quinta-feira, 22 de março de 2018

Dica

INE: Estatísticas da Saúde
Conselho a todos os jornalistas: de cada vez que ouvirem alguém propor alguma medida que implique recursos orçamentais públicos, perguntem-lhe duas coisas:

1) se fez ou consultou algum estudo de impacto dessa proposta e, se não, como é capaz de a propor assim, sem mais nem menos;

2) (no caso de ser um político de direita ou do PS) como se compatibiliza essa proposta com a sua concordância com o Tratado Orçamental - e a consequente obrigação de redução da dívida pública para 60% do PIB num curto espaço de tempo, o que obriga à existência de saldos orçamentais positivos.

É que, da última vez que se tentou compatibilizar os objectivos contraditórios, nomeadamente no que toca aos enfermeiros - hoje e amanhã em greve - as coisas não correram bem.

Veja-se os dados apurados pelo INE. Dos 1463 enfermeiros que, de 2012 a 2015, saíram do Serviço Nacional de Saúde, apenas 394 foram incorporados no sector privado. Os mais de mil enfermeiros restantes deverão ter abandonado o país, depois de formados com os nossos recursos. E vamos ver se voltam. Sobre a evolução recente do emprego público, consultar os dados da Direcção Geral da Administração e do Emprego Público. De Dezembro de 2011 a Dezembro de 2015, o sector perdeu quase 3500 pessoas, mas daí e até junho de 2017 ganhou mais de oito mil. E ainda fazem falta.   

Mas esta lógica aritmética pode ser enganadora. A constante supressão de recursos acarreta efeitos cumulativos que se reflectem em desarticulação de equipas, de serviços, de valências, com efeitos a prazo bem mais gravosos. Os cortes no passado ainda se reflectem na actividade de hoje, mal recuperadas. E essa avaliação cumulativa geralmente escapa à análise de curto prazo dos políticos.

E também aos jornalistas, que aceitam como boa qualquer declaração de políticos. Mesmo que sejam asneiras. Talvez o debate político suba de nível. 

12 comentários:

Anónimo disse...

Excelente posta

Vitor disse...

"Haverá uma taxa que incidirá sobre as empresas que abusem da rotação em relação ao respectivo sector. Existem sectores que, como o turismo ou agricultura, pela sua natureza, têm que ter um maior número de contratações a termo que outros sectores".

O que dizer desta afirmação do nosso primeiro ministro? Porque é que sectores como o turismo ou a agricultura deverão estar isentos de fazer um maior esforço na criação de emprego com direitos em vez de assentarem num modelo de trabalho precário?

O turismo é dos setores que mais tem crescido. Não estará na altura de aumentar os incentivos para que o emprego criado privilegie os contratos sem termo em vez dos vínculos precários?
Relativamente à agricultura preocupa-me a situação do Alentejo. O país fez um investimento enorme para construir o Alqueva e permitir a cultura de regadio. Criaram-se empreendimentos agrícolas com recurso a subsídios da União Europeia (muitas vezes por empresários estrangeiros...) Agora a maioria das pessoas que trabalham nestes empreendimentos são imigrantes da Índia e do Bangladesh que são postos a morar em contentores sem condições nenhumas. Supostamente todo este investimento deveria estar a criar postos de trabalho com direitos e que permitissem fazer face ao problema do enorme desemprego nacional. Em vez disso com todo este investimento criaram-se situações de quase escravatura no nosso país. A meu ver a Autoridade Para as Condições do trabalho deveria estar a fiscalizar iintensivamente todos estes empreendimentos agrícolas.

Não aceito que o emprego no Turismo e na Agricultura tenha de ser necessariamente precário. Apenas o será enquanto o quadro fiscal e regulamentar o permitir e incentivar.

Anónimo disse...

Vitor está equivocado no debate e nos processos

Percebe-se a comoção solidária com os empresários estrangeiros. Mas o denunciado no post escapa completamente ao Vitor.

Fala-se no Tratado Orçamental - e a consequente obrigação de redução da dívida pública para 60% do PIB num curto espaço de tempo, o que obriga à existência de saldos orçamentais positivos.

Fala-se na política criminosa do governo de Passos Coelho e da trupe neoliberal em relação nomeadamente à saúde.

Aponta-se a "constante supressão de recursos" promovida pela tralha neoliberal que "acarreta efeitos cumulativos que se reflectem em desarticulação de equipas, de serviços, de valências, com efeitos a prazo bem mais gravosos.

Sublinha-se que "os cortes no passado ainda se reflectem na actividade de hoje, mal recuperadas".

E apela-se a que o debate suba de nível, responsabilizando também os jornalistas.

E vitor vai dar um mergulho no turismo e na agricultura, colados ao Bangladesh?

Não gostará que se denuncie o vergonhoso Tratado Orçamental ou os tempos de chumbo da governança neoliberal tout court?

Jose disse...

Perguntas sempre esquecidas no tempo do PPC.

E aquelas 40 horas que não faziam falta nenhuma?

5/35= 14,29% aplicados aos activos no SNS quantos dava?

Vitor disse...

Sr. Anónimo,
tendo em conta que o post aborda questões laborais, e o facto de os enfermeiros serem forçados à emigração, e a atualidade das declarações do primeiro ministro sobre a diferenciação das obrigações/penalizações dos empregadores consoante o setor de atividade (algo que eu discordo), julguei apropriado chamar À atenção para este facto.

