quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tempo de heterodoxias

A economia da Islândia do incumprimento da dívida, dos controlos de capitais e da desvalorização cambial está a recuperar. Só a heterodoxia económica funciona. Não admira por isso que o historiador económico irlandês Kevin O'Rourke, co-autor de Power and Plenty, tenha escrito uma Carta de Dublin, terminando a defender que a Islândia, ao optar democraticamente pelo incumprimento da dívida, “é um modelo óbvio para nós”. O’Rourke sublinha a maciça e assimétrica transferência de custos sociais da crise para os cidadãos irlandeses. Tal transferência, engendrada pela Comissão e pelo BCE, com a cumplicidade de um governo que viu aprovado mais um orçamento de desastre, foi desenhada para tentar salvar os credores, o capital financeiro dos países centrais, e assegura mais recessão e desemprego na Irlanda e nas periferias. Esta é a face da União Europeia hoje existente, um projecto bloqueado e, na ausência de alterações radicais na sua configuração, sem qualquer futuro. Meegan Grene, analista da Irlanda da Economist Inteligence Unit, defende, em artigo no Financial Times, que a Irlanda saia do euro. Costas Lapavitsas, Eugénia Pires e Nuno Teles já tinham apontado, em artigo no Público de 28 de Março, esse cenário como a segunda alternativa das periferias perante uma União que seria politicamente incapaz de criar um verdadeiro governo económico solidário do euro: “A segunda alternativa para os países periféricos é o abandono da zona euro, que resultaria na desvalorização das moedas nacionais, reestruturação da dívida denominada em moeda estrangeira e imposição de controlos de capitais. Para proteger a economia, a banca teria de ser nacionalizada e o controlo público alargado aos sectores estratégicos. Neste contexto, uma política industrial, promotora do aumento da produtividade, seria crucial.”

7 comentários:

Xico Burro disse...

Já no "venderam" como exemplos, só nos últimos tempos, a Finlândia, depois a Irlanda, depois, outra vez a Irlanda (tinha errado mas tinha corrigido pela raíz!!), agora será a vez da Islândia?. O Sistema é o mesmo mas os portugueses são (porquê?) efectivamente muito diferentes do Finlandeses no seu comportamento individual e, naturalmente, no colectivo.Também me convenço que os portugueses não conseguirão conviver com a UEM até porque não faltará muita gente a segredar-lhes que o problemas não têm origem neles mas no espartilho do Euro. Já agora deveriam dizer-lhes, aos portugueses, o que os espera após a saída da UEM e consequentemente a UE, não esquecendo que muitos dos tais credores são portugueses que não se deixaram ir no canto da sereia e cometeram o crime de limitar os consumos pensando estar a garant5ir um futuro mais tranquilo, pelos vistos vai-lhe acontecer o que aconteceu à pequena classe média nos anos setenta, que não foi expropriada mas foi espoliada, sem direito a indemnização como o Champalimaud.
Nacionalizações e controlo público (quer dizer por Super-Boys) de sectores estratégicos para proteger a economia e promover a produtividade ... que nós já experimentámos com imenso sucesso! O que Portugal precisa é de uma elite, empresarial, sindical e política!
Ah, não esqueçam que no regresso ao passado iria faltar uma componente essencial, determinante nos anos setenta e oitenta: As famosas remessas provenientes da França, Alemanha Suíça etc. O que se irá passar, ou está já a passar, é um movimento de retirada, uma espécie de movimento à Cantona.

tempus fugit à pressa disse...

a última vez que a banca foi nacionalizada a família perdeu uns trocos valentes as poupanças de 50 anos minguaram substancialmente

se calhar a homodoxia era preferível há hetero

ortodoxia paradoxia

a choldradoxiaparecia-me melhor

mas infelizmente não há boys
a entrarem nesse caminho

arrepanhem-se os milhares de milhões que muitos políticos puseram em paraísos fiscais

e pagam-se 2 dívidas

tempus fugit à pressa disse...

acho que nem ao manel godinho
vai à choldradoxia

José Luiz Sarmento disse...

O que Portugal tem é uma elite quasi-feudal, uma oligarquia financeira como tinha a Islândia.

Parte da oligarquia islandesa está agora na pildra, e a outra parte está notificada de que tem que pagar a crise, já que a provocou.

A Islândia está a recuperar a uma velocidade estonteante.

Em Portugal e na Irlanda ninguém ousa beliscar as respectivas oligarquias. A consequência é que nos vamos afundar cada vez mais na merda.

Luís Lavoura disse...

A imposição de controlos de capitais seria bastante difícil nos tempos que correm. Implicaria coartar a liberdade de movimentos dos cidadãos (para impedir que as pessoas saíssem do país com os bolsos cheios de dinheiro). Implicaria dificultar brutalmente as importações, que hoje em dia são vitais em certos setores, pois que seria moroso justificar cada transferência de dinheiro para pagamentos ao estrangeiro. Implicaria custos brutais em matéria de investimento estrangeiro (ninguém queer investir numa país de onde tem dificuldade em tirar o dinheiro).

José M. Castro Caldas disse...

Sobre os controlos de capitais e sua utilização muito frequente, até por recomendação do FMI, há um artigo muito bem feito na wikipedia

http://en.wikipedia.org/wiki/Capital_control

Tânia Mealha disse...

Fala-se em nacionalizações e aí vem o papão, as criancinhas que são comidas ao pequeno almoço, etc.
Quando o estado assume as dividas de um banco privado não há problema algum, nacionalizá-lo é que não. Só tem direito a pagar a factura dos investimentos de risco efectuados por quem de livre vontade escolheu fazê-los. Quanto ao Champalimaud esse foi muito bem ressarcido de bens, pelos governos ps pós 25 abril. Bens esses que só teve porque explorou uma data de indivíduos o que permitiu acumular furtuna pois pagava mal e porcamente a força de trabalho desses indivíduos. O problema deste pais não são apenas os políticos, são os indivíduos que contínuam a votar nos mesmos que nos trouxeram onde estamos hoje e esses não acreditam em estado social nem querem estado social. Sócrates continua a ganhar as eleições só porque sim! Ganha porque há n pessoas que de revêm nele. É preciso mudar mentalidades, urgentemente.