É possível um jovem universitário, chegado à capital, apaixonar-se por uma norte-americana muito mais velha? Era, realmente. E quando praticamente não havia norte-americanas em Lisboa.
Havia, isso sim, pequenas salas de cinema espalhadas pela capital, como o Cine 222, ao Saldanha. É muito triste ver uma sala de cinema encerrada. Foi aí que vi Gena Rowlands pela primeira vez, ali nos idos de 1995/1996, mais de duas décadas depois de ter sido magnificamente filmada pelo seu realizador, John Cassavetes.
Em 2024, frequento a sobrevivente sala a cheirar a mofo do Avenida, em Coimbra, onde há caminhos para a paixão do/no cinema. Quanto pior é a sala, melhor é o filme, adaptação da hipótese de Paul Krugman sobre salas de conferências. Divago, deixai-me divagar.
Rowlands será sempre uma “mulher sob influência” e que muito me, nos, influenciou. Há um antes e um depois em todas as grandes e impossíveis paixões. Não esquecemos o belo momento, o tal “raio de luz indireta”. Morreu-nos esta semana, mas ela já era imortal há muito. Como tantas vezes acontece, João Quadros vai à essência:
“Acho que poucas actrizes me perturbaram tanto psicologicamente como a Gena Rowlands. Talvez fossem aqueles papéis em que a loucura da personagem nos ultrapassa. Ficamos suspensos na esperança que recupere. Eu tinha vontade de ligar e dizer – não tomes nada, deixa a porta encostada, vou já.”
Pedro Rei, por quem soube da triste notícia, informou-nos que o magnífico serviço público que dá pelo nome de RTP-Play tem dois filmes em que ela ocupa o ecrã todo. Ela vive aí e em tantos lados, para todo o sempre. Até sempre, Gena Rowlands.
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