Ontem foi Dia Mundial da Produtividade. Para assinalar a data, a Pordata dividiu o valor do PIB pelo total de horas trabalhadas no nosso país concluindo que «em Portugal cada hora de trabalho cria, em média, uma riqueza de 24€». E acrescentou, para contextualizar, que «no Luxemburgo e na Irlanda é mais de 90€». Num segundo post, também no facebook, a base de dados da Fundação Pingo Doce voltou a esses cálculos e concluiu que «a produtividade [em Portugal] está mais longe da média europeia que em 1995». Num terceiro post (tudo leva a crer que passaram o domingo nisto), assinalou que «Portugal é o 22º país da UE com menor produtividade do trabalho por hora (em paridade de poder de compra)».
É verdade que desta vez a Pordata já não responsabilizou o «desempenho dos trabalhadores» pela baixa produtividade, como fez há pouco mais de um mês, para assinalar o 1º de Maio. A ideia, contudo, está lá, intacta: por iliteracia conceptual ou enviesamento ideológico, parece que na Pordata não se sabe (ou se finge não saber), que a produtividade tem muito pouco que ver com o volume de horas trabalhadas e, portanto, dessa forma, com o «fator trabalho» (como dizia o outro).
Dado que a Pordata insiste, nós também. Relembrando que «os países da UE em que se trabalha menos horas por semana são os que têm níveis de produtividade mais elevados» (como assinalou aqui o Vicente Ferreira), e que - para citar o Ricardo Paes Mamede (ver aqui e aqui) - os baixos níveis de produtividade em Portugal se explicam por fatores bem mais relevantes que as horas trabalhadas, incluindo «a qualidade dos equipamentos e das máquinas utilizadas na produção, as fracas competências dos gestores, os baixos salários, os níveis de educação, o tipo de produtos em que nos especializamos, a falta de investimento em I&D», entre outros. Porque «a produtividade é um conceito que remete para a relação entre factores produtivos e valor acrescentado pela produção».
Nada impede que se divida o valor do PIB pelo número de horas trabalhadas. Só que a isso não se chama produtividade, como quer fazer crer a Pordata. Porque eu também posso relacionar o volume de precipitação pela superfície de diferentes países. Mas isso não me habilita a dizer quais são os mais e menos montanhosos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Claro como água, até para os leigos como eu. Já tinha dado pelo "lapso" no primeiro "post". Obrigado pelo esclarecimento, que vou partilhar, tal como fiz com o "post" da Pordata chamando a atenção para eventuais equívocos.
Mas a PORDATA dividiu o número de horas trabalhadas pelo valor do PIB, ou fez o contrário (dividir o PIB pelo número de horas trabalhadas)? É que o PIB a dividir pelo número de horas trabalhadas é exatamente a definição da "produtuvidade aparente do trabalho" (ok, não é exatamente a mesma coisa que "produtividade" sem mais, mas anda perto).
Já agora, se alguma coisa chamar "produtividade" ao PIB a dividir pelas horas trabalhadas até reforça a ideia que a produtividade pode ser menor onde se trabalha mais horas.
Já agora, como é calculado o indice de produtividade referido no post do Vicente Ferreira?
Caro Miguel Madeira, agradeço o reparo: trata-se de facto da divisão do valor do PIB pelo número de horas trabalhadas, claro. Está rectificado no post, obrigado.
Durante anos o Carlos Arménio andou a explicar que produtividade do trabalho tinha a ver com o nível de automatização dos equipamentos de produção.
Porém é necessário acrescentar o seguinte; os equipamentos automáticos, aqueles que suprimem postos de trabalho, supressão essa que faz aumentar o rácio Cash-flow / massa-salarial-paga (a produtividade do trabalho), esses equipamentos são intrinsecamente concentrados de mão-de-obra estrangeira.
Normalmente são concebidos e produzidos em países diferentes daqueles em que estão instalados. Quando não consideramos a massa salarial equivalente desses equipamentos estamos a subvalorizar o denominador do rácio e, portanto, a sobrevalorizar a produtividade que queremos calcular.
E como é medida a produtividade pelos organismos internacionais? Pode esclarecer por favor? Por exemplo pela UE, OCDE, etc?
Os patrões em Portugal (e as equipas de recursos humanos) são do mais incompetente que há. Se tivessem que procurar um emprego como o resto do povo foi/é obrigado a fazer, não o arranjavam em lado nenhum.
Enviar um comentário