Em 1972, um grupo de grandes empresas norte-americanas criou a Business Roundtable, um grupo de pressão capitalista, parte de uma reacção política anti-sindical mais vasta, destinada a restaurar as prerrogativas regulatórias do capital, ameaçadas pela militância laboral num contexto de compressão dos lucros, favorecendo igualmente a desregulamentação, a abertura de mercados e a redução dos impostos. O neoliberalismo não se reduz a uma organizada reacção de classe, mas não pode ser compreendido sem esta.
Meio século mais tarde, o contexto também por cá é outro, mas um grupo de grandes empresas portuguesas imita este modelo norte-americano, que de resto tem traduções europeias há muito, dando-lhe um nome muito português: Business Roundtable Portugal. Mesa redonda dos negócios em Portugal soaria mal, dando a ideia correcta: trata-se agora de levar ainda mais longe a transmutação de poder económico em poder político, de aumentar ainda mais a influência do grande capital à mesa do orçamento e da definição das regras, de resto, e para seu grande sossego, cada vez mais determinadas lá fora.
Não por acaso, o seu Presidente é Vasco de Mello, um dos principais capitalistas da doença em Portugal, um sector que depende de “um Estado facilitador”, a expressão programática é sua. Se depender desta gente, Portugal irá para um sistema de saúde à americana, injusto e ineficiente, mas que dá muito dinheiro a ganhar. E a saúde é só um exemplo, embora um exemplo que vai pesar cada vez mais no PIB.
“Desenharemos propostas a pensar em Portugal e não nas empresas dos associados”, afiança o homem- cadeira (chairman) da CUF. Em Portugal e na saúde dos portugueses, claro.
1 comentário:
Mas qual é a novidade? Os sindicatos e a Esquerda procuram fazer pressão sobre o Governo, a Direita dos interesses também. Chama-se pluralismo...
Aliás, é de longe preferível que sejam os próprios empresários a dizer ao que vêm (mas deixem lá a presunção de se encontrarem para além da política, tudo é política aliás) que coisas do estilo do Compromisso Portugal e do mais recente MEL. Eles devem ter observado a galhofa que se gerou e decidiram tomar as rédeas do próprio processo.
Eu, se estivesse no seu lugar, longe de mostrar o azedume habitual, consideraria isto uma boa notícia. Os empresários expuseram-se, basta desmontar-lhes as propostas uma a uma...
Enviar um comentário