quarta-feira, 6 de julho de 2011

Poder

O governo tenta agora discutir com as agências de notação, argumentando que está a desenhar políticas consensuais a pensar nos melhores interesses dos chamados mercados. Esforço inglório porque não estamos no domínio de qualquer racionalidade comunicativa, mas sim no domínio do puro exercício de poder. Quem aceita e até naturaliza uma configuração institucional que potencia a afirmação do poder financeiro, quem se deixa submeter e isolar, perde sempre. Como sublinha José Reis, as agências de rating “são insaciáveis porque o que preconizam é pôr mais crise em cima da crise”. Fica a lição: “Espero que o Governo veja que não vale a pena apostar só na austeridade. Tomou uma medida tão violenta, como o imposto extraordinário, e a agência de rating marimbou-se nisso. Foi um balde de água fria para o Governo”.

7 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

Não só o governo não tomou nenhuma medida (só anunciou uma medida com impacto orçamental limitado), como a execução orçamental deixada para este ano pelo anterior governo está muito acima do acordado com a troika. E de resto ainda não há nada de controle de despesas.

Contudo, dado que o leilão de hoje nem parece ter corrido mal, não seria de ignorar a Moody's e continuar a trabalhar?

Jorge Bateira disse...

Caro Carlos Albuquerque,

"Continuar a trabalhar" quer dizer continuar a cortar na despesa pública e liberalizar o mercado de trabalho, por exemplo. Acontece que toda a redução da despesa pública no actual contexto agrava a recessão. Por isso, a necessária racionalização do gasto público deve ser adiada. A prioridade, hoje, é o crescimento da economia. E as ditas "reformas estruturais", mesmo que pertinentes, não actuam sobre a procura interna de bens produzidos no País. Os seus efeitos, no caso de serem benéficos, são indirectos e difusos. Têm outra escala temporal.
Se pertence à religião da "economia da oferta", então só lhe resta mesmo rezar ... para que as exportações nos tirem da recessão.

Cá por mim, e para além de achar que a dívida pública terá de levar um bom corte, também acho que precisamos da procura interna para crescer. E de um IVA bem alto sobre os bens de consumo maioritariamente importados.

Daqui por uns meses voltamos a falar.

Carlos Albuquerque disse...

"Continuar a trabalhar" quer dizer cortar na despesa pública e tentar compensar as situações de maior carência das pessoas.

"Acontece que toda a redução da despesa pública no actual contexto agrava a recessão."

Nem com défices altos nos últimos anos foi possível fazer a economia crescer qualquer coisa que fosse significativo. Em contrapartida a dívida acumulou-se e hoje não temos crédito. Perdemos a independência. Continuar neste caminho e esperar melhorias não me parece muito razoável.

"Por isso, a necessária racionalização do gasto público deve ser adiada."

Em termos reais, não estou a ver como. Podemos sempre imprimir a nossa própria moeda e obter grandes crescimentos nominais, claro.

"A prioridade, hoje, é o crescimento da economia. E as ditas "reformas estruturais", mesmo que pertinentes, não actuam sobre a procura interna de bens produzidos no País. Os seus efeitos, no caso de serem benéficos, são indirectos e difusos. Têm outra escala temporal."

As reformas estruturais não aumentam a procura interna mas os défices públicos também não dão sinal de recuperar a economia.

Já calculou qual devia ser o défice do estado para conseguir um crescimento da economia que se visse? É que andamos há muitos semestres com défices acima dos 7% e a economia não dá sinais. Que parte do défice é que é usada para comprar bens no estrangeiro? E quem é que financia esses défices?

"Cá por mim, e para além de achar que a dívida pública terá de levar um bom corte, também acho que precisamos da procura interna para crescer. E de um IVA bem alto sobre os bens de consumo maioritariamente importados."

Se medir o crescimento da economia em termos de um PIB nominal numa moeda só nossa, talvez pudesse conseguir isso com estas medidas.

Se medir a qualidade de vida real das pessoas, creio que com as medidas que propõe nos faria regredir muito para trás do que qualquer austeridade previsível nos próximos tempos.

"Daqui por uns meses voltamos a falar."

Quando quiser.

Pedro Veiga disse...

É malhar mais nos assalariados porque como disse o nosso eloquente Professor César das Neves ainda há muita gente que não sentiu a crise: o Algarve está cheio de portugueses de férias e as marinas estão repletas de iates de luxo!

Anónimo disse...

È impressão minha, a de quem percebe pouco ou nada do assunto, ou estamos todos a tentar agradar a umas quantas entidades que até agora apenas agravaram aquilo que estava mal, esta situação faz-me lembrar o corredor(Portugal) que está em cima da passadeira do ginásio e o treinador(FMI, Moodies, etc.) está constantemente a aumentar a velocidade do tapete.

Será problema da carneirada dos dos economistas, que apenas seguem as receitas preformatadas de ums poucos ideologos económicos que lhes ensinaram na escolinha e que são incapazer de pensar pela propria cabeça?

Será problema da de uma Europa politica sem rumo nem coesão parentes?

Será que também nos pusemos a geito?

Ou será tudo isto conjugado?

Paulo Pereira disse...

A malta toda quis entrar no EURO para poder fazer viagens e compras no estrangeiro.

Agora que chegou a conta admiram-se.

É preciso aumentar as exportações e diminuir as importações, ou como dizia alguém : é a produção pá !

Anónimo disse...

Desta vez penso que a agência de notação mais falada nos últimos dias tem toda a razão para baixar o rating "de portugal" os planos de austeridade têm acelerado o caminho dos países para a bancarrota, isto é uma evidência.