quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sempre a mesma conversa...

Depois de ter visto o "Nestum de Alarvidades" de Isabel Jonet, volto a colocar aqui um texto que escrevi há um ano sobre escolhas e consumos. Onde está João Duque coloquem Isabel Jonet. As metáforas até variam, mas o dislate é o mesmo e as suas funções ideológicas também.

Leio num jornal que o “consumo das famílias sofre em Julho a maior queda em mais de 30 anos” e não posso deixar de pensar que famílias há muitas e que consumos e quedas também. Afinal de contas, sei que vivo num dos países mais desiguais da Europa, onde o consumo conspícuo de bens de luxo parece estar sempre de boa saúde, o mesmo se passando com a procura de serviços de segurança privada. Quanto maior é a desigualdade económica, maior é a relevância destes padrões tão imorais quanto disfuncionais.

Em gritante contraste, e seguindo um estudo de 2009 sobre “necessidades em Portugal”, cerca de 50% das famílias portuguesas inquiridas declarava não conseguir satisfazer todas as necessidades básicas aí definidas, como aquecer a casa, comer carne e peixe de dois em dois dias ou fazer uma semana de férias pagas uma vez por ano. Os efeitos recessivos da quebra do consumo privado gerada pelas políticas de austeridade serão sentidos sobretudo pelas famílias empobrecidas, por um consumo popular ameaçado. Os trabalhadores são consumidores e o contrário também é verdadeiro.

Sabemos que 40% das famílias tem dívidas aos bancos, em 80% para a compra de um bem essencial – a habitação. Pertencendo na sua maioria aos grupos relativamente mais desafogados, estas famílias, contrariamente ao discurso moralista dominante, pagam as suas dívidas a tempo e horas. Ou melhor, pagavam: devido ao desemprego, a insolvência é uma palavra que se torna familiar, graças, uma vez mais, a esta austeridade permanente.

Os economistas que andam por aí a dizer que o Estado deve comportar-se como uma família querem que se esqueça o óbvio: o Estado não pode comportar-se como se fosse uma família em crise e, por exemplo, cortar nos serviços públicos, no investimento e nos apoios sociais, embora tudo nos arranjos deste euro mal concebido conspire para fazer com que isto aconteça, sem sobrecarregar as famílias realmente existentes com desemprego e quebras do salário directo e indirecto.

São estes mesmo economistas neoliberais, como João Duque, que fazem equivaler a austeridade a uma escolha entre pipocas e Coca-Cola, como quando uma família vai ao cinema. Uma metáfora que se destina a ocultar a miséria de uma opção de política económica que expõe muitos indivíduos a escolhas trágicas – por exemplo, estudar ou ajudar no sustento da família. Nem todos os consumos e nem todas as escolhas são equivalentes moralmente. Entre o luxo e a necessidade, é sempre a política que molda o que vamos podendo ser e fazer com as nossas vidas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Por mim estou farto e enojado com estes arautos (tipo João Duque; Isabel Jonet, etc, etc).
Sempre que esta gentinha fala ou escreve sai m... e entra mosca, por isso, desprezo e mais desprezo é a receita.
Talvez nas próximas eleições os portugueses ganhem juizo e corram com esta malvada gente do Governo e dos lugares onde só têm feito mal.


jms disse...

"Esta crisis economica no acabará nunca". Saiba porquê aqui:

http://crashoil.blogspot.com.es/2010/06/digamos-alto-y-claro-esta-crisis.html

Jorge Martins disse...

Cada vez tenho mais raiva à "tia" -isabel Jonet. Não há maior exemplo de farisaísmo que o dela. O que ela quer sei eu: acabar com o Estado Social para ela e outras que tais aparecerem como as "boazinhas" que matam a fome aos "pobrezinhos". Por mim, nem mais uma migalha para o Banco Alimentar Contra a Fome. Há outras instituições que merecem mais as nossas dádivas.

Pedro Malaquias disse...

http://expresso.sapo.pt/isabel-jonet-as-palavras-e-os-atos=f765673