segunda-feira, 4 de julho de 2011

O austeritarismo não passará!

Um aspecto em aberto é o de saber se o liberalismo anti-igualitário e conservador deste Governo será ou não democrático. Parece-me significativo que Passos Coelho tenha nomeado como seu assessor político alguém que considero ser o nosso mais talentoso crítico da democracia: o meu amigo e ex-aluno Miguel Morgado. Uma das ideias fortes do Miguel é a de que "todos os Governos funcionantes são autoritários" e que, em democracia, não é possível a existência de autoridade. Isso leva-me a pensar que a grande tentação do actual Governo, no seu afã de ser "funcionante", consistirá em invocar uma espécie de estado de emergência - a lembrar Carl Schmitt - devido à ameaça de bancarrota, impondo autoritariamente à sociedade portuguesa uma liberalização radical da economia e das funções sociais do Estado, muito para além do memorando de entendimento e contra o espírito da Constituição. Para isso não será necessário um golpe de Estado no sentido clássico. A invocação da absoluta excepcionalidade do momento será suficiente, desde que os restantes órgãos de soberania, em especial o Presidente, deixem passar a procissão. (João Cardoso Rosas, DE)

4 comentários:

João Carlos Graça disse...

Olá Jorge
Uma das consequências possíveis da deslocação dos PS's para o "centro" e para o (neo)liberalismo mais ou menos implícito (estou a lembrar-me, por exemplo, de certo ministro "socialista" a garantir que a educação não devia ser tratada como um "bem público" mas apenas como "bem semi-público", mas isso ainda é quando de todo se pretende "discutir" e "argumentar", o que nem sequer é sempre...) é precisamente essa de o centro-direita tradicional, se quer ter algum "segmento de mercado" a que chegar, ter de ser através duma "diferenciação de produto" ainda mais extra-ultra-meta-liberal e coisa e tal...
Em suma: para evitar o resvalar para a direita do próprio eixo e do conjunto do debate é necessário recomeçar à esquerda, de forma mais intransigente que nunca, "escavando" mais fundo, questionando o que se assume como dados implícitos: para quê estar na UE, por exemplo? e na NATO?, e será que devemos limitar-nos à reivindicação do "estado social" ou, face mesmo ao descaramento militante dos últimos anos, voltar a reclamar nacionalizações em massa de toda a actividade bancária, etc.
A direita gosta de invocar Carl Schmitt e o estado excepção? Sugestão: porque é que a esquerda faz questão de continuar a ser sucker e se inibe de ser ela própria a reivindicar isso mesmo na forma, mas dando-lhe um conteúdo diametralmente oposto? Que mil "Carl Schmitts de esquerda" floresçam, c'os diabos! Sempre dava jeito um bocadinho mais de "decisionismo" - e de menos parvoíce - por tais bandas...
Aqui entre nós: estou cada vez mais intimamente convencido que sem isso não vamos lá de forma nenhuma... O pessoal desempregado aceita trabalhar mais barato, faz concorrência a quem ainda tem emprego, etc. Isso é uma metáfora para tudo o resto. E assim continuamos todos a cair cada mais para a direita, e para a miséria moral, sem fim à vista...

Carlos Albuquerque disse...

"impondo autoritariamente à sociedade portuguesa uma liberalização radical da economia e das funções sociais do Estado"

Mas o que é que isto tem a ver com este governo?

Tomás Guevara disse...

João Carlos Graça...perfeitamente de acordo:"para quê estar na UE, por exemplo? e na NATO?, e será que devemos limitar-nos à reivindicação do "estado social" ou, face mesmo ao descaramento militante dos últimos anos, voltar a reclamar nacionalizações em massa de toda a actividade bancária"
A esquerda tem que se assumir como um pólo de convicções e um modelo alternativo...de caras,às claras e com todo o vigor.

Anónimo disse...

Marx...á lupa da atualidade

«Quanto maior a riqueza social... tanto maior a população excedentária ou exército industrial de reserva. Quanto maior porém este exército de reserva em relação ao exército operário activo...tanto mais massiva as camadas operárias cuja miséria está na proporção inversa do seu tormento de trabalho. Quanto maior, por fim,... o exército industrial de reserva, tanto maior o pauperismo oficial. É esta a lei absoluta, universal, da acumulação capitalista.»