terça-feira, 5 de julho de 2011

Para não cairmos no abismo

A agência de 'rating' cortou em quatro níveis o 'rating' de Portugal para 'Ba2' devido ao risco de o País precisar de um segundo resgate. ... A Moody's explica esta revisão em baixa com dois factores. Por um lado, a casa de 'rating' argumenta que existe o risco crescente de Portugal precisar de um segundo pacote de empréstimos internacionais antes de conseguir regressar aos mercados com "taxas de juro sustentáveis" no segundo semestre de 2013.

A Moody's indica também que existe uma "possibilidade crescente de a participação dos investidores privados [nesse segundo 'bailout'] ser imposta como pré-condição" de uma nova ronda de empréstimos internacionais, tal como está a ser estudado em relação à Grécia. (Notícia do DE)

Os dirigentes europeus, incluindo o Banco Central Europeu, têm mais medo das agências de notação do que dos bancos. Estas dispõem de um enorme poder na zona euro que não dispõem em nenhum outro lugar. ... O Banco Central Europeu está a delegar as suas principais decisões políticas em agências de notação de risco (americanas), que têm um desempenho terrível e que continuam a não ser minimamente responsabilizadas.
(Paul De Grauwe no Expresso, 2 Julho 2011, p. 30)

De facto, a austeridade não compensa, bem pelo contrário. E como não podemos ficar eternamente dependentes de sucessivos pacotes de financiamento, sob condição de austeridade contraproducente, salta à vista que o primeiro passo para a saída da crise não é um pedido à UE e ao FMI para que tenham a bondade de nos deixar iniciar uma renegociação da dívida pública com os nossos credores.

O primeiro passo para não cairmos no abismo só pode vir de um governo que rompa com a política de austeridade e a ditadura dos mercados financeiros, suspenda o pagamento da dívida e faça uma auditoria para decidir o montante e as condições da dívida que o País pode pagar.

As esquerdas têm o dever de começar a preparar uma plataforma política alargada que proponha ao País um governo de ruptura com esta política económica suicida.

Com o agravamento da crise, o aparecimento dessa alternativa faria acelerar a perda de legitimidade da actual coligação e criaria condições favoráveis a uma fractura da coligação governamental e à convocação de novas eleições. Os portugueses não vão esperar quatro anos de austeridade e privatizações para, do fundo do abismo, dizerem o que pensam.

18 comentários:

RH disse...

Epá isto de viver no lixo é chato, a agência "Moody's corta rating de Portugal para "lixo", lixo caramba isto se fosse dito por um qualquer português "este país é um lixo. " era antipatriótico se fosse um qualquer estrangeiro era uma grande polémica mas como é uma agência de rating é um realismo preocupante, isto mostra como funciona a linguagem económica e como esta não é afinal nada complicada ou complexa "os porcos estão no lixo." é o inicio de um qualquer conto ou historia ? não são termos económicos isto só vem desmitificar aquela ideia de que a economia é difícil de compreender, não, os porcos estão no lixo, é fácil.

Agora confirma-se realmente todos aqueles especialistas e comentadores que disseram que Passos Coelho tinha feito um brilharete quando foi ter com os outros primeiros-ministros e até tomou a genial estratégia de cortar os subsídios de natal tudo para segundo os mesmos especialistas se diferenciar da Grécia afinal foi tudo genial mas as agências de rating não concordam "Está bem os vossos especialistas têm todos razão mas vocês são lixo na mesma."

E descemos no raking pois aumentou a probabilidade de pedir-mos uma segunda ajuda, de lembrar que á pouco mais de três meses "nem precisávamos" de pedir o primeiro, agora já se fala no segundo ( talvez tenha sido o vento de mudança que soprava com força demais e nós empurrou para baixo) a Grécia já pediu, nós passado um mês já estamos a falar nisso, um mês, neste momento a nossa imagem é a de um zé Povinho muito magro e cansado de jornal velho na mão e a esfregar o braço incessantemente e a dizer " Vá lá arranja-me mais eu juro que desta vez não gasto tudo, foi só uma recaída eu vou tentar deixar, eu juro, vá lá eu sei que tens mais já ajudas-te o grego."

http://senta-te-e-le.blogspot.com/

FAÇA O SEU PRÓPRIO FLUVIÁRIO SEM FAZER MUITA FORÇA disse...

ainda falta o C e o D

para não cairmos

só andamos de elevador?

não percebi a receita

Eduardo disse...

