quinta-feira, 21 de julho de 2011

Revolucionários?

Só que há aqui uma enorme contradição em termos. Afinal, querem tirar o Estado da economia e da sociedade, querem menos Estado e melhor Estado (como muitos querem). Mas não basta. Querem fazer isso revolucionando a economia e a sociedade a partir do Estado. Será que os "revolucionários" portugueses inventaram o "liberalismo de Estado"? Ou foi apenas um lapso, a corrigir no futuro?

Ao contrário do que sugere Pedro Lains no Negócios de ontem, os “revolucionários” portugueses não inventaram o “liberalismo de Estado” porque não inventaram o neoliberalismo, ou seja, o projecto de reconfiguração do Estado para o usar como instrumento ao serviço do reforço de um certo poder empresarial e da expansão de uma certa forma de mercado, que têm por efeito transferir rendimentos e recursos para o topo da pirâmide social. Como sabemos da ampla literatura de economia política crítica sobre estas matérias, desde pelo menos Karl Polanyi até Jamie Peck, esta engenharia política não pressupõe menos Estado, pressupõe o reforço de um certo estilo de intervenção estatal, menos sujeito ao escrutínio democrático, mais repressivo e penalizador das classes subalternas e das suas formas de acção colectiva...

7 comentários:

João Carlos Graça disse...

Bem dito, caro João Rodrigues.
Mas há, ainda assim, um aspecto em que tem de se reconhecer razão à "outra parte". Os neoliberais propuseram-se muito conscientemente, e num certo sentido conseguiram de facto: a) reduzir o peso económico relativo do Estado medido pela ratio despesa pública / PIB; b) privatizar o fundamental do sector empresarial do Estado que no tempo das "constituições antifascistas" (França, Itália, Portugal...) foi habitualmente considerado sector "estratégico".
Claro que, para além disso, há uma série de outras coisas a considerar, como a estrutura da fiscalidade (mais progressiva ou mais regressiva) e também, evidentemente, da própria despesa pública (welfare state versus warfare state, p. ex.).
Mas, quanto às variáveis consideradas, eles têm realmente conseguido fazer o que prometeram, embora nos primeiros anos, com Thatcher e Reagan, de facto nem por isso. Mas nos últimos anos têm, sem qualquer dúvida: travaram a despesa pública (o "monstro" dos hospitais, escolas públicas, etc.); privatizaram os últimos anéis de empresas "estratégicas", se não ainda, por enquanto, os dedos.
"Eles", entenda-se, os neoliberais.
Que é o mesmo que dizer, entre nós: seja o PSD/PP, seja o PS.
Indiferentemente, note-se bem.

AMCD disse...

Muito bem!

Para esta gente o neoliberalismo não existe. Melhor, nem querem ouvir falar em tal.

É preciso manter a turba alheia, para que o esquema (a tal transferência de rendimentos e recursos da base para o topo da pirâmide social) funcione.

Entretanto o saque prossegue.

Anónimo disse...

Pertinente este seu post,há que desmistificar a ideia que os liberais não querem estado, eles nunca subestimaram um instrumento de poder e de repressão tão eficaz.

Anónimo disse...

os "neos" ou são "tradicionalistas ou apenas revolucionaristas de bota-abaixo...inimigos do verdadeiro revolucionário...traem a história e a condenam"

Anónimo disse...

menos sujeito ao escrutínio democrático....ainda menos?

ao estilo soviético

ou ao estilo desta res pública desde 1974

é ter uma visão muito escura das coisas

vai mudar muita coisa?

nem por isso...

Anónimo disse...

as classes verdadeiramente subalternas sempre foram afectadas

o neoliberalismo vai afectar a classe média e média alta

se se considerarem estas as classes subalternas

então a resposta é sim

Anónimo disse...

O longo artigo de Jamie Peck seguindo o link não está acessível. Existe um erro no link do post para que este mesmo remete.