sexta-feira, 28 de julho de 2017

Fogo férreo

Este gráfico ilustra bem a percepção que qualquer espectador tem ao mudar de canal. E isso daria pano para mangas numa investigação académica. E até política.

O número de minutos representado no gráfico abrange todos aqueles subtemas a que as televisões deram atenção nos últimos oito dias: incêndios propriamantre ditos, o caso de Pedrógão e o número das suas vítimas, a reforma florestal, SIRESP, reacções políticas, declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, etc., etc. 

Mas como é que é possível que redacções distintas, com jornalistas profissionais independentes, consigam um grau de sintonia tão apurado? Verifica-se mesmo uma sintonia nos dias em que o tema é abertura dos jornais nocturnos (23, 24, 25, 26 e 27/7) ou quando apenas aparece no meio do jornal (dias 20, 21 e 22/7) e até na hora em que surge. 

A realidade no terreno dos incêndios explicará parte dessa sintonia, Mas como explicar os mesmos tempos de cobertura, a ponto de monopolizarem metade dos jornais?

Além desse, muitos outros factores poderão influir: uniformização de fontes de informação, uniformização de factos políticos (caso do jornal Expresso no sábado, 22/7, quando suscitou a questão do número de mortos em Pedrógão), mimetismo de informação (fruto da luta entre empresas de comunicação por um mesmo mercado), silly season (quando o futebol acaba os jornais ficam com um buraco, como lembrou o José Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo), etc.

O resultado é que a informação passada não se distingue muito entre canais, quando - segundo a ideia passada que levou à privatização do espaço público - a concorrência entre canais deveria suscitar, sim, uma maior variedade de informação...  

As ditaduras percepcionam-se também pela uniformização da informação. E essa uniformização existe igualmente com a centralização das decisões num número reduzido de pessoas e no afunilamento de temas a que conduziu a concorrência entre empresas que contaminou todo o processo de produção de informação e os comportamentos dos jornalistas.

Algo tem de ser feito, porque este dispositivo será usado no dia em que se queira que os povos embarquem para uma guerra que não é sua ou para legitimar políticas pouco discutidas e que os prejudicam.

15 comentários:

Anónimo disse...

'Será usado'? Já há muito vem sendo usado, vidé só nos últimos tempos Síria e Venezuela. E mesmo quando parece que os espectadores/eleitores não seguem a cartilha eles lá continuam como se nada fosse a criar opinião pública para os seus amos.

nmlima disse...

Os telejornais dos canais portugueses sao muito longos. Demasiado longos. Suspeito que os custos que acarretam as "divisoes de informacao" dos varios canais sao previsiveis e estao sob controlo das estacoes, enquanto que produzir series, filmes, etc. e um negocio muito mais incerto.

Geringonço disse...

Eu praticamente não vejo TV generalista, e não dependo dela para informação e opiniões.
Não gosto do não jornalismo que se pratica nas TVs nem dos comentadores pagos.

João Ramos de Almeida disse...

Caro anónimo,

Tem toda a razão. Eu estava apenas a prever uma guerra bem mais grave, connosco envolvidos. E políticas mais duras ainda do que as que foram levadas a cabo a partir de 2011.

Filipe Martins disse...

Há aqui uma questão levantada que merece reflexão: que é que realmente ganhamos com a criação de canais privados? Isto é, que é que ganhamos além do lixo televisivo em barda!

Jose disse...

Fogos espetaculares é no que dá!
Um festival de fogo num mau ano com má gente no comando.

Anónimo disse...

Fogos espectaculares mesmo.

Agora a cena do "diabo" foi convertida num festival de fogo. Uma verdadeira delícia.

Ainda não foi herr jose capaz de engolir que a sua gente foi corrida democraticamente do desgoverno do país. Má e corrupta gente.

