O que sabemos por aquilo que aprendemos com revoluções tecnológicas passadas, por exemplo no campo da nanotecnologia, biotecnologia e internet, é que apenas quando o sector público cria directamente – não indirectamente – investimentos e define de forma ambiciosa áreas para apostar, é que diferentes sectores ficam entusiasmados acerca das possibilidades. Se aquilo que é feito é apenas reduzir os impostos sobre os ganhos de capital ou introduzir créditos fiscais, o que se faz é apenas contribuir para aumentar os lucros (…) Quando o sector público lidera, isso significa também assumir riscos elevados. Os banqueiros centrais falam das autoridades monetárias como credores de último recurso, eu vejo o Estado como um investidor de primeiro recurso. Mas se se é um investidor numa fase inicial, haverá sempre muitos projectos falhados e, por isso, é fundamental que aquilo que corre bem compense o que corre mal. Não podemos dizer “não interessa, percam aquilo que quiserem”, cria-se dinheiro através do banco central e aumenta-se os impostos. Portanto, o melhor é criar mecanismos de obtenção de retorno, entrando no capital das empresas, definindo condições de reinvestimento ou de preços, para garantir que o sector público é mesmo recompensado pela inovação que ajuda a criar. Isto é apenas utilizar princípios básicos de investimento, como partilhar riscos e prémios. Mas se não se considera o Estado como alguém que está a assumir um risco e apenas se vê o Estado como um corrector de falhas do mercado, então a questão nem se chega a colocar (...) Quando falo com Corbyn ou Elisabeth Warren nos EUA o que lhes digo é que aquilo que precisam de fazer para as pessoas ficarem mais entusiasmadas com os seus programas é não falar apenas de redistribuição, por muito importante que seja. Têm de virar o discurso para a ideia do Estado como um criador de riqueza. Ao fingir que é o sector privado que cria e que o Estado apenas redistribui, cria-se uma narrativa aborrecida para os cidadãos e incentiva-se uma visão egoísta dos problemas.
Excertos da entrevista que Sérgio Anibal fez no Público a Mariana Mazzucato, provavelmente a economista política crítica mais influente hoje em dia, uma das que mostra bem a perversidade intelectual e política de ver o Estado como um mero corrector de falhas de mercado. A sua visão institucionalista, bem mais realista, vê o Estado como criador de mercados. Infelizmente, o seu principal livro, O Estado Empreendedor, disponível aqui em inglês numa versão condensada de estudo da Demos, ainda não está traduzido entre nós. Obviamente, as suas mais relevantes ideias são para Estados soberanos.
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8 comentários:
O Estado enquanto criador de mercados não é mera ideologia, é um facto histórico, o Estado anda a criar mercados há milénios.
A "época dourada" americana foi marcada por progresso científico e tecnológico sem precedentes, e por muito que alguns não gostem de admitir, foi o Estado que alavancou este avanço não foi a fantasia do "mercado livre".
Lamentavelmente, o complexo industrial militar americano é também fruto do Estado keynesiano...
Quem olha para o século XX de forma objectiva certamente vê os resultados da utilização do Estado para fins perversos, mas quem se recusa a ver o papel do Estado no progresso humano ou é cego ou mal intencionado.
Contudo, os capitalistas continuam a ser de (muito) longe os maiores beneficiados do Estado, e cada vez mais, à plebe restam apenas as migalhas e a violência estatal... Vide a "austeridade" e os resgates da banca! Tudo forçado pelo Estado (ou quem o controla...)!
Um bom texto e um bom comentário de Geringonço
Excelente oportunidade!
A criação da Empresa Florestal de Pedrogão Grande e Arredores dará ao Estado a possibilidade de fazer prova não só da sua capacidade de iniciativa como do seu desempenho como gestor eficiente, gerando rendimentos para os proprietários das terras e inovando nas melhores práticas de ordenamento florestal.
O rigor dos seus inventários de espécies arbóreas, a precisão das suas contas em madeiras verdes e secas, a esmerada manutenção da floresta, o progresso social obtido no plano integrado de desenvolvimento de região do interior, colocará em evidência o acerto de deixar de parasitar/subsidisr a economia liberal e optar por participar no processo produtivo.
