quarta-feira, 11 de setembro de 2024

E como explicar isto?

No seu espaço de comentário semanal, Luís Marques Mendes apresentou um gráfico, com dados do Ministério da Educação, segundo o qual 223 mil alunos vão iniciar o próximo ano letivo sem aulas a uma disciplina. Um valor que reflete, alegadamente, uma redução de 31% face ao ano letivo anterior, quando eram cerca de 324 mil - de acordo com a atual tutela - os alunos que se encontravam nessa situação.

Sucede, porém, que à data (setembro de 2023), o governo do PS então em funções estimou que o número de alunos a iniciar o ano letivo sem professor a pelo menos uma disciplina rondaria os 80 mil. Ou seja, um valor substancialmente abaixo do agora estimado pelo atual governo, e que foi inscrito, de resto, no próprio «Plano +Aulas +Sucesso».

Sucede ainda, por outro lado, que os 324 mil alunos (em setembro de 2023), diferem também, e de forma igualmente muito significativa, de outras estimativas vindas a público. É o caso da insuspeita FENPROF, que estimou à data um valor de 92 mil alunos; do movimento Missão Escola Pública (120 mil alunos), ou do Expresso, que na edição da semana passada apontou para cerca de 137 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina em 2023, revelador de um agravamento da situação, em 30%, no presente ano letivo.


Estamos pois, nestes casos, perante valores relativamente próximos (a oscilar entre 80 mil e 137 mil) e que contrastam de forma abissal com os 324 mil alunos que, segundo o atual governo, não tinham aulas a pelo menos uma disciplina no início do ano letivo anterior. Tal como estamos, também, perante estimativas de evolução de sentido contrário, em que apenas o governo prevê que o número de alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina desça (para 223 mil) no ano letivo que agora se inicia.

São, de facto, diferenças demasiado exorbitantes para que possam ser explicadas pela volatilidade dos dados, própria dos dias que antecedem o início de cada ano letivo. Ou seja, não sendo explicitados os critérios em que assentam os valores divulgados pela tutela, é legítimo pensar que o governo apenas pretendeu, num exercício de contabilidade criativa, inflacionar o número de alunos sem aulas em 2023, para agora poder dizer, recorrendo a esses números, que o seu plano funcionou.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando impuserem a paridade no ensino este vai melhorar e muito. Pelo menos no absentismo e nas reuniões entre "colegas".