Mas a delícia atinge foros de comédia burlesca, quando se recorda o que herr jose dizia a 16 de Abril de 2016, aquando dum convite a festejar Abril

Dizia assim o sujeito:
"Façam a festa!
Por mim vou esperar pelo 25A de 2017.
Não festejo a cretinice em curso."

Passou-se Abril de 2017 e não chegou o diabo .

Ainda hoje não se sabe o que herr festejou mais a cretinice que o persegue desta forma tão espectacular.

Anónimo disse...

O dispositivo será usado?!!! Ele foi e é usado. Que ouvimos nós nas notícias sobre a Venezuela? O que ouvimos e lemos nós sobre a linda revolução colorida da Ucrânia e não ouvimos nem lemos hoje sobre o Donbass? O que ouvimos e lemos nós sobre a Líbia e o que deixámos de ouvir sobre o que hoje lá se passa? O que ouvimos e lemos nós sobre o "inferno de Aleppo" e o que nunca chegámos a ouvir e a ler sobre o massacre de Mossul? E as opíparas e "grandiosas" manifestações anti-Dilma que nos foram quotidianamente dadas a comer e a fome que agora passamos à míngua de manifestações anti-Temer? A comunicação social portuguesa é UMA VERGONHA de sabujice, ela não passa de uma flatulência mercenária que aluga os seus serviços a quem mais der. E quem tem para dar (para receber depois) são sempre os mesmos.

Anónimo disse...

De facto a comunicação social portuguesa é uma cloaca aberta aos excrementos pagos por quem mais der.

Se pararmos um pouco para pensar verificamos que a realidade é ainda pior do que a teoria.

Veículos alternativos de informação são uma prioridade. A sua difusão um objectivo

Jose disse...

A regra que se quer imposta à comunicação social é a de nada dizerem que perturbe o sossego da geringonça.

Explicações poucas, censuras nenhumas, tudo decorre natural e ordenadamente no conforto da pasmaceira geringonçosa: reformas nenhumas, tretas muitas.

Em 2016 sacam-se mais 14.000.000.000 de euros aos credores para acrescentar à dívida, o que só prova que a governança é um sucesso.
Que mais se pode exigir a um governo patriótico e de esquerda?

Rui disse...

Filipe Martins. Por acaso eu vejo a questão da forma exatamente ao contrário que é, o que ganhamos com canais de televisão públicos que são financiados com a taxa de televisão (130 milhoes de euros ao ano salvo erro)? Não seria de esperar que a RTP fizesse melhor e diferente do que os canais privados?
O que eu vejo é que efetivamente a diferença não é assim tão grande e certamente não justifica a fortuna que pagamos por ela.
Estou disposto a ser taxado para ter meios de comunicação exclusivamente publicos mas espero que eles façam muito melhor jornalismo do que os privados, o que na minha opinião não está a acontecer atualmente.

João Ramos de Almeida disse...

Caro Anónimo das 2:59,

Tem toda a razão. Deveria ter sido mais explícito no texto. Obviamente, estava a referir-me a um dispositivo que nos fará um dia empolgar-nos em participar directamente numa guerra. Ou aceitar medidas que nos matem. Mas obviamente qualquer guerra no mundo nos diz respeito e a guerra é, na verdade, total. Tal como o sistema é global.

Foi um erro meu. As minhas desculpas, pela imprecisão.

Anónimo disse...

Her Jose ensandeceu.
Vê na nossa CS um serviço feito à geringonça

Nem se despega da palavra que lhe atazana o juízo.

E quer uma imprensa ainda mais de extrema-direita

Anónimo disse...

Assim uma imprensa que reproduza a farsa da historieta dos credores emprestarem dinheiro pro bono.

Tal como pro bono herr Jose faz em relação aos credores. Como seu advogado colaborador, prestimoso e servil

Anónimo disse...

Uma imprensa que para lá da informação de trampa, nos venda também a ideia que este governo é um " governo patriótico e de esquerda "

A informação made in SNI. Tão ao gosto de.