A seguir...
A seguir com atenção mesmo.
Porque a criação da empresa florestal de Pedrógão Grande só pode ter nascido da cabeça daquela tia que pedia aos Céus para resolver o problema dos incêndios.
Ministra de Passos Coelho e dirigente em chefe do PP.
Também com um dos seus braços direitos investido na função de protector do BES e dos paraísos fiscais.
Estamos a ver onde este tipo vai buscar estas idiotices
Mas o que já não é idiotice é a forma manhosa como este tipo tenta inocentar quem se amesendou à mesa governamental e foi responsável pelas políticas em vigor.
"Os capitalistas continuam a ser de (muito) longe os maiores beneficiados do Estado"
É olhar para quem nos tem governado e para o serviço de serventia que têm feito ao grande patronato.
Não é de todo inocente toda a conversa sobre as "melhores práticas de ordenamento florestal e o rigor dos seus inventários de espécies arbóreas" e toda a restante conversa para boi dormir.
Depois de se confrontar Cristas e Passos como amigos íntimos do eucalipto tinham que aparecer estas manobras ( piegas) deste sujeito para, por um lado tentar justificar a política em prol da celulose dos detentores do poder, por outro para tentar torpedear o que se debate.
"A seguir"
É estranho que se prossiga com um "a seguir"quando o terreno ardido foi abandonado pelo próprio sujeito em causa no post de Nuno Serra sobre o incêndio de Pedrógão Grande
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/07/pedrogao-e-pavia-nao-se-fizeram-num-dia.html
Abandonou o debate. Fugiu. Depois das plumas e da indignação hipócrita.
Agora volta ao registo tipo "plumas"?
E como o problema é sério e como o problema é grave, vamos contextualizar ( colocar dentro do contexto) o palavreado desculpabilizador do sujeito das 10 e 38
"Quem destruiu o aparelho do Estado para as Florestas portuguesas? E em nome de quê? E por ordem de quem? Estando tudo ou quase tudo cadastrado neste país, os homens, as casas, os carros, os contribuintes, porque nunca avançou o cadastro florestal? Quem fez avançar a ideia de que o problema dos incêndios florestais é da floresta abandonada? De terra sem dono? Dos pequenos proprietários que não cuidam das suas terras?"
"E aí temos a incúria organizada nesta que será das mais graves faltas de autoridade do Estado. Sempre por austeridade, um governo PS extinguiu o corpo dos guardas florestais; depois, o PSD-CDS, pela mão de Cristas, terminou com os serviços florestais e desmantelou as normas que obrigavam à autorização de novos eucaliptos, até baldios e zonas de regadio foram entusiasticamente prometidas às empresas da celulose, promovendo-se a economia do desastre – mas a ministra anunciava rezar piamente para que chovesse quando a floresta ardia"
Ora qual a posição do sujeito face aos bombeiros e ao papel do estado?
A 14/11/11 às 23:18 Jose manifestava-se particularmente agastado contra o facto das empresas terem que subsidiar os bombeiros, tentando maximizar a taxa de lucro das ditas:
"Assim como a empresa tem que subsidiar bombeiros e sindicatos", lastimava-se
A 6/4/13 às 20:30
"aguardo ansiosamente o dia em que os Estado tem salários em atraso, ou corte 30% nos salários, ou faça uns despedimentos colectivos.Essa espera é que me dá azia"
"Despeçam-se, mobilizem-se, reduzam-lhe os salários acabem-lhe com as mordomias, e já, que já lá vão três meses perdidos!"
Aqui para se ver bem o contexto e não termos pretextos para choradinhos de fuga:
http://arrastao.blogs.sapo.pt/2787633.html?thread=63414321
Jose fez ( e faz) parte dos mesmos que reivindicaram a "destruição das estruturas da administração central, porque diziam ser necessário «menos Estado», o que na sua filosofia de vida significa mais negócio".
Jose agora faz hipocritamente teatro.
Eis Jose nos melhores tempos da troika, mostrando ao que vinha e o que queria.
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