Olha!! Então como é que era aquela história do ataque ideológico? Expliquem-me por favor outra vez que eu não percebi bem. Obrigado.

Carlos Albuquerque disse...

"suspenda o pagamento da dívida e faça uma auditoria para decidir o montante e as condições da dívida que o País pode pagar."

Já agora estendam a auditoria para saber de onde virá o dinheiro para pagar alimentos e combustíveis.

E verifiquem se a qualidade de vida dos portugueses depois do default vai ser melhor ou pior do que com a austeridade.

Como dizia a canção: para melhor, está bem, está bem, para pior já basta assim.

Anónimo disse...

Senhor Carlos Albuquerque compreendo a sua(que é também a minha e a de muito gente) inquietação relativamente a uma situação de "default" agora permita-me dizer-lhe que a sensação que os seus comentários deixam é enquanto não me tocar a mim é mau mas é suportável. Acredito que também consigo poderemos encontrar soluções diferentes para o que se está a passar.Tem de convir que lamentar as fatalidades é muito pouco para o que esta situação exige.

Paulo Pereira disse...

A unica forma que temos para não cair no abismo é aumentar as exportações e diminuir as importações.
.
Para isso é preciso incentivos relevantes às empresas industriais e agricolas para que aumentem a sua produção e é preciso taxar as importações com um imposto extraordinário.

Carlos Albuquerque disse...

Caro anónimo

Fico com a sensação que conjecturarmos sobre a vida dos outros enquanto permanecemos anónimos é uma péssima maneira de chegar a algum lado.

Mas pode ficar a saber que toda a crise que vivemos me toca e vai tocar ainda mais, qualquer que seja o desenvolvimento futuro. E é precisamente por isso que defendo o uso da inteligência antes de embarcarmos em reacções emotivas ou puramente ideológicas. É que as coisas podem sempre piorar. E muito.

Em 2009 era evidente que seguíamos em direcção a um abismo. Toda a esquerda, mais ou menos revolucionária, só pensava em mais "incentivos à economia". Mesmo com défices de 10% no estado, a economia não melhorou e a dívida tirou-nos a independência. Agora a mesma esquerda surge com ideias ainda mais radicais. Apetece-me dizer: mais disto, não, obrigado!

Unknown disse...

A Moodys esqueceu-se do ponto mais justificativo da descida do rating que é o ponto "pescadinha-de-rabo-na-boca", que passo a explicar: ora se as agências descem o rating, os juros sobem e assim é mais complicado sair da crise.

João Carlos Graça disse...

Caro Jorge
Sim, tens razão no fundamental. Mas com alguns corolários importantes. Um deles é, claro, que temos de sair do euro - tal como alguns, como o João Ferreira do Amaral, dizem já alto e bom som, mas a generalidade das nossas mui púdicas esquerdas, BE incluído, não tem ainda a honestidade intelectual de reconhecer abertamente.
Para quê? Para relançar as exportações e travar as importações, tratando assim do que é o nosso problema de origem (défice externo, não défice orçamental, seu burros!).
Em paralelo, e dada esta outra "infecção secundária" ou "oportunista" que é o problema da dívida, precisamos evidentemente de controlos de capitais e, muito provavelmente, de nacionalizar o conjunto da banca. Em suma, precisamos dum novo 11 de Março.
Para quê? Entre outras coisas, para nos livrarmos da carraça usurária que agora está obviamente a dar cabo de nós todos de forma desapiedada e grotescamente mafiosa. Mas também para podermos ter políticas industriais activas de discriminação dos sectores exportadores. E para procedermos a uma política global redistributiva de sentido igualitário, claro.
Mas quanto a isso as nossas mui púdicas esquerdas também me parece não terem a honestidade intelectual e a lucidez necessárias.
Pelo que os problemas vão continuar a apodrecer sem serem tratados...
E daqui aum ano, depois de nos termos baixado ainda mais um pouco ("encore un effort, mes enfants"), vai ver-se-nos um pouco mais do cujo, etc., etc., etc.

