quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O paradoxo da banca nacional

Um dia depois da emissão razoavelmente bem sucedida de dívida pública, vale a pena olhar um pouco para onde está o principal risco da economia portuguesa: a banca. Não falo dos buracos do BPN ou do BPP, mas sim dos grandes bancos portugueses, aqueles que continuam a dar milhões de lucro todos os anos. Ontem, o Financial Times deu conta da crescente dependência dos bancos nacionais do financiamento do Banco Central Europeu: 40 mil milhões de euros só em Dezembro. Como podem ser os nossos lucrativos bancos ser um problema?

O que esta dependência mostra é a total incapacidade dos bancos portugueses em se financiar nos mercados de capitais, a cujas taxas de juro (Euribor) estão indexados a maioria dos contratos de empréstimos dos portugueses. Ou seja, se não fosse a ajuda directa do BCE (impedida aos estados), os bancos portugueses já tinham ido (todos?) ao charco. Porquê é que os bancos portugueses não conseguem financiar-se? Ao contrário do que é o senso comum, o problema do endividamento da economia portuguesa da última década está concentrado no sector privado, particularmente no sector financeiro. Os gráficos abaixo mostram esta evolução. No total bruto de dívida portuguesa, o sector financeiro passou de 20% de todo o endividamento nacional para quase 40% (o Estado curiosamente reduziu, em termos relativos, o seu peso no endividamento).

Os bancos, graças à liquidez proporcionada pelo BCE a baixo custo, conseguem margens superiores nos seus empréstimos, indexados à Euribor. Não que esta seja uma situação desejada. Os empréstimos do BCE são de curtíssimo prazo quando comparados com os concedidos aos particulares (30 anos é um prazo normal na habitação) e são apresentados como excepcionais. Mas, enquanto o pau vai e vem, as costas folgam, e os bancos procuram recapitalizar-se com os seus chorudos lucros de forma a conseguirem uma posição mais favorável nos mercados. No entanto, com o previsível aumento do crédito mal-parado, devido à recessão e aumento do desemprego, o mais provável é que a posição dos bancos se venha a degradar no actual contexto. Isto pode acabar mal...



1 comentário:

Anónimo disse...

Quanto representa a dívida das PPP's do sector privado, que no fundo são dívidas de obras públicas disfarçadas como privadas ? A dívida de empresas públicas como a Parque Escolar, Estradas de Portugal, etc, estará convenientemente contabilizada como dívida pública nas nossas contas nacionais ?