sexta-feira, 25 de junho de 2021

Ainda sobre as «políticas do passado que não funcionaram»

Esta semana, na apresentação da BRP, Cláudia Azevedo sublinhou «a "urgência de rutura" com o atual modelo de ensino nas escolas» e nos cursos profissionais e técnicos, lembrando «que Portugal ocupa a última posição na Europa no que respeita ao número de pessoas com o ensino secundário completo». «Temos de mudar isto e não é com políticas do passado», acrescentou a CEO da SONAE, para quem «as políticas do passado não funcionaram».

Já procurámos chamar aqui à atenção para o progresso notável que o país fez, em menos de duas décadas, na melhoria das qualificações dos portugueses. De facto, se em 2002 apenas cerca de 21% da população com idades entre os 25 e os 64 anos tinha completado o ensino secundário, esse valor passa a rondar os 55% em 2020. Ou seja, a população com ensino secundário mais que duplica, em termos relativos, no período considerado.

Se este avanço torna muito difícil que se diga que «as políticas do passado não funcionaram», essa dificuldade é ainda maior quando se constata que entre 2002 e 2019, à escala da UE28, apenas Malta (que passa de 18% para 56% de população com o ensino secundário) consegue um resultado melhor que o de Portugal. Para «políticas do passado que não funcionaram» convenhamos que não é mesmo nada mau, devendo talvez pensar-se duas vezes antes de falar em «rutura urgente» com as políticas de recuperação do défice de qualificações que têm vindo a ser seguidas.


Assinale-se ainda que, como é natural, são os países com maior défice de escolarização que dispõem de mais margem para progredir (Malta e Portugal, mas também Espanha e Itália, que partem igualmente de patamares menos favoráveis). Mas não se pense que esta questão se coloca relativamente aos países de Leste, que nos habituámos a equiparar - em termos de integração europeia - aos países do sul europeu. Ao contrário do que se possa supor, a maioria destes países já se posicionava, em 2002, acima da média europeia. O que nos diz muito sobre a diferença que faz ter sistemas públicos de educação robustos (e não tardios, como sucede no caso português), de pendor gratuito e universal, para a elevação dos níveis de escolarização.

1 comentário:

Jose disse...

O 'passado' tem um limite temporal indefinido.
«o atual modelo de ensino nas escolas» e nos cursos profissionais e técnicos»
'Atual' é hoje com o seu passado fundacional
‘Escolas’ há várias e em diversos níveis
'Cursos profissionais e técnicos' é outro vasto universo.

Conclusão, tudo se conclui pela necessidade de ‘reformas do sistema’, a mais grave ofensa que pode fazer-se ao situacionismo!