sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Evidências da peste e do desastre

«Tive primeiro sinal de que a peste da austeridade tinha tomado conta da mente de “Pessoas Muito Sérias” quando a OCDE, que é o centro da sabedoria convencional, avançou para o "todos em austeridade, já, já, já".
O relatório em questão (OCDE Economic Outlook de 2010), fez previsões económicas para o último trimestre de 2011. Para um projecto em que estou a trabalhar, comparei essas previsões com o que realmente aconteceu nos países assinalados (como mostra o gráfico): foram os países mais sujeitos à austeridade que alcançaram os piores resultados face ao esperado.
Isto está em linha com as conclusões do exercício feito pelo FMI, que convenceu as suas equipas de que os multiplicadores fiscais são não só positivos - a política contraccionista é mesmo contraccionista - como mais relevantes do que se pensava. Por isso, a OCDE enganou-se terrível, terrivelmente, e deu conselhos horríveis. E eu pergunto-me se eles aprenderam alguma coisa com a experiência.»

Paul Krugman, «Oh, we see disaster»

Não por acaso, de há uns tempos a esta parte, Vítor Gaspar deixou de ser tão peremptório quanto ao anúncio do «ponto de viragem» da economia, que já esteve agendado para 2012 e depois para 2013. Os sucessivos falhanços das metas, em toda a linha, não permitem que o ministro se sujeite consecutivamente ao vexame do fracasso. Das certezas temporais inabaláveis, Vítor Gaspar passou por isso, cada vez mais, a falar nos «riscos e incertezas» a que o seu imaculado plano de ajustamento está sujeito. A diferença de postura é, na prática, nenhuma: uma estratégia errada e contraproducente não deixa de o ser pelo facto de se relativizar o momento (ilusório) em que a mesma dará certo. Na maratona em que apostou, julgando-se já próximo da meta, Vítor Gaspar continua, cega e irresponsavelmente, a correr em sentido contrário.

1 comentário:

João Carlos Graça disse...

Caro Nuno
Sabe que mais? Valham-nos os Slade...
http://www.youtube.com/watch?v=0gPulu85q04