Os dois relatórios do Research on Money and Finance sobre a crise europeia e os cenários para a sua resolução, de que o Nuno Teles é co-autor, acabam de ser editados em livro na Grécia. É preciso difundir as boas ideias na periferia...
1 comentário:
João Carlos Graça
disse...
Caro João, obrigado pela informação. Caro Nuno, parabéns e muitíssimo obrigado. Vocês (o grupo dos relatórios de Março e de Setembro) prestaram-nos um serviço inestimável. Assinalo questões em que me parece haver alguma oscilação conceptual, como a de saber em que medida a subsequente recuperação das exportações pode ocorrer "caeteris paribus", ou seja com inflação e "monetização do défice", ou antes estar assente em políticas industriais dirigidas e requalificação dos sectores exportadores, acompanhadas de alterações no sistema fiscal, etc. Vocês defendem algures a primazia desta outra via, mas é óbvio que aceitam também a primeira, pelo menos transitoriamente. Isso significa, como é óbvio, uma tensão distributiva entre a "burguesia nacional" (para utilizar o velho jargão) e os assalariados. De qualquer forma, redefinir o jogo nessa outra frente equivale a dar alguma chance (sim, é um galicismo…) aos assalariados, enquanto no actual quadro é jogar-se sabendo que se perde sempre... As questões, como resulta da minha escrita "ao correr da pena", politizam-se assim muito rapidamente. Em Portugal, no meu entender, e para além da defesa intransigente de instrumentos como a proporcionalidade do sistema eleitoral (veja-se por contraste a catástrofe da Itália pós-1990), isso deverá significar a formação articulada dum "rassemblement" que não pode senão basear-se num entendimento fundador entre a actual área do BE e a da CDU. Ao nível do parlamento europeu, isto é, onde o jogo é a feijões, estas duas formações aparecem unidas. Menos mal assim. Mas ao nível interno, ou seja, onde se podem jogar politicamente os passes decisivos, é o panorama desmoralizador que está à vista. As actuais presidenciais, em que o BE aceitou mansamente ser cooptado (ou objecto de take-over hostil) logo à partida e em troca sabe-se lá de quê (talvez de nada, ou apenas de self-delusion), e em que o PC avança, para uma magistratura eminentemente "personalizada", com a candidatura do "militante anónimo" (com o devido respeito, e sem intenção de ofensa), isto é, com uma candidatura ela própria para desanimar, e nesse sentido para deixar o terreno aberto aos outros, expressa bem aquilo que quero dizer. Poucas vezes terá a esquerda, em Portugal, "atirado a toalha" tão cedo e sem que chegasse sequer a haver combate. Não mata, mas desmoraliza. Reconheço, porém, que isto já vai muito para além dos (inegáveis) méritos “económicos” dos relatórios. Foi, note, a vossa própria ênfase na necessidade de um complemento “político”, com a democratização da vida política, do aparelho de estado, da fiscalidade, etc. que suscitou esta minha outra pequena digressão…
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Caro João, obrigado pela informação.
Caro Nuno, parabéns e muitíssimo obrigado. Vocês (o grupo dos relatórios de Março e de Setembro) prestaram-nos um serviço inestimável.
Assinalo questões em que me parece haver alguma oscilação conceptual, como a de saber em que medida a subsequente recuperação das exportações pode ocorrer "caeteris paribus", ou seja com inflação e "monetização do défice", ou antes estar assente em políticas industriais dirigidas e requalificação dos sectores exportadores, acompanhadas de alterações no sistema fiscal, etc. Vocês defendem algures a primazia desta outra via, mas é óbvio que aceitam também a primeira, pelo menos transitoriamente. Isso significa, como é óbvio, uma tensão distributiva entre a "burguesia nacional" (para utilizar o velho jargão) e os assalariados. De qualquer forma, redefinir o jogo nessa outra frente equivale a dar alguma chance (sim, é um galicismo…) aos assalariados, enquanto no actual quadro é jogar-se sabendo que se perde sempre...
As questões, como resulta da minha escrita "ao correr da pena", politizam-se assim muito rapidamente.
Em Portugal, no meu entender, e para além da defesa intransigente de instrumentos como a proporcionalidade do sistema eleitoral (veja-se por contraste a catástrofe da Itália pós-1990), isso deverá significar a formação articulada dum "rassemblement" que não pode senão basear-se num entendimento fundador entre a actual área do BE e a da CDU. Ao nível do parlamento europeu, isto é, onde o jogo é a feijões, estas duas formações aparecem unidas. Menos mal assim. Mas ao nível interno, ou seja, onde se podem jogar politicamente os passes decisivos, é o panorama desmoralizador que está à vista. As actuais presidenciais, em que o BE aceitou mansamente ser cooptado (ou objecto de take-over hostil) logo à partida e em troca sabe-se lá de quê (talvez de nada, ou apenas de self-delusion), e em que o PC avança, para uma magistratura eminentemente "personalizada", com a candidatura do "militante anónimo" (com o devido respeito, e sem intenção de ofensa), isto é, com uma candidatura ela própria para desanimar, e nesse sentido para deixar o terreno aberto aos outros, expressa bem aquilo que quero dizer. Poucas vezes terá a esquerda, em Portugal, "atirado a toalha" tão cedo e sem que chegasse sequer a haver combate. Não mata, mas desmoraliza.
Reconheço, porém, que isto já vai muito para além dos (inegáveis) méritos “económicos” dos relatórios. Foi, note, a vossa própria ênfase na necessidade de um complemento “político”, com a democratização da vida política, do aparelho de estado, da fiscalidade, etc. que suscitou esta minha outra pequena digressão…
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