terça-feira, 14 de abril de 2015

A pergunta que temos de fazer a quem quer ser governo

De acordo com o FMI, a debilidade do mercado de trabalho português em 2014 atingia 20,5% da população activa (adicionando aos 13,9% das estatísticas oficiais do desemprego as pessoas que desistiram de procurar emprego – deixando por isso de contar para a estatísticas – e as situações de subemprego). Ao todo estamos a falar de um milhão e duzentas mil pessoas que não conseguem encontrar emprego em condições, às quais poderíamos acrescentar mais de 140 mil que se encontram temporariamente ocupados em programas de emprego do IEFP (já para não falar dos mais de 250 mil activos emigrantes).

Ainda de acordo com o FMI, uma taxa média de crescimento do PIB português de 1,5% entre 2015 e 2019 não permitiria que a taxa de desemprego alargada descesse abaixo dos 18%. Note-se que 1,5% é, precisamente, a previsão do FMI para o crescimento económico em Portugal nos próximos anos. Por outras palavras, a menos que o crescimento da economia portuguesa acelere a breve trecho, mais de um milhão de pessoas continuará impossibilitada de encontrar um emprego em condições até ao fim da década.

Um nível de desemprego (ou subemprego, ou inactividade involuntária, ou ocupação temporária) desta ordem não constitui apenas um drama pessoal e familiar para quem o vive na pele: constitui um problema sério para a economia e para as finanças públicas, na medida que se traduz em menos rendimentos, menos consumo, menos receitas de impostos (sobre os rendimentos e sobre o consumo) e mais despesa (em particular com subsídios de desemprego). E ainda mais: a manutenção de um desemprego tão elevado durante mais de uma década significa uma perda incalculável de recursos e competências (decorrente quer de situações de desemprego de longa duração, quer da emigração em massa), com implicações duradoras no potencial desenvolvimento económico.

A aceleração do ritmo de crescimento económico constitui, assim, a prioridade das prioridades da política económica em Portugal nos próximos anos. Esta não é, porém, a orientação que emana das regras e das opções das instituições europeias na actualidade, as quais continuam a colocar à frente de tudo o resto “o cumprimento dos objectivos orçamentais de médio prazo” (leia-se Tratado Orçamental) e “a correcção dos desequilíbrios externos” (leia-se desvalorização de salários, como tentativa desesperada de substituir os ajustamentos cambiais ou as transferências orçamentais, que estão hoje vedadas no seio da zona euro). Estas podem ser prioridades úteis para muita coisa, para criar emprego não são, seguramente.

Logo, a quem quer governar Portugal devemos perguntar: e a sua prioridade, qual é?

9 comentários:

Anónimo disse...

"O que é importante é que ao nível europeu vamos construindo as alianças necessárias, as parcerias necessárias para que possamos ter um programa que seja credível, que seja exequível", e que tem como "objetivo fundamental dar um novo impulso para a convergência", pois é necessário o país "retomar esse caminho" de crescimento sólido e aproximação aos níveis de desenvolvimento da Europa. A resposta de Antonio Costa. Como sempre nenhuma.

Um Jeito Manso disse...

Talvez se possa perguntar se se pretende reduzir os custos de trabalho ao ponto a que se chegou por exemplo no Japão:

http://umjeitomanso.blogspot.pt/2015/04/alo-alo-passos-coelho-ainda-e-mesmo.html

Anónimo disse...

"De acordo com o FMI, a debilidade do mercado de trabalho português em 2014 atingia 20,5% da população activa ..."
Por momentos temi que voltasse a falar em 20,5% de desemprego. Obrigado pela precisão.

António Geraldo Dias disse...

A "lei do condicionamento orçamental" vai continuar a produzir desemprego, emigração e desigualdade com um efeito acelerador negativo para a produção/investimento de sectores/regiões inteiras que o movimento de "correcção dos desequilíbrios externos" tende a agravar quando a desvalorização dos salários contribui para a diminuição da procura agregada em áreas já de si deprimidas- já não é uma questão de quantidade ou ritmo de crescimento mas um problema de desenvolvimento que está a atirar a Europa para a crise social particularmente das periferias.

Anónimo disse...

Os 20,5 % e a precisão necessária.
Precisão precisa, útil para todos, mas sobretudo para quem anda à procura de derivativos.
A realidade é demasiado sombria para o governo.E estamos em ano de eleições.Percebe-se o afã de alguns para esconderem o lixo para debaixo do tapete
Porque se a realidade é sombria para a propaganda governamental, ainda é muito mais sombria para quem está no desemprego ou quem tem trabalho e vive na miséria.
O neoliberalismo é isto

Anónimo disse...

Não está a negar que a estabilidade das finanças públicas promove o investimento privado, pois não?

Jose disse...

«desvalorização de salários, como tentativa desesperada de substituir os ajustamentos cambiais ou as transferências orçamentais,»

Para não haver tais desesperos talvez sair do euro e esquecer as ajudas comunitárias!

O jogo de palavras como a mais moderna tendeência da doutrina económica indígena.

Anónimo disse...

O ridículo, o insuportavelmente ridículo, é que quem fala em jogos de palavras seja precisamente quem utiliza tal jogo de forma habitual, num exercício linguístico legítimo é certo, mas cansativo,redutor, artificial e desviante.

Sejamos objetivos:

A frase "«desvalorização de salários, como tentativa desesperada de substituir os ajustamentos cambiais ou as transferências orçamentais" merece de alguém um comentário em que este faz uma sua leitura pessoal para a evicção de tais "desesperos".

A saída do euro é de facto uma das questões em cima da mesa e tal não é escamoteado pelo autor do post que, duma forma que desagradará ao tal que fala em "jogo de palavras" , inquire frontalmente (mas com evidente elegância) sobre a prioridade a seguir.

Mas já a afirmação sobre o "esquecer as ajudas comunitárias" é a prova provada do tal jogo de palavras empreendido por certa malta, evidenciador não da "mais moderna tendência da doutrina económica indígena" (tretas), mas sim dum replicar manhoso das inevitabilidades submissas e dos seus manás inerentes.

Em jeito de propaganda também manhosa é certo.
Mas que, pelo primarismo e pelo arranjo floral obrigam a esta resposta

(A desvalorização dos salários sempre foi um dos objectivos de tal gente. E esta denúncia fá-los logo mexer. O António Costa também se mexe é certo, mas como diz um respeitável anónimo, sem dar resposta nenhuma, ou seja utilizando o seu outro - e habitual - jogo de palavras).

De

A minha parte da verdade disse...


Esta questão é muito importante mas há outras que necessitam de respostas claras, e detalhadas, dos candidatos.
Eis duas ou três.
Que medidas têm para combater a economia paralela que não param de crescer.
A economia paralela em Portugal valia 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. São mais de 40 mil milhões de euros que não passam pelo fisco e que representam um crescimento de mil milhões de euros (2,5%) em relação a 2009, altura em que a economia subterrânea representava 24,2% do PIB.
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2242708&seccao=Dinheiro%20Vivo
O peso da economia paralela em Portugal subiu ligeiramente em 2013 para o valor recorde de 26,81% do produto interno bruto (PIB), equivalente a 45,9 mil milhões de euros.
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2014-12-10-Economia-paralela-em-Portugal-representa-60-do-emprestimo-pedido-a-troika
Que medidas propõem para o aumento da transparência na administração pública?
Como pensam estancar o cancro dos ajustes directos?
Ou de pagamentos sem visto prévio do T.Contas?
Não pretendem acabar com os consultores obrigando à utilização de recurso internos?