Carlos Albuquerque disse...

"Em suma, precisamos dum novo 11 de Março."

Pois, é uma consequência lógica do resto.

Acho que até podemos pedir uma consultoria e Fidel ou a Chavez, líderes de países ricos e onde as pessoas vivem livres e felizes.

João Carlos Graça disse...

Ao Chávez, claro que sim, carai! Como no?
Ao Fidel, bom... depende. "Under the circumstances", talvez também a ele, bem vistas as coisas...
Mas, antes de mais, convém não nos esquecermos de ser nós próprios, de ouvirmos a nossa consciência e aprendermos com a nossa história. O conjunto de mudanças económicas operadas a 11 de Março de 1975, e em particular a nacionalização da banca, foi, convirá não o esquecer, consagrado pela constituição de Abril de 1976, cuja legitimidade democrática me parece inquestionável: multipartidarismo, sufrágio directo, secreto e universal (pela primeira vez entre nós), mais de 90 por cento de votantes, contra os actuais míseros 60 por cento, e aprovação por toda a gente desde a UDP até ao então PPD (só o CDS se colocou de fora).
Se isso não basta como teimosíssimo e incontornável facto político - e apesar de todas as "lendas negras" fabricadas ex post - sinceramente, também já não sei o que bastará...

Carlos Albuquerque disse...

Se a questão é a legitimidade democrática, o acordo da troika foi ratificado por 80% dos eleitores.

Quanto à eficácia económica, basta dizer que a primeira entrada do FMI em Portugal foi em 1977 e a segunda em 1983.

Ou seja, depois do novo 11 de Março, quanto tempo seria necessário até termos que revertê-lo ou termos que enfrentar níveis de miséria tais que só seria possível dominá-los com uma ditadura?

Anónimo disse...

"o acordo da troika foi ratificado por 80% dos eleitores"

por favor!!!! objectividade, precisa-se!!!

alguém ouviu na campanha eleitoral o sr. Passos Coelho ou sr. Paulo Portas a dizer: portugueses e portuguesas votem em mim que o meu programa é cortar 50% do subsidio de natal!

nem psd, ps ou cds foram a eleições dizendo claramente aos portugueses o seu programa. o cds nem anunciou uma única proposta. o psd dizia um dia uma coisa e outra coisa noutro dia e não andou a dizer especificamente as medidas da troika que iam fazer no governo.

80% votaram nesses partidos mas não votaram nas medidas da troika porque essas medidas não foram apresentadas aos portugueses (e não conta um documento disponibilizado na internet quase às escondidas).

Anónimo disse...

Senhor Carlos Albuquerque eu não conjecturei sobre si ou sobre a sua vida apenas disse que os seus comentários davam a sensação de...apenas isso. A minha opção Pelo anonimato é tão legitima como a sua de colocar o seu nome. Apenas fiz referência a um certo derrotismo(ou será conformismo?) relativamente a alguns dos seus comentários. Quando diz a mesma esquerda calculo que não se esteja a referir à que chama radical porque essa muita dificuldade tem tido para se fazer ouvir.

João Carlos Graça disse...

