segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Um ano, um dia

Ontem recebemos a seguinte mensagem: “Vacinação começa amanhã. Vacina facultativa mas recomendada e gratuita. Aguarde contacto do SNS”. Hoje tivemos a felicidade de ver António Sarmento a ser vacinado no Serviço Nacional de Saúde pela enfermeira Isabel Ribeiro. O primeiro de muitos. 

A decência de uma comunidade avalia-se pela justiça na distribuição dos bens, pelo reconhecimento de que há bens que têm de ser distribuídos por critérios não-mercantis, da necessidade ao merecimento. Estes bens requerem um certo tipo de instituição, dependente de certas virtudes, de uma ética do cuidado. Não há nada que se lhe compare. 

Pelos seus actos e pelas suas palavras, simples e poderosas, porque verdadeiras, pelos seus mais de quarenta anos de serviço, António Sarmento encarnou e visibilizou o que mais importa na vida colectiva: confiança, trabalho, conhecimento, experiência, dever cívico, ajuda, necessidade, merecimento, numa palavra, talvez, felicidade. Disse que “os cidadãos merecem a melhor informação” e por isso achou que tinha o dever de falar, de se expor, declarando-se um pouco nervoso com isso, mas não com a vacina. 

Obrigado.

Texto escrito neste blogue no dia 27 de Dezembro de 2020.

Ontem, 26 de Dezembro de 2021, tive o prazer de ver de novo Sarmento no jornal da tarde da RTP 1, recordando esse momento feliz, avaliando os dias que estão à nossa frente e que podem ser de transformação da pandemia em endemia. Fê-lo com a simplicidade da melhor informação científica disponível, verbalizando uma confiança no povo português tão salutar quanto infelizmente rara entre as elites; uma confiança no encontro da curva do “cuidado espontâneo” com a curva do cuidado planificado por quem sabe, aspectos subjacentes a toda uma intervenção geradora de esperança fundada. Não há melhor do que este encontro, que não é mediado pelos preços, em tantas áreas da vida, lembrem-se. Uma lição.

2 comentários:

Anónimo disse...

E,acima de tudo, António Sarmento fez uma escolha livre de se dedicar ao SNS e ao que mais importa na vida colectiva. A sua atuação não resultou de uma imposição consequência de um planeamento central feita por meia dúzia de iluminados em nome de um "bem comum". A escolha e a atuação foi dele. Uma lição.

Anónimo disse...

E o SNS lá estava, está e estará. Obra colectiva: de todos e para todos. Com custos mas sem preço(s).