segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Não aprenderam nada com a História (II)

A cegueira ideológica que salta à vista no discurso da Chanceler Angela Merkel é arrepiante. Mostra-nos que, à semelhança dos economistas que a aconselham e infelizmente são a maioria na Alemanha, não tem consciência de que a política que está a impor à Zona Euro foi a mesma que criou as condições financeiras, económicas e sociais para a subida ao poder do Nazismo. [Ver aqui o que se passou no Reino Unido]. Nos dias de hoje, essas mesmas políticas – e essa teoria económica errada que hoje se ensina nos mestrados e doutoramentos em Economia – são responsáveis pelo desastre que está a atingir a Europa do Sul. O futuro da União Europeia como um todo está em risco, a Alemanha é a principal responsável por este caminho suicida e, uma vez mais, os social-democratas revelam a sua tibieza. Abaixo transcrevo a minha tradução de alguns parágrafos do livro indicado na figura (p. 177-8).
[Heinrich] Brüning tentou restaurar a autoridade do seu governo minoritário com uma consulta ao povo. Foi um dos mais desastrosos erros de cálculo da história da democracia. As eleições para o Reichstag de Setembro de 1930 deram um forte impulso ao extremismo, à esquerda e à direita. Nessa altura, o desemprego registado tinha ultrapassado três milhões. Quaisquer que sejam as explicações dos economistas, os desempregados consideravam a sua situação intolerável e tendiam cada vez mais a apoiar soluções fáceis mesmo que à custa do regime parlamentar. (…) Em Berlim, a polarização eleitoral reflectia-se nas lutas de rua entre milícias nazis e comunistas.
Brüning manteve-se como Chanceler, apoiado no Reichstag pelos sociais-democratas, mas a sua autoridade tinha sido enfraquecida e a opinião política e financeira externa estava cada vez mais alarmada. Em Dezembro de 1931 foram decididos cortes adicionais em todos os salários, ordenados, preços, rendas, tarifas e juros. Mas o que era necessário nesse momento era um estímulo e não a deflação. No entanto, Brüning e os seus conselheiros sentiam uma esmagadora obrigação de restaurar a destruída credibilidade da Alemanha. Evidentemente, ele também esperava usar a deflação como instrumento para conseguir pôr termo às reparações de guerra. O “Chanceler da fome” deu pouca atenção às consequências internas, sociais e políticas, da sua política do "quanto pior melhor". (…)
 
Os historiadores têm discutido sobre se havia alguma alternativa séria às políticas de Brüning. Ele próprio não tinha qualquer dúvida de que não havia nenhuma. Em Janeiro de 1932 um grupo de socialistas, Vladimir Woytinsky, Fritz Tarnow e Fritz Baade recomendaram um programa expansionista de obras públicas. Mas as suas ideias tiveram a oposição do antigo ministro das finanças, o social-democrata Rudolf Hilferding, e a proposta abortou.

3 comentários:

henriquedoria disse...

Em 33 Hitler chegou ao poder e iniciou a política expansionista que os social-democratas recusaram, com base na construção de um Estado militarizado.

PAULO BATEIRA disse...

Quem não lê (História) é como quem não vê...

Paulo Menezes

Anónimo disse...

A acção do Brüning foi em parte cegueira, em parte um esquema para sacudir mais uma porção da dívida alemã: era necessário sofrimento para fornecer os argumentos políticos para isso.

Parte dos governantes europeus já há muito adoptaram a mesma lógica: é necessário levar ao colapso algum país para que tenham a cobertura política (perante os seus eleitores) para mudar algo na UE. Disputa-se agora quais serão os infelizes sacrificados no altar da UE. Não há meio de a Grécia se afundar, mas é essa a solução que todos esperam...