Caro Carlos Albuquerque
Quanto a questões de legitimidade democrática, assumo portanto que doravante deixa de fazer acusações ao 11 de Março. As consequências económicas deste foram legitimadas e mais do que legitimadas através de consagração constitucional, muito mais do que o acordo com a troika, por exemplo, alguma vez o será (porque aqui, de facto, o fundamental das cartas foi completamente ocultado aos jogadores comuns...). Mas deixemos isso.
Quanto a questões de eficácia e de eficiência económica, bom, o fundamental das consequências do 25 de Abril de 74, incluídas as do 11 de Março de 75, ler em particular a nacionalização da banca, foi sem qualquer dúvida positivo. As intervenções do FMI em 77 e 83 já tiveram outras coisas de mistura - na verdade, uma tentativa de parcial reversão do que tinha sido operado a 11 de Março de 75. Mas em todo o caso note que isso pôde ocorrer sem ditadura. (Ou acha que os governos de então eram de ditadura?)
Agora uma coisa lhe digo: se saímos do "buraco" em que estávamos em 77 e em 83 foi precisamente graças a desvalorização da moeda e ao estímulo subsequente às exportações. Hoje em dia, graças ao Euro... niet. Por aí não podemos ir.
Em matéria ainda de Euro: desde 1950, e com regimes políticos muito diversos entre si, Portugal teve 5 décadas consecutivas de convergência com a Europa rica e o resto da OCDE: de 1951 até 2000; depois disso, de 2001 a 2010, tivemos uma década de marcada divergência, de atraso relativo, de quase estagnação.
O que é que houve de principal novidade nesta última década, é capaz de me dizer, por favor?
Obrigado pelo seu incómodo.

Carlos Albuquerque disse...

"Quanto a questões de legitimidade democrática, assumo portanto que doravante deixa de fazer acusações ao 11 de Março."

Se quer falar de legitimidade, a constituinte foi eleita pouco mais de um mês depois do 11/3, com os militares no poder, o voto foi negado a centenas de milhares de portugueses residentes em território português, e todo o país era condicionado pelo Conselho da Revolução. Aliás basta pensar no que foi o verão de 75 para se perceber que a liberdade nessas alturas era algo de muito relativo.

E o que quero dizer é reforçado por este exemplo: se quiser hoje fazer um 11/3 vai precisar de ter outra vez um modelo do tipo Chavez ou Fidel.

"Quanto a questões de eficácia e de eficiência económica, bom, o fundamental das consequências do 25 de Abril de 74, incluídas as do 11 de Março de 75, ler em particular a nacionalização da banca, foi sem qualquer dúvida positivo."

Em menos de 10 anos precisámos de recorrer duas vezes ao FMI. Se isto é um resultado positivo numa economia que estava a crescer em 1973, não sei que lhe diga.

"Agora uma coisa lhe digo: se saímos do "buraco" em que estávamos em 77 e em 83 foi precisamente graças a desvalorização da moeda e ao estímulo subsequente às exportações."

Se o problema é estimular as exportações, a redução de salários e de custos tem o mesmo efeito. É que a desvalorização imediata de uma moeda própria teria um efeito muito mais devastador do que a austeridade actual.

"Em matéria ainda de Euro: desde 1950, e com regimes políticos muito diversos entre si, Portugal teve 5 décadas consecutivas de convergência com a Europa rica e o resto da OCDE: de 1951 até 2000; depois disso, de 2001 a 2010, tivemos uma década de marcada divergência, de atraso relativo, de quase estagnação.
O que é que houve de principal novidade nesta última década, é capaz de me dizer, por favor?"

Confunde correlação com causalidade.

Raciocínio análogo: dos anos 30 até 1974 Portugal teve orçamentos equilibrados e não precisou do FMI. Entre 1974 e 1984 teve que recorrer por duas vezes ao FMI.

"O que é que houve de principal novidade nesta última década, é capaz de me dizer, por favor?"

Anónimo disse...

" se saímos do "buraco" em que estávamos em 77 e em 83 foi precisamente graças a desvalorização da moeda e ao estímulo subsequente às exportações"

Será que desvalorizar a moeda não será um instrumento um tanto ou quanto "primitivo"(devido aos danos colaterais) para aumentar a competitividade?

good churrasco ó auto de café.... disse...

abyssus abyssum invocat

para mau entendedor