que quem é explorado tem interesses comuns com todos os restantes explorados.
Mas o explorado do sul é muito mais afectado pela crise que o alemão. E ambos sentirão as coisas de molde muito diferente.

O DIEM25 é um nado-morto.E só avançará na comunicação social na medida em que tal possa interessar aos europeístas, já que pode contribuir para dispersar as forças nacionais que estão contra a presente situação.
Arranjos de cúpulas pseudo-esclarecidas não obrigado. A Europa,mesmo a solidária, constrói-se noutras bases

Anónimo disse...

Movimentos como o Diem25 são réstia de esperança desta Europa falhada, parece-me absolutamente abusiva a comparação entre o que este movimento pretende fazer com as estruturas existentes com o que está a ser feito pelo actual directório. A desistência generalizada de uma união viável é sinónimo de incapacidade e não de clarividência. O clima de desconfiança vai ser agudizado com a fragmentação e num cenário em que todos perdem parece-me pouco credível a melhor das negociações. Os desequilíbrios externos dos países da zona Euro tornaram-nos menos dissociações e há interesse comuns, sim, e é por isso que devemos lutar. Se nada de essencial for feito não tenha qualquer dúvida que a soberania ou pelo menos a tentativa da mesma será uma realidade.

Anónimo disse...

"Interesses comuns"?

Claro! Entre economias mercantilistas e elites compradoras nas neo-colónias há sempre interesses comuns. Podem é ser lesivos dos interesses das maiorias nas neo-colónias.

Segundo ponto, a "união" não é viável, pelo menos nos termos dos correntes tratados. E como não se consegue vencer a resistência de quem se aproveita da corrente situação, terá que se operar uma ruptura, que se espera controlada, do impasse politico.

Se a esperança residisse em falsas soluções como o DIEM25 estávamos bem arranjados. Bem podiamos esperar sentados e com uma caminha ao lado ;)
S.T.

Anónimo disse...

Os "sonhadores" do "mais Europa" devem ler este artigo para refrescarem as ideias... e tirarem o cavalinho da chuva.

http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=38852

"While Schäuble left his position with Germany in poorer shape than when he took over and his partner Eurozone nations, definitely in worse shape, the fanatical commitment to permanent fiscal surpluses, no matter what, will persist."

"In other words, the GroKo (as it is being called – Große Koalition) has been in government for some years while Germany has gone off the rails with huge external surpluses, persistent fiscal surpluses, its labour market offering worsening conditions to workers, and its public infrastructure degrading so much that trucks can no longer cross key bridges."

S.T.