Relativamente ao Tratado Orçamental não o conheço em detalhe pelo que não posso opinar com propriedade. Contudo eu penso a nossa opinião até provavelmente está alinhada pois eu defendo uma prioridade ao combate ao desemprego e à promoção do retorno da população ativa portuguesa que emigrou durante a última década. Penso que esse retorno da população ativa é essencial para a sustentabilidade do país a médio longo prazo e que é urgente tomar medidas para que isso possa acontecer. Penso também que temos de responsabilizar a Comissão Europeia e o FMI pelas medidas erradas que foram tomadas em Portugal e que ao promoverem essa emigração comprometeram a nossa sustentabilidade a longo prazo. Acredito mesmo passar essa mensagem junto da opinião pública e dos media devia ser uma prioridade. Não sei até que ponto é que o tratado orçamental permitiria uma posição Portuguesa na linha de caso tenhamos um défice superior ao limite responsabilizar a União Europeia e exigir mais transferências do centro europeu que compensem esse défice e a falta de competitividade da nossa economia derivada de uma moeda demasiado inflacionada e ao atraso do BCE na tomada de medidas que garantissem a sustentabilidade da nossa dívida...

Anónimo disse...

Eu sei que o Vitor julgou

Mas que quer? O nome aos bois sempre, mais a responsabilização da tralha neoliberal

Anónimo disse...

Perguntas sempre esquecidas no tempo do Passos Coelho?

Isto chama-se aldrabice pura e dura. Refere-se herr josé ao roubo perpetrado pela canalhada aos salários e às pensões?

Mais o roubo traduzido no aumento do horário de trabalho sem qualquer remuneração?

Só mesmo fdp são capazes destes roubos institucionalizados. Entretanto esta mesma cambada faz uma choradeira tremenda quando lhes limitam o direito ao seu uso particular dos bordéis tributários.

Pois é. O saque da trupe vampiresca traduziu-se em múltiplas vertentes

E a correcção da ilegalidade boçal, neoliberal e patronal fez estes tipos andarem a vomitar o paleio do Diabo durante ano e meio

Alguns vieram posteriormente falar gemibundos de orçamentos e outras tretas para tentarem limpar-se da montada do Diabo

A memória é uma coisa lixada. O desejo de saquear também.

Tal como as saudades pelo trabalho escravo.

Está é a imagem de verdadeiros salteadores do trabalho alheio

Anónimo disse...

O Vitor não conhece o Tratado orçamental em detalhe

Mas fala tu cá tu lá da sustentabilidade da dívida. Mais da responsabilização da união europeia etc e tal

Estranho. Uma é incompatível com o outro

Jose disse...

«falar gemibundos de orçamentos e outras tretas »

ORÇAMENTOS APROVADOS E NÂO CUMPRIDOS AFASTARAM O DIABO - vejo que tonaste boa nota, embora gemas.

Anónimo disse...

"Tonaste ou não tonaste" eis a questão

Mas verifica-se algum incómodo ( diria mesmo mais, alguma histeria) perante o desmoronar das continhas de merceeiro medíocre ( à patrão equivalente) em relação ao roubo perpetrado pela governança neoliberal, também nas horas de trabalho.

O resto é isso aí em cima expresso. Berros em forma crispada, despoletados por jose ter sido apanhado com as calças na mão, entre o seu discurso idiota do Diabo e o do seu ainda mais idiota discurso do Orçamento.

Jose disse...

Se os contratos caducam e não se mantém 'a mais favorável' isso significa que que os direitos se mantêm se possível, e em cada tempo se saberá como repartir o rendimento disponível e expectável.

Coisa tão evidentemente adaptada à economia, está afastada da função pública, como outras regras da economia privada, por mera cobardia política e reacionarismo dos amantes do Estado ueber allen.

Anónimo disse...

Mera cobardia é de facto este arrazoado parido a esta hora por jose

Se é também política, isto já pode ser discutível. Mas como o "tonaste"desapareceu, junto com os diabos e o orçamento, tal parece indicar que efectivamente também a é.

(ao menos desapareceram os berros histéricos)

Mais uma vez o que resta são as justificações idiotas sobre a caducidade dos contratos.

Os mafiosos são assim. Tentam justificar os roubos de acordo com a sua geometria variável. Antes era a troika e só a troika e a ida mais além do que a troika. Depois os lamentos e os gemidos pela ida da troika.

Antes era o roubo dos salários e das pensões e do trabalho não remunerado. Depois era a perpetuação de tal estado de coisas. Senão seria o diabo.

A economia para estas coisas tem destas coisas. Quando se trata de roubar o mundo de trabalho é uma questão de repartir o rendimento disponível e outras tretas a jusante.

Quando se trata de garantir os proveitos do Capital é uma questão de insultar quem não garante o sagrado direito ao lucro e às rendas, com a defesa dos bordéis tributários para preservar o saque.

E o fado malcheiroso do Diabo dá lugar ao mal-cheiroso faduncho da "economia "privada"

Entretanto jose tem que rever o seu alemão, um pouco enferrujado desde que começou a fazer as fitas piegas em torno dos Orçamentos e teve que abandonar temporariamente a missa em alemão