quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crise ou declínio?


Ouvimos dizer: “As coisas para melhorarem, devem piorar primeiro”. A austeridade irá acentuar a recessão e o desemprego (agora já ninguém tem duvidas). Mas depois, dizem-nos também, o remédio fará efeito: “Isto é uma crise, não é um naufrágio, vamos ao fundo, mas depois voltamos à tona”.

Qual é a lógica de quem assim pensa e assim pensando nos administra o elixir? A austeridade provoca desemprego. Certo. Mas o desemprego combinado com redução da protecção social obriga as pessoas a aceitarem salários mais baixos. Os salários mais baixos, por sua vez, atraem capital para os sectores exportadores e o investimento aumenta nesses sectores. Resultado: o desemprego desce e as contas externas equilibram-se. Certo?

Não. Errado. A mobilidade que conta não é só a dos capitais. O desemprego e a descida dos salários obrigarão um número crescente de portugueses a emigrar de novo para a Europa do Centro que ainda cresce e para os países emergentes que até falam português (assim como de imigrantes a regressar aos paises de origem). A força de trabalho disponível pode não aumentar e a pressão à descida dos salários pode não se fazer sentir tanto como o esperado. Nesse caso os capitais não afluem e não há retoma do investimento. Entretanto o país despovoa-se, reproduzindo à escala nacional o que vimos acontecer em muitas regiões de Portugal.

O cenário não é de crise, é de declínio. E isto é o que temos de evitar.

8 comentários:

Anónimo disse...

"As coisas para melhorarem, devem piorar primeiro"

A lógica do sofrimento para atingir a felicidade tem muito a ver com religião o que também diz muito sobre o quão enraizada esta lógica estará.

"Isto é uma crise, não é um naufrágio, vamos ao fundo, mas depois voltamos à tona"

Isto para muitos é mesmo um naufrágio a ideia de individual e do colectiva é misturada nessa retórica, enquanto houver uma economia de exclusão será muito difícil assumir que o bem do todo se reflecte no bem estar de todos os indivíduos alias temos um bom exemplo, o período "antes" da crise e o facto de haver mais dinheiro não impediu que a nossa sociedade fosse caracterizada como uma sociedade injusta e desigual(não me estou a esquecer das "transferências" para as franjas da sociedade)

É curioso ver um economista assumidamente(pelo menos da forma como o entendo) de esquerda a aconselhar o capital, avisando que certas politicas podem não ter os resultados expectáveis, ainda assim reconheço que pode ser uma forma de mudar algo, convencer quem tem poder que pode ganhar mais pensando também nos outros.
Isto tudo levanta uma questão será que a economia tem um fundo intrinsecamente justo?não sei,mas tem razão se calhar é importante averiguar...

João Carlos Graça disse...

Caro José Maria
Obrigado pela chamada de atenção.
A articulação com teorias demográficas é tradicionalmente um por pontos mais fracos da teoria económica (mas também um daqueles em que ela mais tende para o consumo conspícuo da sua própria arrogância...).
Um acrescento ao que escreves: a emigração corre bem o risco de ser sobretudo dos mais jovens; e em geral de grupos mais qualificados profissionalmente do que a média da população. O que tem evidentemente um feito de reforço sobre os nossos problemas de fraca produtividade e de défice da balança de pagamentos (mesmo verificando-se alguma descida dos salários).
Enterramo-nos mais, em suma...

Anónimo disse...

Claro que vai piorar,então não devemos esperar nada de espectacular para amanha disse a senhora Merkel!Afunda-se a europa do sul para refundar o reich!?
www.novadesordemmundial.blogspot.com

может как вариант disse...

Entretanto o país despovoa-se, reproduzindo à escala nacional o que vimos acontecer em muitas regiões de Portugal

e depois?

não se des pobo ou nos anos 60 e 70 em maior escala?

e o gráfico é falacioso a densidade em muitas regiões sempre foi baixa

10 palermas/km2 é ecológico

100 palermóides/hectare é insustentável

despovoar os 2,5 milhões da grande Lisboa seria bóptimo

infelizmente a maioria ou são funcionários ou trabalham na banca seguros e demais serviços

não são exportáveis

может как вариант disse...

Com tanta gente ai a emigrar

E esta gajada aqui parada

antónio m p disse...

Acabo de ler noutro sítio* uma frase que me fez reflectir: “Portugal não cresce, desde que entrou na zona Euro”. Concorda?

(*CyberCultura e democracia online)

Paulo Pereira disse...

Só com incentivos fiscais à criação de emprego consideráveis é que teremos hipóteses de crescimento.

Em alternativa ou complemento precisamos de criar empresas agricolas de capital misto a uma escala nacional, com a sua gestão concessionada a privados.

demografia disse...

bem , fui ali aos censos e braga , porto , lisboa e setúbal concentram mais de metade da população residente. fonix. o que eu queria ver era a distribuição etária da população , mas o ine ainda não tem issp disponível , para calcular os possíveis futuros emigrantes. é que tenho ideia que a maioria vai estar demasiado velhota para emigrar , logo , mais deserto do que já está ..
e , não tarda , também , empregos na área da geriatria vai haver a potes.